Síria, vai que vai
Entre as opções intervencionistas, está um ataque punitivo americano (curto e grosso) contra o regime criminoso pelo seu uso de armas químicas na guerra civil (ok, o editorial da Economist é cauteloso e fala em “uso aparente”). Até tal opção está no sufoco para conseguir apoio, com tanta resistência contrária. Soluções mais agressivas perderam o prazo de validade e carecem de respaldo, algo no estilo de um assalto da pesada para tentar derrubar Bashar Assad. Talvez, um ano atrás.
O batalhão de “realpoltiikeiros” adverte que a opção mais prudente é cruzar os braços e evitar desastres da escala iraquiana. Mas como tolerar as ações do meliante? Alguma coisa precisa ser feita. Concordo que tal exasperação carece de solidez estratégica. Mas aí a culpa foi do Mr. Obama. Este presidente, supostamente cerebral, relutante para para ir à guerra, num impulso decidiu desenhar uma linha vermelha que não poderia ser cruzada por Assad no caso do uso de armas químicas. Obama colocou sua credibilidade em jogo, a do seu país. Vai amarelar? Agora, vai que vai.
Que vexame para o tal do líder do mundo livre. Obama, o guerreiro infeliz, na expressão da capa da revista Time. O que Churchill acharia de Obama? O que o buldogue da Segunda Guerra Mundial acharia do compatriota David Cameron, humilhado no Parlamento, num voto sobre intervenção na Síria?
Mr. Blinder acha um monte de coisas, mas ele precisa reconhecer algumas boas verdades ditas por Lady History. Ela fala aqui através de Robin Wright, uma tarimbada jornalista e escritora americana, que já circulou muito pelo Oriente Médio. Ela lembra o essencial: dar um tranco (como um lançamento maciço de mísseis) raramente atinge objetivos políticos duradouros e frequentemente produz mais custos ou consequências não planejadas do que benefícios. As lições da história são bipartidárias.
Há 30 anos, o presidente republicano Ronald Reagan deteminou que fuzileiros navais americanos, integrantes de uma força de paz na guerra civil libanesa, abrissem fogo contra uma milícia islâmica em Beirute. Semanas mais tarde, em 23 de outubro de 1983, dois caminhões-bomba irromperam nos quarteis das forças militares norte-americanas e francesas: 299 mortos nos atentados suicidas do grupo Jihad Islâmica. As tropas americanas e dos seus aliados europeus estacionadas no Libano durante a guerra civil bateram em retirada quatro meses depois. O Líbano deu muitas voltas e amarga novamente o risco de guerra civil.
Para encurtar a história, os últimos cinco presidentes americanos recorreram a ataques limitados com mensagens específicas em distintos buracos quentes do mundo e o resultado foi triste. Nas palavras de Robin Wright, “a ideia de golpes rápidos ou campanhas curtas é geralmente uma ilusão. Uma exceção foi a campanha aérea que contribuiu para a queda do ditador líbio Muamar Khadafi em 2011. Ataque bem sucedido, mas sem um bom plano para ajudar a Líbia na sua reconstrução. Robin Wright arremata que alguns dias de punição de Bashar Assad podem acalmar a indignação moral (como a do Mr. Blinder), mas abrir riscos de proporções imprevisíveis.
A história vai se repetir como tragédia ou como farsa? Poderá ter um final feliz? O indignado Mr. Blinder guerreia a metódica Lady History. Agora é esperar o tranco no meliante. Por enquanto, quem levou foi o Mr. Obama, o guerreiro infeliz, perdido no mato sem cachorro e sem o David Cameron.
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