A última esperança
Na semana passada, a Tunísia parecia caminhar para o caos que engoliu o Egito. A oposição secular foi às ruas para exigir a renúncia do governo islamista. A Assembleia Constituinte suspendeu os trabalhos. O Estado parou. Esta semana, todas as partes em disputa estão se consultando e o país pode evitar a catástrofe. Como é possível?
Os tunisianos não gostaram da analogia com o Egito, que, para eles, é um gigantesco caldeirão de extremismo e irracionalidade. Contudo, os políticos da Tunísia têm se mostrado tão refratários e paralisados nos últimos meses quanto os do Egito. A oposição acusa o governo liderado pelo partido islamista Ennahda de incompetente e irresponsável. O assassinato de dois opositores, no início do ano, causou insegurança e abatimento. A economia entrou em colapso.
A oposição secular olha para os islamistas com as mesmas suspeitas apocalípticas que a Irmandade Muçulmana do Egito provocou. Embora o Ennahda lidere um governo de coalizão com dois partidos não islamistas, Zied Miled, ex-membro de um dos partidos, o Ettakatol, diz que os parceiros seculares servem de fachada para um controle islamista do Estado. E, apesar de o governo, finalmente, ter adotado medidas para coibir a violência extremista, Miled insiste que "o Ennahda e os salafistas são iguais".
Na Tunísia, como no Egito, a retórica envenenou o clima político. A demanda para que governo e Constituinte sejam dissolvidos demonstra que a oposição não confia mais nos processos democráticos tanto quanto o governo. Sejam quais forem os riscos com os quais a Tunísia se depara, não há chance de um golpe como no Egito.
A maior diferença é que o Egito tem um Exército politizado e agressivo. A Tunísia não - o país tem apenas 27 mil soldados mal equipados. Por disso, as forças de segurança tunisianas não constituem "um Estado dentro do Estado", como ocorre com os militares egípcios. Os líderes da Tunísia continuam a dialogar porque não há alternativas.
Na semana passada, com a crise chegando ao ápice, Rachid Ghannouchi, líder do Ennahda, reuniu-se secretamente em Paris com Beji Caid Essebsi, líder do partido secular Nida Tounes e um de seus mais duros críticos. De volta a Túnis, Ghannouchi consultou o líder do maior sindicato do país, o UGTT. Os dois concordaram em promover um "diálogo nacional", conduzido pelo sindicado. Para isso, o UGTT estabeleceu precondições , entre elas a dissolução do governo e, com isto, descartou a possibilidade de resolução da crise.
A situação ainda é muito confusa na Tunísia. Em seu encontro com Essebsi, Ghannouchi propôs oferecer à oposição quatro ministérios. Até o momento, o Ennahda insiste no diálogo, que vem sendo rejeitado pela oposição.
A oposição, porém, terá de fazer concessões. Do mesmo modo que a substituição do atual governo por um comitê de tecnocratas foi uma proposta inegociável para eles, também a manutenção da Constituinte é crucial para o governo. A Assembleia é um órgão eleito em que os islamistas desfrutam de uma pluralidade. Existe espaço para um compromisso se o Ennahda aceitar indicar um comitê de especialistas constitucionais para propor mudanças no atual projeto, entre outras ações.
Os políticos tunisianos são menos polarizados do que os egípcios, embora seja claro que isto não importa muito. Os islamistas são menos islamistas. Mohamed Morsi era um funcionário de mente tacanha, ao passo que Ghannouchi é um importante filósofo islâmico
Desde o início, o Ennahda concordou que a nova Constituição não estabeleceria a lei islâmica e removeu passagens ofensivas às mulheres e à "entidade sionista". As chances de uma reconciliação na Tunísia são muito maiores do que as do Egito.
A falta de coragem e de visão política pode não ser fatal na Tunísia como tem sido no Egito. Você não consegue desfazer um golpe, a morte de mais de mil pessoas, o incêndio de igrejas ou todo o ódio que tudo isso engendrou. Quando forças democráticas usam o Exército como instrumento de disputa política, na verdade, estão empunhando uma arma contra si próprias.
Os secularistas do Egito se enganaram ao acreditar que trouxeram o Exército para o seu lado. Na verdade, o Exército recapturou o Estado. O Egito tem uma guerra em suas mãos. A Tunísia tem somente uma guerra de palavras.
Os tunisianos não gostaram da analogia com o Egito, que, para eles, é um gigantesco caldeirão de extremismo e irracionalidade. Contudo, os políticos da Tunísia têm se mostrado tão refratários e paralisados nos últimos meses quanto os do Egito. A oposição acusa o governo liderado pelo partido islamista Ennahda de incompetente e irresponsável. O assassinato de dois opositores, no início do ano, causou insegurança e abatimento. A economia entrou em colapso.
A oposição secular olha para os islamistas com as mesmas suspeitas apocalípticas que a Irmandade Muçulmana do Egito provocou. Embora o Ennahda lidere um governo de coalizão com dois partidos não islamistas, Zied Miled, ex-membro de um dos partidos, o Ettakatol, diz que os parceiros seculares servem de fachada para um controle islamista do Estado. E, apesar de o governo, finalmente, ter adotado medidas para coibir a violência extremista, Miled insiste que "o Ennahda e os salafistas são iguais".
Na Tunísia, como no Egito, a retórica envenenou o clima político. A demanda para que governo e Constituinte sejam dissolvidos demonstra que a oposição não confia mais nos processos democráticos tanto quanto o governo. Sejam quais forem os riscos com os quais a Tunísia se depara, não há chance de um golpe como no Egito.
A maior diferença é que o Egito tem um Exército politizado e agressivo. A Tunísia não - o país tem apenas 27 mil soldados mal equipados. Por disso, as forças de segurança tunisianas não constituem "um Estado dentro do Estado", como ocorre com os militares egípcios. Os líderes da Tunísia continuam a dialogar porque não há alternativas.
Na semana passada, com a crise chegando ao ápice, Rachid Ghannouchi, líder do Ennahda, reuniu-se secretamente em Paris com Beji Caid Essebsi, líder do partido secular Nida Tounes e um de seus mais duros críticos. De volta a Túnis, Ghannouchi consultou o líder do maior sindicato do país, o UGTT. Os dois concordaram em promover um "diálogo nacional", conduzido pelo sindicado. Para isso, o UGTT estabeleceu precondições , entre elas a dissolução do governo e, com isto, descartou a possibilidade de resolução da crise.
A situação ainda é muito confusa na Tunísia. Em seu encontro com Essebsi, Ghannouchi propôs oferecer à oposição quatro ministérios. Até o momento, o Ennahda insiste no diálogo, que vem sendo rejeitado pela oposição.
A oposição, porém, terá de fazer concessões. Do mesmo modo que a substituição do atual governo por um comitê de tecnocratas foi uma proposta inegociável para eles, também a manutenção da Constituinte é crucial para o governo. A Assembleia é um órgão eleito em que os islamistas desfrutam de uma pluralidade. Existe espaço para um compromisso se o Ennahda aceitar indicar um comitê de especialistas constitucionais para propor mudanças no atual projeto, entre outras ações.
Os políticos tunisianos são menos polarizados do que os egípcios, embora seja claro que isto não importa muito. Os islamistas são menos islamistas. Mohamed Morsi era um funcionário de mente tacanha, ao passo que Ghannouchi é um importante filósofo islâmico
Desde o início, o Ennahda concordou que a nova Constituição não estabeleceria a lei islâmica e removeu passagens ofensivas às mulheres e à "entidade sionista". As chances de uma reconciliação na Tunísia são muito maiores do que as do Egito.
A falta de coragem e de visão política pode não ser fatal na Tunísia como tem sido no Egito. Você não consegue desfazer um golpe, a morte de mais de mil pessoas, o incêndio de igrejas ou todo o ódio que tudo isso engendrou. Quando forças democráticas usam o Exército como instrumento de disputa política, na verdade, estão empunhando uma arma contra si próprias.
Os secularistas do Egito se enganaram ao acreditar que trouxeram o Exército para o seu lado. Na verdade, o Exército recapturou o Estado. O Egito tem uma guerra em suas mãos. A Tunísia tem somente uma guerra de palavras.
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