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Manifestações viram assunto em salas de aula

Professores incentivam alunos a discutir sobre protestos que têm acontecido nas maiores cidades brasileiras

Aluno teria mais interesse na escola se pudesse escolher disciplinas com as quais se identifica
Docentes tentam abordar manifestações com uma perspectiva histórica do Brasil
A onda de manifestações que tomou o Brasil chegou aos colégios. Além de dominarem a conversa dos jovens, os protestos motivaram uma programação oficial das escolas, que têm promovido atividades para discutir mobilidade, política, movimentos sociais, mobilização digital, partidos políticos, representatividade, ditadura, imprensa e até literatura e cinema. Tudo tem sido tema de debates nas salas de aula.
Tentar entender os atos e a importância dos atores envolvidos é a tônica das atividades dentro dos colégios, com a participação de alunos do ensino fundamental e, sobretudo, do médio. Assim como nas ruas, os jovens é que têm tido o papel mais ativo nos debates. Até porque muitos deles participaram de alguns dos atos, que começaram com a reivindicação contra o aumento da tarifa de ônibus e depois tiveram uma proliferação de pautas, indignações e causas de protesto.
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"Tudo isso rapidamente virou tema na sala, o que fizemos foi organizar esse debate e puxar os links necessários para uma boa reflexão", diz o professor de história Luis Fernando Massa, do Colégio Ofélia Fonseca, de Higienópolis, zona oeste de São Paulo. "Cidadania é um grande tema transversal, mas há também conteúdos específicos, que vão de movimentos sociais do século XIX na Europa a revoltas pelo Brasil." Ditadura militar e manifestações no Oriente Médio — que foram chamadas de Primavera Árabe — também têm espaço nas conversas.
O estudante Luis Gerodetti, de 16 anos, acompanhou uma das manifestações — além de participar das discussões nas redes sociais e nas aulas no Ofélia. "Nos encontros, a gente entendeu que a queda no preço da passagem foi um passo. Mas não adianta querer tudo ao mesmo tempo", disse ele aos colegas Guilherme, Amanda e Caio, todos de 17 anos. Para eles, que estão no 3º ano do ensino médio, a internet é a fonte mais confiável para se informar sobre os protestos. "As TVs só mudaram o enfoque, apoiando os atos por causa da audiência", diz Amanda.
A máscara do filme V de Vingança, que apareceu em diversas cenas nos últimos dias, também tem sido vista nos corredores da escola. "É meio que um símbolo de ativismo, nem todos que estão com a máscara vão para vandalizar", afirma o estudante Luca Scuracchio, de 15 anos, dono de uma dessas máscaras.
Imprensa — Em um movimento que ganhou proporções nas redes sociais, a análise da imprensa ganhou destaque entre os alunos. A comparação de notícias foi uma das principais atividades do Colégio São Judas Tadeu, na Mooca, zona leste de São Paulo. "Estamos pegando os editoriais, textos de colunistas e fazendo comparações para entender como os meios de comunicação estão abordando as manifestações, tentando ver o que está por trás do que vira notícia", diz a professora de história Mônica Broti.
Ela explica que, do ponto de vista pedagógico, a abordagem tenta abarcar toda a problemática com um foco histórico, tendo em vista as manifestações que o Brasil já teve. "Fizemos também comparações com fotos da Praça da Sé no movimento das Diretas Já e das passeatas no impeachment do ex-presidente Collor, ampliando o debate."
Para a estudante do 9° ano do ensino fundamental, Victória Donato Ribeiro, de 13 anos, esse tem sido um momento histórico para a juventude, uma oportunidade de, assim como jovens de outras épocas, deixar sua marca. "Temos conversado muito sobre isso, que os jovens fazem a diferença. Porque a gente acreditou", diz ela. "Eu tenho gostado bastante. O governo não tem de mudar tudo, o povo tem de decidir. Os políticos não são mais povo, só ligam pra eles mesmos."
O Colégio Equipe, também em Higienópolis, tem incentivado o protagonismo e a reflexão dos estudantes. A escola montou um painel com várias reportagens com leituras diferentes sobre a manifestação, de modo a incentivar a troca de ideias sobre o que está acontecendo. "A intenção é que todos os alunos, ao longo da semana, alimentem o painel e realizem um debate com convidados", explica a diretora Luciana Fevorini. Na próxima quinta-feira, integrantes do Movimento Passe Livre vão participar dos debates. Pelo menos dois dos líderes desse movimento estudaram no Equipe.

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