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À comissão, Delfim afirma que desconhecia prática de tortura no País

Em depoimento ao colegiado da Câmara de Vereadores de São Paulo, ex-ministro também negou saber sobre financiamento dos órgãos da repressão por empresário

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O economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto negou nesta terça-feira, 25, ter conhecimento de qualquer esquema de financiamento dos órgãos da repressão por empresários, nos anos da ditadura militar. Em depoimento perante a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, o ex-ministro também disse que não sabia que dissidentes políticos eram submetidos a torturas em instituições policiais e militares.

Delfim dirigiu o Ministério da Fazenda entre 1964 e 1967. Em dezembro de 1968 foi um dos signatários do Ato Institucional 5, que restringiu ainda mais as liberdades democráticas no País e causou o recrudescimento das perseguições políticas. Em seu depoimento, ele disse que, se a situação fosse a mesma, voltaria a assinar o ato.
Foi no período em que Delfim estava à frente do ministério que um grupo de empresários de São Paulo se reuniu para coletar fundos destinados a financiar a Operação Bandeirantes, organização paramilitar, que mais tarde desaguaria no DOI-Codi. Segundo relato do jornalista Elio Gaspari, autor de livros sobre o período, citado pelos vereadores da comissão, Delfim Netto sabia dessa articulação e chegou a participar de reuniões com os empresários.
Delfim negou insistentemente qualquer conhecimento da ação do grupo e chegou a manifestar dúvidas quanto à sua existência. "Eu não sei de nada disso. Vocês deveriam perguntar ao Elio Gaspari, que é um grande jornalista." O economista afirmou que a área de administração civil no governo era isolada da área militar. "A administração econômica sempre foi de civis. Nunca tive nada a ver com os militares", afirmou. "O processo militar era totalmente à parte. Nunca ouvi nada dentro do governo sobre casos de tortura."
Diante de informações de torturas que estariam ocorrendo em instituições do Exército, Delfim, segundo seu depoimento, foi até o presidente da República na época, Emilio Garrastazu Médici, e pediu esclarecimentos. "Ele me disse que não havia nada", contou. Os integrantes da comissão criticaram o depoimento do ex-ministro. "Como é que um homem com a capacidade intelectual dele, o poder e as ligações que tinha, pode dizer que não sabia do que ocorria nos porões da ditadura?", peguuntou o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão. "Qualquer pessoa mais antenada sabia disso."
O vereador Ricardo Young (PPS) também contestou o ex-ministro. "O senhor era extremamente bem relacionado com os militares e os civis", disse ele ao ex-ministro. "Se tomarmos como verdade o que disse, vamos obscurecer a história. Eu acho que sua biografia merecia um depoimento melhor do que este que o senhor deu aqui."
Na saída, o ex-ministro disse que considera positivas as manifestações de protesto que estão ocorrendo no País. Mas ressaltou que elas não têm relação com as que ocorriam em 1968, quando, para aumentar o poder da repressão, a ditadura recorreu ao AI-5. "Naquela época o objetivo era destruir o País."

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