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Zona do euro gerou US$ 1 tri para a Alemanha em comércio exterior


16 de maio de 2012 | 12h54



Mais de US$ 1 trilhão entrou na Alemanha desde a criação da moeda única (1999) até 2010 por meio do comércio de bens com seus colegas do euro, mostram dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) compilados pelo Radar Econômico. O número indica que a nação germânica foi a mais beneficiada pela moeda comum no comércio exterior, em valores absolutos.
Em 1998, quando os alemães ainda usavam o marco, seu superávit comercial junto às nações que mais tarde adotariam o euro era de apenas US$ 29 bilhões. Em 2008, já com a divisa comum, o saldo atingiu US$ 177 bilhões, número sete vezes maior. O valor caiu a partir de 2009 por causa da crise originada nos Estados Unidos, mas ainda assim permaneceu bem acima do nível verificado nos tempos do marco, como mostra o gráfico abaixo.
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Não por mera coincidência, a escalada das exportações alemãs ocorreu principalmente em cima de países que mais tarde se tornaram o foco da crise europeia. De 1998 a 2008, o superávit comercial da Alemanha com a Espanha aumentou 11 vezes; com a Itália, 8,6 vezes; com Portugal, 7 vezes; com a Grécia, 3,5.
Somente em cima da Espanha, a Alemanha ganhou US$ 270 bilhões no comércio de bens de 1999 a 2010. Sobre a França, os alemães acumularam um saldo de US$ 328 bilhões (No entanto, os franceses são a segunda maior economia da zona do euro e por isso não sentiram tanto essa perda.)
Abaixo, quanto a Alemanha ganhou em superávit comercial com outros países da zona do euro, de 1999 a 2010.
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Não é à toa, portanto, que a Alemanha não defendeu, até agora, a saída de nenhum país da zona do euro. Isso só ocorrerá se a situação ficar insustentável, ou seja, se o país achar que o que ele ganha no comércio exterior não compensa o que perde no caso de ser contaminado por uma crise financeira originada nos seus vizinhos.
Alguém pode se perguntar como a Irlanda, um país fortemente atingido pela crise, conseguiu impor um déficit comercial à Alemanha. O Wall Street Journal já explicou isso. A ilha atrai empresas de toda a Europa por causa de impostos baixos. As multinacionais transferem dinheiro para suas subsidiárias irlandesas como se estivessem importando delas, o que infla a balança comercial do país. Depois, trazem o mesmo dinheiro de volta para a matriz na forma de remessa de lucro. Os números do comércio exterior da Irlanda, portanto, ficam distorcidos.
Austeridade insuficiente
Os dados mostram por que a austeridade fiscal, sozinha, não salva nenhum país da crise do euro. A Espanha, por exemplo, mantinha suas contas públicas em ordem desde a criação da moeda europeia. Na verdade, a partir de 2002 tornou-se mais prudente até do que a Alemanha. Foi somente em 2008, após a crise dos Estados Unidos, que a Espanha descambou.
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Briga entre desiguais
A criação da zona do euro colocou na mesma arena economias completamente desiguais. Enquanto existiam moedas diferentes, a taxa de câmbio ajudava os mais fracos a manter algum grau de competitividade. Quando a Espanha começava a importar muito da Alemanha, a peseta se desvalorizava em relação ao marco. Com isso, os produtos alemães ficavam mais caros para os consumidores espanhóis, de modo que estes passavam a importar menos.
Com o euro, no entanto, os espanhóis, entre outros europeus da periferia, continuavam com poder de compra alto mesmo enquanto sua indústria perdia espaço para as empresas alemãs. Tanto as empresas como os consumidores de países periféricos conseguiam tomar dinheiro emprestado facilmente no mercado, com as taxas relativamente baixas determinadas pelo Banco Central Europeu. Isso mantinha a produção e o consumo em um ritmo razoável, sustentando o Produto Interno Bruto.
Com moeda forte, os países da periferia europeia passaram a importar mais também de nações não europeias. O gráfico abaixo mostra que a Alemanha reina isolada quando o assunto são as contas externas. O país é o único, entre as grandes economias europeias, que conta com um superávit nas transações com o resto do mundo. Note-se que esse saldo positivo aumentou barbaramente depois da adesão ao euro. Inversamente, nas demais economias esse saldo ficou negativo.
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Quando veio a crise de 2008 o crédito secou, num momento em que as companhias e as famílias da periferia europeia estavam endividadas. Até se poderia dizer que elas foram imprudentes ao tomar dinheiro no mercado, mas o fato é que o Banco Central Europeu mantinha taxas de juros em níveis relativamente baixos. Mas quando os bancos pararam de emprestar, as companhias ficaram com dificuldade para rolar a dívida. Ainda, o financiamento imobiliário caiu, derrubando os preços dos imóveis e revelando o estouro de uma bolha.
O governo espanhol, até então disciplinado e austero, teve que escolher entre deixar o mercado se equilibrar por si só – com todas as consequências sociais previsíveis e imprevisíveis – ou abrir os cofres públicos. Optou por injetar 146 bilhões de euros no mercado financeiro, arcar com o aumento de gastos sociais – por exemplo, para suprir o aumento da demanda por auxílio-desemprego – e ainda lançar pacotes para estimular a economia.
Com isso, o governo da Espanha, que em 2007 gastava menos do que arrecadava, em 2009 desembolsou 117 bilhões de euros a mais do que arrecadou. Isso fez as contas públicas do país piorarem, gerando medo, nos mercados, de um calote na dívida do Estado. A consequência é que os investidores passaram a cobrar juros mais altos para emprestar à Espanha, tornado ainda mais difícil, para o país, rolar sua dívida.
Situação parecida enfrentou a Grécia, mas a Espanha é um exemplo mais interessante porque mostra que o bom aluno também é punido. Para usar a moeda europeia, não basta fazer a lição de casa da austeridade fiscal. É preciso estar preparado para enfrentar a competitiva indústria alemã. Mas se aparecer alguém à altura, o país germânico é que se tornará a próxima vítima. Um caminho mais sensato seria uma união fiscal, se nenhum europeu se importasse em ver seus impostos sendo usados para cobrir gastos em outros países

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