Pular para o conteúdo principal
Integrantes divergem sobre foco de investigações

Enquanto alguns membros defendem que o colegiado investigue exclusivamente os agentes públicos, outros querem incluir eventuais crimes cometidos por guerrilheiros ou militantes de grupos de esquerda

Laryssa Borges
Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de Instalação da Comissão Nacional da Verdade, no Palácio do Planalto Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de Instalação da Comissão Nacional da Verdade, no Palácio do Planalto (Roberto Stuckert Filho/PR)
Os integrantes da Comissão Nacional da Verdade ainda divergem sobre o recorte que será dado à investigação de violações de direitos humanos no período da ditadura. Depois da solenidade que empossou os responsáveis por apurar abusos ocorridos entre os anos de 1946 e 1988, o ex-procurador-geral da República, Claudio Fonteles, defendeu que o colegiado investigue exclusivamente os agentes públicos responsáveis por torturas ou desaparecimento de pessoas e se abstenha de verificar eventuais crimes cometidos por guerrilheiros ou militantes de grupos de esquerda.
Leia também: Lula, FHC e Collor se juntam pela Comissão da Verdade
“Essa comissão é fruto de uma lei que reconheceu que o estado brasileiro violou direitos humanos através de servidores públicos”, afirmou Fonteles. Ele também defendeu que seja ouvida a versão de militares sobre episódios ocorridos nos anos de chumbo. “Temos que nos acostumar a conviver com a diferença em nível elevado, sentados à mesa, com tranquilidade. É fundamental que apuremos ouvindo todo mundo. Não há verdade em solução ditatorial, arbitrária, em que se usa a força”.
Para José Carlos Dias, que falou em nome do colegiado durante a cerimônia de posse, “é fundamental entender que abusos porventura cometidos por cidadãos não justificam os atos de violência praticados por agentes e mandatários de estado”. “A instalação dessa Comissão da Verdade significa um passo relevante para a consolidação da sociedade democrática brasileira, virando uma página dolorosa de nossa história, quando liberdades foram suprimidas e direitos aviltados contra os que ousaram”, disse. “Haveremos de dar respostas às expectativas e esperanças. Não somos donos da verdade, mas seremos seus perseguidores obstinados”.
Em sentido contrário, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp, indicado para coordenar os trabalhos do grupo durante a fase de instalação dos trabalhos, afirmou que “toda violação aos direitos humanos” pode ser alvo de investigação da comissão. “O artigo primeiro da lei refere que toda a violação a direitos humanos poderá ser examinada pela comissão”, declarou, fazendo a ressalva de que as conclusões do colegiado não poderão servir como base para processos judiciais.
O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, que também compõe o grupo, disse que os integrantes da comissão ainda precisam conversar entre si para delimitar o foco das investigações. “Não tivemos tempo para conversar”, explicou. “Vamos ficar em silêncio e acertar as divergências”.
Farão parte da Comissão Nacional da Verdade o ex-procurador-geral da República, Claudio Fonteles, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp, o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, a psicanalista Maria Rita Kehl, o advogado José Paulo Cavalcanti Filho, o diplomata Paulo Sergio Pinheiro e a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, que chegou a defender Dilma durante os anos de ditadura.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular