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Por que o mundo teme a saída da Grécia do euro

Mais instabilidade nos mercados, prejuízos com títulos, dólar em alta e temor de contaminação generalizada estão nas previsões de economistas

Crise da economia e finanças da Grécia Tensão nos mercados é reflexo do temor de que o país deixe a zona do euro ( Louisa Gouliamaki/AFP)
A decisão que pode ser tomada até o fim de junho implicará não apenas o fim da ajuda financeira da União Europeia (UE), mas terá efeitos catastróficos sobre a zona do euro
Muita incerteza e tensão. Esse será o cenário que o mundo viverá se a Grécia deixar a zona do euro, alertam economistas ouvidos pelo site de VEJA. Nesta quarta-feira, agências de notícias internacionais apontaram que os líderes do Eurogrupo concordaram num pacto para que cada nação da união monetária prepare um plano de contingência ante a saída iminente dos gregos do bloco. A informação foi negada por Atenas, mas, de qualquer forma, dá o tom de nervosismo que toma conta das finanças internacionais.
A possível derrocada da Grécia seria reflexo, dizem os especialistas, de uma eventual falha em resolver no curto prazo o impasse político que se instalou em Atenas. O cenário não é nada improvável tendo em vista o crescimento nas pesquisas para o pleito de 17 de junho de líderes de esquerda, que são contrários ao rigor das medidas de austeridade fiscal impostas por outras economias da eurozona, sobretudo a Alemanha. A questão preocupante não é apenas se a Grécia terá condições de pagar ou não suas dívidas.
A decisão que pode ser tomada até o fim de junho – a depender do resultado das eleições – implicará não apenas o fim da ajuda financeira da União Europeia (UE), mas, sobretudo, terá efeitos catastróficos sobre a zona do euro (veja quadro). Terá o poder ainda de ditar o humor dos mercados internacionais e definir se o mundo caminha novamente para uma segunda grande recessão, após a crise que se sucedeu ao estouro da bolha imobiliária americana em 2008.

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Fora do euro, caos grego pioraria ainda mais


O economista-chefe da Gradual Corretora, André Perfeito, não acredita que a Grécia deixará o bloco justamente porque as consequências para a Europa (e o mundo) seriam tão calamitosas que as autoridades tentarão impedir que isso aconteça. Ele elenca, primeiramente, a piora da situação, já caótica, da economia grega. “Ela tem uma balança comercial tão cronicamente deficitária, exporta poucos produtos, não pode fabricar itens básicos e importa grande parte de seus insumos, que a ressureição do dracma [antiga moeda grega] não ajudaria muito”, afirma.
Além disso, a Grécia seria deixada de fora do bloco comercial único europeu, o que agravaria ainda mais sua recessão. Os preços aumentariam fortemente e o rendimento real da população cairia de forma abrupta.
A credibilidade do próprio dracma – que renasceria em um abiente de inflação elevada e problemas crônicos na economia – pode ser posta em xeque. “Poderia haver uma corrida aos bancos, com saques massivos, o que desestabilizaria ainda mais o sistema financeiro”, projeta Perfeito. Na semana passada, apenas com os temores de saída da zona do euro, os gregos já sacaram muito mais do que de costume de suas contas bancárias.

Desde 6 de maio, os partidos contrários ao expressivo corte de gastos públicos no país conquistaram mais lugares no Parlamento. As urnas escancararam o descontentamento da população grega – que sofre com anos seguidos de caos econômico – com a política vigente. Seis anos atrás, a Grécia já mostrava uma dívida acima do seu Produto Interno Bruto (PIB), da ordem de 106,1%.
Com o passar do tempo e as complicações políticas iniciadas com a crise de 2008, o déficit público piorou até atingir 165,3% no fim de 2011. A dívida pública grega ultrapassa hoje 350 bilhões de euros.
Para socorrer o país problemático, o trio formado pelo Banco Central Europeu (BCE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia (UE) – chamado de “troika” – costurou vários empréstimos. Em março, a UE aprovou a liberação da primeira parcela do segundo pacote de resgate da Grécia, de 130 bilhões de euros, para que Atenas reduza seu déficit para 117% até 2014.
Em troca, foram impostas condições, entre elas corte de gastos do governo e reformas estruturais. O rigor das medidas teve forte efeito deletério sobre uma economia já combalida. O resultado foi uma taxa de desemprego de 20,7% e uma queda de 6,2% do PIB no primeiro trimestre. Cabe lembrar que, no ano anterior, a "troika" já havia liberado 110 bilhões de euros.
Agravando ainda mais a já difícil situação, os partidos políticos gregos não chegaram a um acordo sobre planos para a economia e o mundo reage negativamente ao temor de calote. Dezessete de junho será o último capítulo da novela que revelará o destino da Grécia, da zona do euro e do mercado mundial.
Divisor de águas – Segundo o analista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, as pesquisas gregas apontam que o partido de extrema esquerda Syriza é o favorito para ganhar as eleições, depois de ter ficado em segundo lugar no pleito passado. A vitória do Syriza, que é comandado pelo socialista Alexis Tsipras, implicaria o agravamento deste cenário.
A razão é simples: o partido é contra as medidas de austeridade fiscal. “Na Grécia, o partido que ganha mais cadeiras tenta formar um governo de maioria; se não conseguir, o segundo mais votado recebe a missão e assim por diante”, explica Cortez. Ele diz que o boicote da dívida não significa necessariamente o adeus da Grécia ao bloco, uma vez que a UE pode tentar comprar a dívida grega, assim como os Estados Unidos fez, em 2008, com seu próprio sistema financeiro.
“Se a Grécia não acordar com as medidas europeias, o calote é o mais provável dos cenários”, diz o professor de economia internacional da Universidade de São Paulo (USP), Simão Davi Silber, que chama a Grécia atual de “mula sem cabeça” por suas dificuldades em ter uma liderança firme. Para ele, o calote poderia levar a Grécia a sair da zona do euro, uma vez que as próprias autoridades europeias alertam que ela precisará seguir conforme os planos iniciais para ficar no bloco.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, reconheceu na semana passada que a saída da a Grécia da zona do euro é uma possibilidade arriscada. “Seria uma situação extremamente custosa e com grandes riscos, mas que somos obrigados a analisar de um ponto de vista técnico".
Na última sexta-feira, o comissário europeu de Comércio, Karel De Gucht, em entrevista publicada no jornal belga De Standaard, disse que a própria Comissão Europeia e o BCE já simulam o que aconteceria se a Grécia deixasse o euro. Hoje, um grupo de trabalho do Eurogrupo sugeriu que cada país formatasse um plano de contingência para se precaver das conseqüências deste fato.
O que vai acontecer ninguém sabe, mas se a Grécia sair – ou “for saída” – da eurozona o cenário seguinte seria resumido por uma palavra: caos.

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