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Leia o comentário de Mário Kertész sobre a participação de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional

[Leia o comentário de Mário Kertész sobre a participação de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional]


Assisti ontem (28) à entrevista de Jair Bolsonaro (PSL). Em primeiro lugar, devo dizer o seguinte: o comportamento da Globo foi completamente diferente em relação a Ciro Gomes (PDT) [entrevistado na segunda-feira (27)]. Eles estavam mais calmos, só Renata Vasconcellos que bateu para valer - merecidamente - na questão das vantagens, salários e etc. William Bonner, não sei se porque não tinha outros feitos - como o pessoal gosta de falar e eu não acredito -, mas pela repercussão negativa do primeiro encontro, exageradamente agressivo, não dando tempo para responder, foi mais calmo e deixou Bolsonaro falar.
Acho que Jair Bolsonaro se saiu bem para o eleitorado dele. Ele não foi ali buscar o meu voto, o voto de quem é contra ele. Ele foi consolidar e ampliar a camada da população brasileira que está insatisfeita com a corrupção, com a violência e com a frouxidão do governo - e isso ele fez muito bem. Aquela besteira dele escrever na mão "Deus, Família e Pátria" foi para sacanear o fato de que no debate ele tinha feito uma coisa semelhante. Ele chutou várias coisas, mas deixou bem claro que é um candidato de extrema direita, que acha que o golpe de 64 foi um golpe legal - não é verdade, ele mentiu nisso, não foi um golpe legal, foi uma derrubada de um governo constitucional e eleito, na época ocupado pelo presidente João Goulart. E outras sandices dele, né? Daquela coisa de admitir a hipótese de o governo ser obrigado, segundo o próprio vice dele, o General Mourão, a chegar a um regime de exceção - ao mesmo tempo que diz defender a Constituição.
Mas, vejamos, primeiro ele se mostrou totalmente contra a corrupção, diz que nunca teve nenhum caso dele de corrupção - ninguém sabe mesmo, não houve. Segundo, ele tentou desmistificar, falar com a família, aquela coisa da homofobia. A Agência Lupa fez uma análise muito interessante de algumas coisas que ele disse: Bolsonaro disse que foi o único a ter votado na PEC das domésticas nos dois turnos. Mentira. O fato de ele ter voltado a fazer garganta disso significa que ele quer atingir uma classe média média que perdeu esse privilégio do escravagismo pós-moderno. Hoje não tem mais, e é claro que as pessoas sentem. Era muito cômodo você ter uma pessoas que dormisse na sua casa, dava o café da manhã - ele mesmo falou -, ter o pernoite. Não é isso, mas ele mais uma vez soube pegar bem um filão grande de brasileiros e brasileiras que se sentiram incomodados com essa PEC. Foi em cheio nisso. Só que ele fez uma declaração falsa, não foi somente ele que votou contra, mas outros dois deputados votaram - sendo que no primeiro turno ele não registrou o voto dele.
Ele também falou do 9º Seminário LGBT Infantil. Nunca houve, no Congresso, um seminário LGBT Infantil. O que há, normalmente, é um encontro para discutir questões relacionadas a comunidade LGBT com um tema diferente a cada edição. Em 2012, o tema era infância e sexualidade. Em 2018, o seminário ocorreu em junho e abordou o envelhecimento da população LGBT. Falou ainda: "Nós, do exército brasileiro, perdemos 3 jovens garotos para o crime agora". Verdade, já perderam até um quarto.
Sobre o salário compátivel entre homens e mulheres, disse já estar assegurado na CLT já existe isso. É verdadeiro, mas, em 2017 o rendimento médio de uma mulher equivalia a 67% do rendimento de um homem. Ele jogou bem para o público dele, e tenho certeza que aumentou em alguns nichos que sempre ficam fascinados pela extrema direita como Marine Le Pen, lá na França, e o pai dela, e outros candidatos. Ainda mais que o mundo agora está vivendo um momento de direitização, uma coisa cíclica, foi assim que fascismo apareceu na Itália, o nazismo na Alemanha, dificuldades do Estado democrático de direito resolver problemas como os nossos.
Ele trabalhou bem o nicho dele, foi agressivo, acusou Roberto Marinho de ter apoiado o golpe. E tanto acusou e doeu que a Globo no final do jornal William Bonner teve que ler um editorial explicando que depois a Globo reconheceu o erro, voltou atrás e disse que a democracia é a melhor forma de poder. Roberto Marinho foi um dos mentores do golpe com o jornal O Globo, naquela época ele não tinha televisão e rádio. Mas era um jornal importantíssimo. Roberto Marinho já vinha participando de tentativas de golpe com Carlos Lacerda e Assis Chatennnc, para derrubar Getúlio Vargas e que foram impedidos pelo tiro que Getúlio deu no peito. E doeu na turma da Globo, eles sentiram.
Quem pensa que Bolsonaro é um besta, está perdido. Porque não é. E tem aquela história, eu posso não concordar em nada do que você diz, mas você tem todo o direito de dizer. Eu, por exemplo, não concordo, mas não to aqui para fazer cabeça de ninguém, não me interessa dizer se é melhor ou pior, no dia a escolha vai ser minha na urna, o resto cada um que se vire e escolha quem queira.
Ele também falou que foi citado no mensalão por Joaquim Barbosa como o único deputado da base aliada que não foi comprado pelo PT. Mentira, houveram inclusive deputados do próprio PT que não se envolver. Disse: "Nada tenho contra um gay". Mas o sujeito que diz que preferiria ver o filho morto num acidente a ter um filho gay, e que um casal gay morando num apartamento desvaloriza o imóvel… Pelo amor de Deus! Tem gente que acha isso e não se enganem: ele vai continuar na campanha e é um candidato com perspectivas de chegar em algum lugar, não sei aonde. Se vai ganhar, se vai para o segundo turno, não sei. Outra coisa que ele errou foi que não se consegue produzir um prego no Brasil e colocar de forma competitiva no Paraguai. Não é verdade. O Brasil já exportou US$ 2.300.000 em pregos, percevejos e artefatos.
E, no geral, é isso. Para quem quer ouvir isso, a mensagem de Bolsonaro é um valsa linda, tocada suavemente no ouvido. Para quem não quer ouvir, é claro, é um motivo de irritação. Ele trabalhou bem o eleitorado dele, tentando ampliar o eleitorado inclusive com questões de economia. Mostrou que não sabia de economia, mas perguntou: vem cá, o Lula conhecia? A Dilma conhecia? Pronto, bateu em quem achava que deveria bater. Eu acho, no meu julgamento que nao é lá essas coisas, que ele se saiu bem e provavelmente conseguiu aumentar o eleitorado em determinados setores de nossa sociedade. Em primeiro lugar, porque foi em um horário super nobre, com audiência extraordinária no Brasil todo, e muita gente que não conhecia, não sabia exatamente em quem votar diz: é meu candidato. É uma receita. Se vai dar certo ou não, se a maiorai do povo brasileiro vai aceitar ou não, a gente só vai saber depois do dia da eleição.
Agora, Brasil, você decide o que você quer e seja o que Deus quiser e o que a Virgem Maria mandar.

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