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Amigo de Lula confessa que repassou R$ 12 milhões do petrolão ao PT

Em depoimento, pecuarista José Carlos Bumlai afirma que partido pode ter utilizado laranjas para tomar empréstimos que abasteceram campanhas da legenda

Pecuarista José Carlos Bumlai em depoimento em CPI do Congresso Nacional
Pecuarista José Carlos Bumlai em depoimento em CPI do Congresso Nacional(/Reuters)
O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, afirmou à Polícia Federal que "realmente acredita" que o PT tomou empréstimos do Banco Schahin, "através de laranjas", para financiar campanhas eleitorais do partido. A declaração foi feita em depoimento prestado nesta segunda-feira à Polícia Federal e evidencia, segundo o empresário, relações nebulosas entre o empresário Salim Schahin e os petistas. Amigo do ex-presidente Lula, Bumlai foi preso no dia 24 de novembro na Operação Lava Jato por suspeitas de ter atuado na simulação de um empréstimo de cerca de 12 milhões de reais que serviria, na verdade, para esconder pagamentos de propina.
"Os negócios do PT com a Schahin não se limitaram ao empréstimo. Acredita que Salim Schahin tenta usar este empréstimo para ocultar outras operações e negócios envolvendo seu grupo com o PT", disse no depoimento. "Acredita que o PT possa ter tomado outros empréstimos junto ao Banco Schahin através de laranjas. Acredita que tais empréstimos destinavam-se à formação de caixa dois para campanhas do partido", completou.
Segundo os investigadores, ele integrou um esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin pela Petrobras para operação do navio sonda Vitoria 10000. A transação só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da Petrobras, ao próprio pecuarista e ao PT. A exemplo do escândalo do mensalão, o pagamento de dinheiro sujo foi camuflado a partir da simulação de um empréstimo no valor de 12,17 milhões de reais. O repasse de dinheiro sujo por meio do pecuarista, apontado como um operador VIP do petrolão, foi camuflado por meio de um empréstimo do Banco Schahin, com a contratação indevida da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda Vitoria 10000 e na simulação do pagamento do suposto empréstimo com a entrega inexistente de embriões de gado.
Em janeiro de 2005, quando venceu a primeira parcela do empréstimo, o débito continuou sem ser pago porque, na avaliação do ex-presidente do Banco Schahin Sandro Tordin, "muito embora a Schahin tivesse conseguido contratos com a Petrobras para operar sondas de águas rasas, os valores ainda não compensariam o empréstimo concedido".
Pela primeira vez José Carlos Bumlai admitiu que tomou o empréstimo para repassar os valores ao PT e detalhou que o dinheiro foi pedido pelo ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares, que alegou que "se tratava de uma questão emergencial e que o dinheiro seria devolvido rapidamente". Na transação, o também ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto atuou diretamente, acompanhando a contratação do navio sonda usado para camuflar o repasse de dinheiro ao partido. Segundo o depoimento, Vaccari informou que em breve o empréstimo poderia ser quitado porque "estavam em curso negociações da Schahin para a operação da sonda Vitória 10.000".
Bumlai alega que no final de 2005, depois de não ter conseguido quitar o empréstimo, disse que Tordin "revelou que os dirigentes do Banco Schahin iriam mantê-lo como refém", principalmente por conta da amizade com Lula.
Ainda que os investigadores apontem para a participação ativa do pecuarista na operação, ele disse que aceitou tomar o empréstimo por "constrangimento" e porque "não queria se indispor com os representantes do PT" e disse que realmente gostaria de quitar o débito. Ele detalhou que, a pedido de um advogado da Schahin, simulou a operação de entrega dos embriões e indicou, sem apresentar certeza, que "poderia ocorrer" um acordo de pagamento de propina ao diretor de Exploração e Produção Guilherme Estrela na transação envolvendo a Schahin e o navio-sonda Vitoria 10.000. O pecuarista, porém, não soube se houve efetivamente o desembolso de dinheiro sujo.
Embora conversasse com Baiano sobre o contrato do navio-sonda, o empresário alegou à PF que nunca pediu interferência interna do lobista nem de outras autoridades, como o ex-presidente Lula ou o ex-diretor Nestor Cerveró para transações na Petrobras. Neste ponto, o depoimento contrasta com as evidências colhidas pelos investigadores da Lava Jato. O lobista e delator Fernando Baiano disse em pelo menos três depoimentos que Bumlai utilizava o nome do ex-presidente Lula para obter benefícios e contratos. Como exemplo, o delator afirmou que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.
(Com Estadão Conteúdo)

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