Pular para o conteúdo principal

"Marcos Valério está disposto a fazer delação premiada", diz advogado

Operador do mensalão pode esclarecer a participação do PT em caso de chantagem que envolve a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel

DE OLHO NO PASSADO - Preso duas vezes desde que eclodiu o escândalo, o empresário Marcos Valério hoje despreza e teme os mensaleiros que ajudou
Marcos Valério, operador do mensalão.
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 38 anos de prisão por ser o operador financeiro do mensalão, o empresário Marcos Valério está disposto a se tornar o mais novo delator da Operação Lava Jato. Preso em Minas Gerais, Valério acompanha pela televisão os desdobramentos do petrolão e já sabe que o pecuarista José Carlos Bumlai, preso em Curitiba, confirmou aos investigadores uma das histórias narradas por ele em 2012, quando tentou fechar um acordo com a Procuradoria Geral da República. Em depoimento prestado nesta segunda-feira, Bumlai confessou aos investigadores ter servido de testa de ferro do PT para tomar um empréstimo de 12 milhões de reais no Banco Schahin e honrar compromissos financeiros do partido durante o primeiro governo Lula. A história em torno do empréstimo envolvendo o Banco da família Schahin, o pecuarista amigo de Lula e o PT é um dos episódios mais nebulosos da Era Lula no poder. É também um mistério que Valério pode ajudar os investigadores a desvendar. "Meu cliente quer colaborar, desde que haja algum benefício. Se for proposto um acordo de delação premiada, ele está disposto, com certeza", diz o advogado Marcelo Leonardo, que defende o mensaleiro.
LEIA TAMBÉM:
À Polícia Federal, Bumlai fala sobre o caso Celso Daniel
Amigo de Lula confessa que passou R$ 12 mi do petrolão ao PT
O nome de Marcos Valério ressurgiu nas investigações no ano passado, depois que os investigadores da Lava Jato encontraram no escritório de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato de empréstimo de 6 milhões de reais entre a 2S Participações, de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. Quando depôs ao Ministério Público, em 2012, pouco antes de ser condenado, Valério contou que, no primeiro mandato de Lula, foi procurado pelo então secretário do PT, Silvio Pereira, com um pedido de ajuda. Na época, segundo ele, o governo estava sendo chantageado por Ronan Maria Pinto, que ameaçava implicar Lula, Gilberto Carvalho e José Dirceu na morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel. Ronan confirmaria a tese, jamais provada pela polícia, de que Celso Daniel foi assassinado ao tentar acabar com um esquema de cobrança de propina pelo PT em Santo André.
O valor do contrato - os 6 milhões de reais - era exatamente a quantia que Valério dissera ao MP que o chantagista cobrou do PT para abafar o escândalo em Santo André. Valério e amigos poderosos do governo foram convocados para organizar a engenharia financeira da operação. Nessa parte da história surge Bumlai, o amigo de Lula encarregado de levantar o dinheiro junto ao Banco Schahin. O empresário disse aos investigadores que Bumlai contraiu o empréstimo e, simultaneamente, usou sua influência para conseguir que a construtora Schahin, ligada ao mesmo grupo empresarial, ampliasse seus contratos com a Petrobras. Ao Ministério Público, Valério disse que Bumlai articulou a tramoia diretamente com a direção da Petrobras, cujos cargos-chave eram comandados por petistas.
Confrontado hoje com as revelações da Lava Jato, o depoimento de Marcos Valério é de uma precisão devastadora. Bumlai confessou que tomou o empréstimo milionário no Banco Schahin a mando do PT. Bumlai foi acusado por diferentes delatores da Lava Jato de ter usado sua influência política junto ao petismo para conseguir que a Schahin conquistasse contratos bilionários na Petrobras, dentre eles o de operação do navio-sonda Vitória 10.000, dado aos Schahin por ordem direta do petista José Sérgio Gabrielli. O negócio, portanto, aconteceu exatamente como o empresário dissera.
Com todos esses pontos esclarecidos, resta saber se o empréstimo contraído por Bumlai junto ao Banco Schahin foi mesmo usado para comprar o silêncio do empresário Ronan Maria Pinto. Os investigadores da Lava Jato já sabem que o contrato de empréstimo entre a empresa de Valério e Ronan pode ser a resposta. No ano passado, VEJA revelou que Enivaldo Quadrado, um dos comparsas de Valério no mensalão, também investigado na Lava Jato, usava o contrato para chantagear o PT. Era a chantagem da chantagem. Enivaldo recebia do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto uma mesada de 15.000 reais, paga inclusive com dólares, para manter o documento escondido. Os pagamentos foram confirmados por Meire Poza, a contadora de Youssef, que revelou à CPI da Petrobras ter ido três vezes à casa do jornalista Breno Altman, petista ligado a José Dirceu, para receber o dinheiro em nome de Enivaldo Quadrado.
Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef confirmou a mesada do PT para Enivaldo Quadrado e revelou que foi Breno Altman que encomendou a Enivaldo a confecção do contrato envolvendo a empresa de Marcos Valério e a empresa de Ronan Maria Pinto. "Quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o documento era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores chamada Breno Altman. Por meio de tal operação, Enivaldo receberia dinheiro ou algum outro favor", disse Youssef. O doleiro ainda afirmou que Enivaldo guardava o contrato "a sete chaves", como "resguardo pessoal", porque o documento comprometeria o PT na morte de Celso Daniel. "Indagado sobre o que motivou Breno Altman a realizar tal operação (pedir para Enivaldo fazer o contrato), foi o fato de que o PT estaria sendo ameaçado por conta do caso 'Celso Daniel', de maneira que a documentação foi preparada para atender a determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus. A chantagem, no entanto, objetivava que tal pessoa 'ficasse quieta' em relação ao caso Celso Daniel", disse Youssef aos investigadores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...