"Marcos Valério está disposto a fazer delação premiada", diz advogado
Operador do mensalão pode esclarecer a participação do PT em caso de chantagem que envolve a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel
À Polícia Federal, Bumlai fala sobre o caso Celso Daniel
Amigo de Lula confessa que passou R$ 12 mi do petrolão ao PT
O valor do contrato - os 6 milhões de reais - era exatamente a quantia que Valério dissera ao MP que o chantagista cobrou do PT para abafar o escândalo em Santo André. Valério e amigos poderosos do governo foram convocados para organizar a engenharia financeira da operação. Nessa parte da história surge Bumlai, o amigo de Lula encarregado de levantar o dinheiro junto ao Banco Schahin. O empresário disse aos investigadores que Bumlai contraiu o empréstimo e, simultaneamente, usou sua influência para conseguir que a construtora Schahin, ligada ao mesmo grupo empresarial, ampliasse seus contratos com a Petrobras. Ao Ministério Público, Valério disse que Bumlai articulou a tramoia diretamente com a direção da Petrobras, cujos cargos-chave eram comandados por petistas.
Confrontado hoje com as revelações da Lava Jato, o depoimento de Marcos Valério é de uma precisão devastadora. Bumlai confessou que tomou o empréstimo milionário no Banco Schahin a mando do PT. Bumlai foi acusado por diferentes delatores da Lava Jato de ter usado sua influência política junto ao petismo para conseguir que a Schahin conquistasse contratos bilionários na Petrobras, dentre eles o de operação do navio-sonda Vitória 10.000, dado aos Schahin por ordem direta do petista José Sérgio Gabrielli. O negócio, portanto, aconteceu exatamente como o empresário dissera.
Com todos esses pontos esclarecidos, resta saber se o empréstimo contraído por Bumlai junto ao Banco Schahin foi mesmo usado para comprar o silêncio do empresário Ronan Maria Pinto. Os investigadores da Lava Jato já sabem que o contrato de empréstimo entre a empresa de Valério e Ronan pode ser a resposta. No ano passado, VEJA revelou que Enivaldo Quadrado, um dos comparsas de Valério no mensalão, também investigado na Lava Jato, usava o contrato para chantagear o PT. Era a chantagem da chantagem. Enivaldo recebia do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto uma mesada de 15.000 reais, paga inclusive com dólares, para manter o documento escondido. Os pagamentos foram confirmados por Meire Poza, a contadora de Youssef, que revelou à CPI da Petrobras ter ido três vezes à casa do jornalista Breno Altman, petista ligado a José Dirceu, para receber o dinheiro em nome de Enivaldo Quadrado.
Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef confirmou a mesada do PT para Enivaldo Quadrado e revelou que foi Breno Altman que encomendou a Enivaldo a confecção do contrato envolvendo a empresa de Marcos Valério e a empresa de Ronan Maria Pinto. "Quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o documento era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores chamada Breno Altman. Por meio de tal operação, Enivaldo receberia dinheiro ou algum outro favor", disse Youssef. O doleiro ainda afirmou que Enivaldo guardava o contrato "a sete chaves", como "resguardo pessoal", porque o documento comprometeria o PT na morte de Celso Daniel. "Indagado sobre o que motivou Breno Altman a realizar tal operação (pedir para Enivaldo fazer o contrato), foi o fato de que o PT estaria sendo ameaçado por conta do caso 'Celso Daniel', de maneira que a documentação foi preparada para atender a determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus. A chantagem, no entanto, objetivava que tal pessoa 'ficasse quieta' em relação ao caso Celso Daniel", disse Youssef aos investigadores.
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