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Dilma chega ao fundo do poço: 90% do empresariado industrial de SP quer impeachment; é a crise de confiança, que se soma à política e à econômica

Fiesp passa a defender oficialmente o impeachment; há quatro meses, entidade ainda defendia um voto de confiança. Acabou!

Por: Reinaldo Azevedo

A crise econômica por que passa o país é muito grave. A crise política é gravíssima. Mas o que torna a situação do governo Dilma terminal é a crise de confiança. A esta altura do campeonato, até ela própria já deve ter percebido que o ponto de retorno já passou. Se ela continua na Presidência da República, o país afunda de vez na desesperança. Restou à petista hoje um único programa de governo: não cair. Assim, não se governa nem birosca da esquina. Nesta segunda, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) jogou a pá de cal. E olhem que a entidade foi bastante tolerante, como vou demonstrar.
Num país com as características do Brasil, entidades empresariais costumam ser muito prudentes sobre o futuro. Ou, para ser mais preciso e menos eufemístico, elas têm medo de se posicionar contra o governo de turno. A razão é simples: é tal a presença do estado na economia e tão grande o seu poder que, com frequência, se opta pela linguagem da acomodação para impedir retaliações. Não é diferente com a Fiesp. Mas tudo tem um limite.
Nesta segunda, a entidade e o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), ambos presididos por Paulo Skaf, anunciaram seu apoio oficial ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. É o que quer a esmagadora maioria dos associados. Já chego lá. Antes, um pouco de memória.
Há pouco mais de três meses, no dia 6 de agosto, Fiesp e Firjan, a federação congênere do Estado do Rio, emitiram uma nota conjunta em que acenavam para o governo. Lá se podia ler: “A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos vinte anos. É vital que todas as forças políticas se convençam da necessidade de trabalhar em prol da sociedade”.
As federações respondiam, assim, a um apelo que Michel Temer, vice-presidente da República e então coordenador político do governo, fizera um dia antes. Dissera ele: “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos, de fazer esse apelo. Eu estou tomando essa liberdade de fazer esse pedido, porque, caso contrário, nós podemos entrar numa crise desagradável para o país”.
Dilma e o PT entenderam que Temer estava se oferecendo para ser essa pessoa, e ele teve de deixar a coordenação alguns dias depois — tinha sido nomeado em abril; ficou apenas quatro meses. Mas, insista-se, a Fiesp, em companhia da Firjan, ainda apostava na permanência de Dilma em nome da “governabilidade”.
Três semanas depois da nota de apoio das federações, o governo lançou a campanha pela recriação da CPMF. Não era o que esperavam as entidades. No dia 10 de setembro, a Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil. Foi a gota d’água. Em outra nota, no mesmo dia, Fiesp e Firjan desembarcavam do governo Dilma. Escreveram então:
“Não há uma estratégia clara sobre o que fazer para lidar com crise tão aguda, nem parece haver a capacidade de empreender o esforço tão necessário de entendimento nacional que viabilizaria a adoção de um programa consensual de ajustes na esfera econômica”.
O texto repudiava ainda a criação de novos impostos.
De volta a dezembro
A Fiesp e o Ciesp encomendaram, então, uma pesquisa com seus associados para saber o que eles pensam sobre o impeachment de Dilma. Nesta segunda, Paulo Skaf, presidente das duas entidades, revelou o resultado: nada menos de 91,9% dos entrevistados defenderam que a Fiesp tivesse uma posição oficial a respeito. “Essa pesquisa foi endossada por todos os fóruns da Casa”, disse Skaf. Segundo ele, a decisão foi tomada “devido à situação política e econômica do Brasil, devido ao momento a que nós chegamos”.
O resultado é mesmo espantoso e reflete o que é a crise de confiança. Entre os dias 9 e 11 deste mês, foram ouvidas 1.113 empresas do Estado. A Fiesp informa que “o questionário foi preenchido, preferencialmente, por proprietário, presidente, diretor ou uma pessoa da empresa que tenha uma percepção mais ampla de seus negócios e dos efeitos sobre eles da situação política”.
Entre os indivíduos que responderam ao levantamento, 90% defenderam o impeachment; quando se analisa a posição das empresas em si, esse índice é de também espantosos 85,4%. O resultado parece bastante eloquente, não? Eis o que pensa a indústria do Estado que responde por quase um terço do PIB brasileiro.
Ninguém mais acredita em Dilma Rousseff. Claro, claro… Estaríamos numa situação muito difícil se, a despeito desse quatro dramático, ela fosse inocente dos crimes de responsabilidade de que é acusada. Mas ela não é. Que encontre o destino dela para que o Brasil possa encontrar o seu.

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