Pular para o conteúdo principal

Da irritação ao vazamento: os bastidores da carta de Temer

Vice-presidente da República, Michel Temer, fala a jornalistas em Brasília - 06/08/2015
Michel Temer: próximos passos do vice ainda são uma incógnita(/Reuters)
Há muito insatisfeito com a presidente Dilma Rousseff e cada vez mais afastado dela, o vice-presidente Michel Temer decidiu no último domingo que escreveria uma carta-desabafo para a petista. Mas o texto somente tomou forma na segunda-feira pela manhã, horas antes de ser entregue à presidente. Temer estava em seu escritório em São Paulo e se reuniu com três colaboradores para revisar o texto que rascunhara: o ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco, o chefe de gabinete Arlon Viana e Gaudêncio Torquato, consultor político e amigo do vice. Peemedebistas ouvidos pelo site de VEJA afirmam que o vice não pretendia que o documento vazasse. A aliados, ele creditou ao Planalto a iniciativa de tornar públicos trechos da carta. Irritado, Temer acabou por vazar todo o texto na sequência.
Embora o vice ainda mantenha uma postura reclusa, negue um afastamento e não tenha autorizado um desembarque oficial do PMDB, um de seus colaboradores mais próximos vaticina: "É um sinal claro de rompimento. Não existe mais volta". Desde que o partido decidiu fazer uma convenção e lançar as bases do programa de governo batizado "Uma ponte para o futuro", Michel Temer tem clareza de que Dilma "perdeu condições de governar".
LEIA TAMBÉM:
Carta dá a largada para PMDB sair do governo, diz Cunha
Carta de Temer incendeia Brasília. E também a internet
Temer e Dilma pouco se reuniam. Como ficou evidente no texto, o vice ressentia-se por ter um papel acessório, por ser esquecido em reuniões de prestígio e pelo fato de o PMDB ser alijado da definição das principais políticas do governo. Mas a gota d'água para o desabafo foram as seguidas vezes em que o Planalto tentou, em sua avaliação, constrangê-lo a se posicionar contra o impeachment.
O vice ficou especialmente irritado com as declarações de Dilma de que "sempre confiou" nele e no PMDB. Assessores afirmam que a declaração nas capas dos jornais soou como uma cobrança. Dilma disse no sábado que "esperava integral confiança" do vice, em meio a elogios à carreira dele como jurista e político. Desde a semana passada, sua assessoria já desmentiu duas vezes versões de encontros dele com Dilma - um sequer chegou a ocorrer. A vice-presidência também desmentiu a versão do Planalto para uma conversa sobre o 'lastro constitucional' do pedido de impeachment aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Depois de redigir a carta, Temer desistiu de participar de uma agenda pública num ninho tucano, o Grupo Lide, que reúne empresários e é presidido por João Dória Jr, pré-candidato do PSDB à prefeitura paulistana. Lá também estaria o governador paulista Geraldo Alckmin, um dos presidenciáveis do PSDB em 2018. No sábado, porém, eles haviam estado juntos num almoço promovido pelo empresário Jorge Chammas.
Já em Brasília, Temer irritou-se ao saber pela TV que a existência da carta havia vazado. Ele imputou a operação aos corredores palacianos e identificou mais uma tentativa de colocá-lo em xeque e de taxá-lo de conspirador. "O vazamento foi traumático. Era uma carta de cunho pessoal e passaram apenas alguns trechos sem contexto", disse um peemedebista de São Paulo. Em seguida, o vice não só autorizou sua assessoria de imprensa a confirmar publicamente a versão, como decidiu repassar a íntegra do documento ao jornal O Globo.
Outro pano de fundo para o descontentamento do vice é o apoio irrestrito que Dilma deu ao PMDB do Rio de Janeiro e seus caciques, como Luiz Fernando Pezão, Eduardo Paes, Jorge Picciani e Sérgio Cabral. Beneficiados com verbas federais, os governantes do PMDB fluminense sempre declararam apoio incondicional à aliança com o PT e Dilma. O vice entende que Dilma age para rachar o PMDB e apoiará uma candidatura de Sérgio Cabral na convenção do partido em março do ano que vem. A queixa também vem de longa data: antes da rixa entre Temer e os caciques do Rio, foram as vezes em que o Planalto fomentou a formação de novos partidos, com migração de deputados para PSD e Pros, por exemplo, como forma de criar baixas e enfraquecer a bancada peemedebista na Câmara.
Os próximos passos do vice ainda são uma incógnita. Apesar de apelos, ele não se encontrou com Dilma nesta terça-feira. É público que Temer manteve conversas recentes com a oposição, nas quais já manifestou que abriria mão de uma candidatura presidencial em 2018 caso recebesse apoio do PSDB para governar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p