Da irritação ao vazamento: os bastidores da carta de Temer
Embora o vice ainda mantenha uma postura reclusa, negue um afastamento e não tenha autorizado um desembarque oficial do PMDB, um de seus colaboradores mais próximos vaticina: "É um sinal claro de rompimento. Não existe mais volta". Desde que o partido decidiu fazer uma convenção e lançar as bases do programa de governo batizado "Uma ponte para o futuro", Michel Temer tem clareza de que Dilma "perdeu condições de governar".
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O vice ficou especialmente irritado com as declarações de Dilma de que "sempre confiou" nele e no PMDB. Assessores afirmam que a declaração nas capas dos jornais soou como uma cobrança. Dilma disse no sábado que "esperava integral confiança" do vice, em meio a elogios à carreira dele como jurista e político. Desde a semana passada, sua assessoria já desmentiu duas vezes versões de encontros dele com Dilma - um sequer chegou a ocorrer. A vice-presidência também desmentiu a versão do Planalto para uma conversa sobre o 'lastro constitucional' do pedido de impeachment aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Depois de redigir a carta, Temer desistiu de participar de uma agenda pública num ninho tucano, o Grupo Lide, que reúne empresários e é presidido por João Dória Jr, pré-candidato do PSDB à prefeitura paulistana. Lá também estaria o governador paulista Geraldo Alckmin, um dos presidenciáveis do PSDB em 2018. No sábado, porém, eles haviam estado juntos num almoço promovido pelo empresário Jorge Chammas.
Já em Brasília, Temer irritou-se ao saber pela TV que a existência da carta havia vazado. Ele imputou a operação aos corredores palacianos e identificou mais uma tentativa de colocá-lo em xeque e de taxá-lo de conspirador. "O vazamento foi traumático. Era uma carta de cunho pessoal e passaram apenas alguns trechos sem contexto", disse um peemedebista de São Paulo. Em seguida, o vice não só autorizou sua assessoria de imprensa a confirmar publicamente a versão, como decidiu repassar a íntegra do documento ao jornal O Globo.
Outro pano de fundo para o descontentamento do vice é o apoio irrestrito que Dilma deu ao PMDB do Rio de Janeiro e seus caciques, como Luiz Fernando Pezão, Eduardo Paes, Jorge Picciani e Sérgio Cabral. Beneficiados com verbas federais, os governantes do PMDB fluminense sempre declararam apoio incondicional à aliança com o PT e Dilma. O vice entende que Dilma age para rachar o PMDB e apoiará uma candidatura de Sérgio Cabral na convenção do partido em março do ano que vem. A queixa também vem de longa data: antes da rixa entre Temer e os caciques do Rio, foram as vezes em que o Planalto fomentou a formação de novos partidos, com migração de deputados para PSD e Pros, por exemplo, como forma de criar baixas e enfraquecer a bancada peemedebista na Câmara.
Os próximos passos do vice ainda são uma incógnita. Apesar de apelos, ele não se encontrou com Dilma nesta terça-feira. É público que Temer manteve conversas recentes com a oposição, nas quais já manifestou que abriria mão de uma candidatura presidencial em 2018 caso recebesse apoio do PSDB para governar.
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