Fim da polarização política paraguaia favorece venezuelanos no Mercosul
Se a eleição do ex-bispo Fernando Lugo, em 2008, iniciou um período de forte
polarização no Paraguai, a vitória do colorado Horacio Cartes, dia 21, aponta
para um esvaziamento da batalha ideológica dos últimos anos. Analistas concordam
que, com o pragmatismo paraguaio em alta, se abre o caminho não somente para a
normalização do status do país no Mercosul, mas também para a plena aceitação da
Venezuela no bloco.
A aproximação entre Assunção e Caracas antecede a Lugo - vem do governo do colorado Nicanor Duarte Frutos . Foi ele quem, em 2007, assinou com o então presidente Hugo Chávez um acordo, em condições altamente favoráveis ao Paraguai, de venda de petróleo pela PDVSA em troca da exportação de grãos e carne. A Venezuela se comprometia ainda a reinvestir os dividendos da transação no Paraguai. À mesma época, o Uruguai de Tabaré Vásquez firmou um acordo em termos similares.
Duarte, porém, foi além dos negócios e começou a defender a introdução do chamado "socialismo do século 21" na cartilha do Partido Colorado, segundo Camilo José Filártiga, diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica de Assunção. "As ótimas relações com Chávez começaram antes de Lugo", disse ele ao Estado. Foi também no governo de Duarte que o Paraguai assinou o protocolo de adesão da Venezuela no Mercosul, em 2008.
A situação mudou quando Lugo chegou ao poder. Figura historicamente ligada a movimentos sociais, ele rompeu a hegemonia dos colorados. Na oposição pela primeira vez em 61 anos, o partido de Duarte fez dos laços com a Venezuela um de seus cavalos de batalha para desgastar a aliança entre Lugo e os liberais. "Em 2008, aflorou um forte conservadorismo no Congresso paraguaio, que sempre esteve presente, mas com o governo colorado tinha menos sentido", afirmou Filártiga.
Lugo não tinha apoio no Congresso para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul e, diante de uma derrota certa, evitou pôr o texto em votação - e o Paraguai tornou-se o único dos quatro países do bloco que não deu aval a Caracas.
O impeachment de Lugo, em junho, seguido da suspensão do Mercosul e da Unasul, acirrou as tensões. Liberais e colorados acusaram o então chanceler - e hoje presidente - venezuelano, Nicolás Maduro, de ter incitado um golpe pró-Lugo enquanto visitava Assunção, em uma missão da Unasul. Por ampla votação do Congresso, Maduro foi considerado persona non grata no Paraguai. Em seguida, congressistas paraguaios votaram - e rechaçaram - a integração de Caracas ao bloco.
"A entrada da Venezuela no Mercosul sempre foi um grande negócio para o Paraguai, porque são economias complementares: uma precisa de alimentos, outra de combustível. Mas isso não ocorreu porque Lugo estava no poder", afirmou o economista Gustavo Codas, que foi diretor paraguaio de Itaipu, no governo do ex-bispo.
O primeiro passo para a normalização do status do Paraguai no Mercosul veio com as eleições da última semana, reconhecidas por observadores internacionais como legítimas. A questão, agora, é como Cartes lidará com o Congresso, que obstruiu a entrada venezuelana.
Colorados ampliaram sua presença no Legislativo e liberais indicaram na campanha que apoiam a presença da Venezuela. Como o texto do tratado internacional foi rejeitado em votação, o presidente, provavelmente, terá de apresentar um novo projeto.
Há um outro constrangimento: Assunção voltaria ao Mercosul no segundo semestre, quando a presidência do bloco estará com o venezuelano Maduro, agora banido do Paraguai.
O grosso das vendas externas paraguaias é de produtos agropecuários e daquilo que eufemisticamente é denominado pelos paraguaios de "reexportação"- a compra de eletrônicos chineses com 1% de imposto e sua revenda para contrabandistas. Nesses dois setores, o Mercosul tem importância reduzida para Assunção.
No entanto, Cartes depende do bloco para levar adiante uma de suas principais propostas: atrair indústrias brasileiras, aproveitando o baixo custo de produção, sobretudo de energia. O colorado também buscou garantir que conseguirá domar o Congresso e, como seus dois antecessores, apoia a Venezuela no Mercosul.
A aproximação entre Assunção e Caracas antecede a Lugo - vem do governo do colorado Nicanor Duarte Frutos . Foi ele quem, em 2007, assinou com o então presidente Hugo Chávez um acordo, em condições altamente favoráveis ao Paraguai, de venda de petróleo pela PDVSA em troca da exportação de grãos e carne. A Venezuela se comprometia ainda a reinvestir os dividendos da transação no Paraguai. À mesma época, o Uruguai de Tabaré Vásquez firmou um acordo em termos similares.
Duarte, porém, foi além dos negócios e começou a defender a introdução do chamado "socialismo do século 21" na cartilha do Partido Colorado, segundo Camilo José Filártiga, diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica de Assunção. "As ótimas relações com Chávez começaram antes de Lugo", disse ele ao Estado. Foi também no governo de Duarte que o Paraguai assinou o protocolo de adesão da Venezuela no Mercosul, em 2008.
A situação mudou quando Lugo chegou ao poder. Figura historicamente ligada a movimentos sociais, ele rompeu a hegemonia dos colorados. Na oposição pela primeira vez em 61 anos, o partido de Duarte fez dos laços com a Venezuela um de seus cavalos de batalha para desgastar a aliança entre Lugo e os liberais. "Em 2008, aflorou um forte conservadorismo no Congresso paraguaio, que sempre esteve presente, mas com o governo colorado tinha menos sentido", afirmou Filártiga.
Lugo não tinha apoio no Congresso para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul e, diante de uma derrota certa, evitou pôr o texto em votação - e o Paraguai tornou-se o único dos quatro países do bloco que não deu aval a Caracas.
O impeachment de Lugo, em junho, seguido da suspensão do Mercosul e da Unasul, acirrou as tensões. Liberais e colorados acusaram o então chanceler - e hoje presidente - venezuelano, Nicolás Maduro, de ter incitado um golpe pró-Lugo enquanto visitava Assunção, em uma missão da Unasul. Por ampla votação do Congresso, Maduro foi considerado persona non grata no Paraguai. Em seguida, congressistas paraguaios votaram - e rechaçaram - a integração de Caracas ao bloco.
"A entrada da Venezuela no Mercosul sempre foi um grande negócio para o Paraguai, porque são economias complementares: uma precisa de alimentos, outra de combustível. Mas isso não ocorreu porque Lugo estava no poder", afirmou o economista Gustavo Codas, que foi diretor paraguaio de Itaipu, no governo do ex-bispo.
O primeiro passo para a normalização do status do Paraguai no Mercosul veio com as eleições da última semana, reconhecidas por observadores internacionais como legítimas. A questão, agora, é como Cartes lidará com o Congresso, que obstruiu a entrada venezuelana.
Colorados ampliaram sua presença no Legislativo e liberais indicaram na campanha que apoiam a presença da Venezuela. Como o texto do tratado internacional foi rejeitado em votação, o presidente, provavelmente, terá de apresentar um novo projeto.
Há um outro constrangimento: Assunção voltaria ao Mercosul no segundo semestre, quando a presidência do bloco estará com o venezuelano Maduro, agora banido do Paraguai.
O grosso das vendas externas paraguaias é de produtos agropecuários e daquilo que eufemisticamente é denominado pelos paraguaios de "reexportação"- a compra de eletrônicos chineses com 1% de imposto e sua revenda para contrabandistas. Nesses dois setores, o Mercosul tem importância reduzida para Assunção.
No entanto, Cartes depende do bloco para levar adiante uma de suas principais propostas: atrair indústrias brasileiras, aproveitando o baixo custo de produção, sobretudo de energia. O colorado também buscou garantir que conseguirá domar o Congresso e, como seus dois antecessores, apoia a Venezuela no Mercosul.
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