Depois da comédia de erros, forças de mobilizam no Reino Unido para permanecer na união Europeia
Governo da Escócia acena com a possibilidade de o país deixar o Reino Unido; líderes conservadores e trabalhistas defendem que Câmara dos Comuns vete a saída
Uma espetacular comédia de erros. Eis o resultado do referendo que deu a vitória ao “Brexit”, que é a saída do Reino Unido da União Europeia. Já escrevi aqui: parece que muita gente acordou de um delírio coletivo. De tal sorte a situação é particular que os mais calados são justamente os vitoriosos. A impressão que tenho é a de que se divertiam em pregar a saída, na certeza, no entanto, de que seus adversários venceriam, e eles poderiam continuar a atribuir à “burocracia de Bruxelas” todos os males do mundo.
A campanha dos que se opunham à saída foi essencialmente errada. Insistiu-se excessivamente na demonização ideológica dos que defendiam o rompimento, acusados de brucutus de direita e de xenófobos, e não se deu a devida ênfase às dificuldades que adviriam dessa separação — sim, até agora, não se conseguiu apontar um único ganho efetivo.
Já há um intenso movimento de líderes conservadores e trabalhistas para que a Câmara dos Comuns vete a saída — o que é possível, já que o referendo, do ponto de vista legal, tem caráter apenas de consulta. O governo da Escócia já disse que quer o país na União Europeia — e isso pode significar, então, sair do Reino Unido. Nesse caso, seria preciso fazer um novo referendo no país. Em setembro de 2014, por 55,4% a 44,6%, os escoceses decidiram se manter na União. Mas agora a situação é outra.
Mais de três milhões de pessoas já assinaram uma petição para a realização de uma nova consulta, e lideranças importantes do país, como Tony Blair, ex-primeiro-ministro, defendem uma segunda votação.
Ocorre que líderes da União Europeia querem agora que o Reino Unido acelere o processo de saída. Quem decidiu crescer na crise é François Hollande, o fraco presidente francês. Para ele, o divórcio é agora irreversível, o que é, vamos convir, no mínimo, uma posição estranha. Por quê? Porque, legalmente, a decisão cabe à Câmara dos Comuns, e não será Hollande a definir como ela tem de votar.
O que parece é que o presidente francês não vê com maus olhos a saída do Reino Unido, um parceiro de Angela Merkel, a chanceler alemã, na defesa das políticas de austeridade para o bloco. O socialista talvez sonhe com um protagonismo maior da França, que ficaria numa posição de mais força diante da superpoderosa Alemanha.
Reitero o que escrevi aqui na madrugada de domingo. Não acho que venha o fim do mundo nem creio na teoria do dominó. Se o Reino Unido efetivar a sua saída, terá de fazer tantos acordos bilaterais com a União Europeia que o efeito prático da saída pode não ser tão grande — e, qualquer que seja, será negativo para a população do Reino Unido, se “unido” continuar. O resultado das eleições na Espanha, com o ligeiro crescimento do PP, que é pró-União Europeia, talvez indique que o voto em favor do rompimento só ameaça mesmo de cisão é o próprio Reino Unido.
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