Gleisi diz que prisão de Paulo Bernardo é 'tortura da era moderna'
Senadora petista afirmou que há um “carnaval midiático” e disse que o ex-ministro vai provar sua inocência
Paulo Bernardo foi alvo do primeiro desdobramento da Operação Lava Jato em São Paulo e está envolvido, segundo o MP, no desvio de milhões de reais em contratos de prestação de serviços de informática no Ministério do Planejamento. O ex-vereador petista Alexandre Romano é o pivô da Operação Custo Brasil e o principal delator contra o casal Gleisi-Paulo Bernardo. Conhecido como Chambinho, era ele o responsável por gerenciar a propina oriunda de um contrato milionário da empresa de informática Consist no Ministério do Planejamento. O negócio rendeu comissões da ordem de 100 milhões de reais, dinheiro que, segundo a Polícia Federal, era dividido entre o PT e pessoas ligadas ao partido que haviam facilitado a celebração do contrato (a Paulo Bernardo, sustentam os investigadores, foram destinados 7 milhões de reais).
Em discurso no plenário do Senado, Gleisi Hoffmann fez um histórico de sua carreira política e dos 26 anos de vida partidária, disse que não havia motivos para prender o marido, já que ele tem endereço conhecido, e criticou o fato de seus advogados não terem conhecimento do teor das delações premiadas que os citam como beneficiários de dinheiro sujo.
"Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender o meu marido. Prisão injusta, ilegal, sem fatos, sem prova, sem processo. Aqui estou para apontar uma injustiça sentida na própria pele, o que aflige diariamente milhares de pessoas, homens e mulheres atingidos pelo abuso do poder legal e policial. A prisão de Paulo Bernardo foi um despropósito do princípio ao fim. Prisão preventiva? Prevenir o quê? Qual risco oferecia meu companheiro à ordem pública, à instrução processual, à aplicação da lei?", questionou.
A senadora voltou a vincular a prisão a uma suposta tentativa de influenciar o processo de impeachment que tramita contra a presidente afastada Dilma Rousseff e disse que a detenção do ex-ministro e os mandados de busca e apreensão em endereços dele são "gasto de dinheiro público desnecessário". "Sei das suas virtudes e dos seus defeitos e sei sobretudo o que não faria. Não faria uso do dinheiro alheio para benefício próprio, não admitiria desvio de recursos públicos para sua satisfação ou da família. Tenho certeza que não participou ou se beneficiou de um esquema, como estão acusando. Ele sabe que eu não o perdoaria, que sua mãe não o perdoaria", disse.
"A operação montada para busca e apreensão na nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram utilizados, força policial armada, muitos carros. Para que isso? Chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso. Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma. O que vemos é a mesma e repetida seletividade que vem marcando decisões do Ministério Público e de juízes que promovem carnavais midiáticos contra alguns políticos ao mesmo tempo em que protegem e retardam a decisão de outros sobre os quais há provas mais do que suficientes para uma ação contundente e definitiva", continuou a senadora.
Apoiada por parlamentares alinhados à Dilma, Gleisi Hoffmann disse ainda que a transmissão da prisão de Paulo Bernardo por emissoras de TV são um "terror". "O terror continuaria ainda durante boa parte sendo levado de aeroporto em aeroporto, sempre com a presença de câmeras de TV para transmitir ao vivo sua humilhação, a nossa impotência contra a violência, a nossa incapacidade de reação perante decisões meticulosamente anunciadas com o propósito prioritário de proporcionar espetáculo midiático sem confirmação de provas ou indícios concretos que deveriam constar nos autos. Ao longo do dia inteiro eu e meus filhos fomos submetidos a uma outra tortura, tortura da era moderna: a transmissão ao vivo da prisão de uma pessoa querida contra a qual não há prova de transgressão. A tortura atualmente é prender antes, sem provas e só soltar se ela falar algo do interesse dos investigadores", declarou.
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