Moro consulta Dilma sobre depoimento como testemunha de Odebrecht
Presidente da República afastada foi arrolada como testemunha do empreiteiro em ação penal em que ele é réu por associação criminosa e lavagem de dinheiro, acusado de comandar um departamento na Odebrecht destinado ao pagamento de propina
"Consulto Vossa Excelência acerca da possibilidade de prestar depoimento presencial perante este Juízo ou por videoconferência com a Justiça Federal de Brasília, ou ainda se prefere fazê-lo por escrito", escreveu Moro a Dilma, dirigindo-se a ela como "Excelentíssima Senhora Presidenta da República". O prazo estipulado pelo magistrado para que a presidente afastada se manifeste é de cinco dias. Já condenado a 19 anos e quatro meses de prisão na Lava Jato, Odebrecht arrolou como testemunhas, além de Dilma, os ex-ministros Guido Mantega, Antonio Palocci e Edinho Silva, e outras onze pessoas. A defesa de Marcelo Odebrecht não explicou no documento que testemunhos Dilma e os ex-ministros poderiam dar a seu favor, limitando-se apenas a dizer que é "imprescindível a oitiva" de todas as testemunhas listadas.
Conforme VEJA revelou em novembro de 2015, o senador cassado Delcídio do Amaral deixou uma reunião com a petista espantado com o que classificou como "autismo" da presidente e o aparente desconhecimento dela sobre o umbilical envolvimento financeiro do PT com as empreiteiras implicadas na Lava Jato. "Presidente, a prisão [de Marcelo Odebrecht] também é um problema seu, porque a Odebrecht pagou no exterior pelos serviços prestados por João Santana à sua campanha", disse o agora delator Delcídio a Dilma.
"Operações estruturadas" - As investigações da 26ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Xepa, escancararam o sistema de pagamento de propina instalado na Odebrecht: a empreiteira contava com um departamento exclusivo para pagamentos ilícitos, o Setor de Operações Estruturadas. Em depoimento prestado em acordo de delação premiada, a secretária Maria Lúcia Tavares revelou que todos os pagamentos paralelos deviam constar no sistema MyWebDay, uma espécie de 'intranet da propina' da Odebrecht. O sistema era de tal maneira organizado que altos executivos da empresa eram os responsáveis por liberar os pagamentos ilícitos.
O departamento da propina era composto, além de Maria Lúcia, de Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, superior hierárquico da secretária, e também de Ângela Palmeira Ferreira, Alyne Nascimento Borazo e Audenira Jesus Bezerra. As duas últimas davam apoio a Fernando Migliaccio da Silva, Luiz Eduardo da Rocha Soares e Hilberto Silva. Outros executivos de alto escalão também integravam o sistema - incluindo o herdeiro Marcelo Odebrecht.
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