Uso de bancos públicos para ajudar indústria mostra que Dilma persiste nos mesmos erros
Com apenas uma tacada, governo comete equívoco duplo: se compromete a dar estímulos num momento de escassez de recursos públicos e volta a selecionar setores específicos como alvo das benesses
Bancos públicos vão socorrer indústria oferecendo crédito mais barato
Caixa restringe (ainda mais) acesso ao crédito imobiliário
A ideia do governo, ao forçar juros mais baixos para empresas, é criar condições atrativas para o investimento privado num momento em que o BNDES não dispõe da musculatura de outros tempos para sustentar aportes à indústria. Em junho, os financiamentos do banco de fomento para empresas caíram 0,3%. Os cortes de gastos atingiram em cheio as operações do banco. Já as desonerações, que aliviam a carga tributária do setor produtivo, estão prestes a ser extintas em projeto de lei que pode ser aprovado pelo Senado ainda esta semana. Os setores da indústria escolhidos a dedo para receber o "empurrãozinho" tão costumeiro no primeiro governo Dilma obviamente receberam a notícia com euforia - e para eles tanto faz se o dinheiro vem do BNDES ou dos bancos públicos.
Um governo que padece de uma crise de confiança não poderia se dar ao luxo de usar a Caixa e o Banco do Brasil como braço executor de políticas de estímulo econômico.
Um governo que propõe pacotes como o desta terça-feira perde o direito de reclamar da existência de uma "pauta-bomba" do Congresso para aumentar o gasto público.
Um governo que ainda não aprovou o ajuste fiscal do qual depende a manutenção do grau de investimento do Brasil se mostra inconsequente em todos os seus níveis - da presidente, a quem foi atribuída a autoria da ideia, à ala insensata de sua equipe econômica.
Todos os bancos brasileiros sofreram, na última semana, corte em sua nota de investimento pela agência Moody's, e estão cada vez mais próximos do rebaixamento. Por comportamento pregresso, as agências não deverão fazer vista grossa às instituições públicas caso o pacote de bondades saia do papel. Sob o pretexto de ajudar a indústria, alimentando-a com uma ração atualmente insustentável, o governo coloca todo o Brasil, e não apenas setores escolhidos a dedo, mais próximo do precipício.
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