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Ortopedistas adotam técnica japonesa que congela osso para tratar câncer


Método prevê corte de osso doente, raspagem do tumor, imersão em nitrogênio líquido e reimplante 

Médicos brasileiros estão usando uma técnica de congelamento para tratar câncer nos ossos. Ainda pouco usado no Brasil, o método foi desenvolvido no Japão, onde é aplicado como rotina há 13 anos.

Funciona da seguinte maneira: o médico corta o osso doente, "descasca" o tumor que está por fora, raspa o tumor que está por dentro do osso e manda o material para análise patológica.
Em seguida, o osso "limpo" é mergulhado em um tanque com nitrogênio líquido, onde permanece por 25 minutos a uma temperatura de -193ºC. Depois disso, o osso é retirado e mergulhado em água destilada, em temperatura ambiente, para descongelar e ser reimplantado no paciente. O congelamento mata as células doentes e as sadias.
O tratamento convencional do câncer ósseo geralmente inclui sessões de quimioterapia e a realização de cirurgia para remoção do osso doente. Depois, no lugar, o paciente recebe uma prótese metálica ou um osso de doador (vindo de banco de ossos).
"O mais comum é usarmos próteses porque há poucos bancos de ossos no País. A vantagem dessa técnica do congelamento é que ela usa o osso do próprio paciente, com encaixe anatômico perfeito", afirmou Walter Meohas, oncologista do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e chefe do serviço de oncologia do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).
Pouco usado. Aqui, por enquanto, poucos centros conhecem e usam a técnica do congelamento. O pioneiro foi o ortopedista oncológico Márcio Moura, de Curitiba, que realizou a primeira cirurgia do tipo em 2003, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Desde então, ele já operou 67 pacientes e nenhum teve recidiva do tumor no osso - apenas um teve recidiva em tecidos moles. Ao menos 12 desses pacientes operaram há mais de cinco anos, nunca mais tiveram problemas, voltaram a caminhar normalmente e, portanto, são considerados curados do câncer ósseo.
Os resultados positivos do uso da técnica foram apresentados na quinta-feira no 8.º Congresso de Oncologia Ortopédica, em Tiradentes (MG). Ao menos 250 médicos se inscreveram para fazer o curso preparatório para aprender mais a técnica e poder usá-la em seus pacientes.
"Os resultados que temos são bastante promissores em relação ao uso da prótese. Estamos observando que o congelamento produz uma proteína que facilita a consolidação do osso, que se reintegra, ao contrário do enxerto de doador", diz Moura.
Vantagens. Uma das vantagens do congelamento do osso, segundo Moura, é que o paciente recebe de volta o próprio osso, não tem risco de rejeição e, em cerca de seis meses, o local volta a ser repovoado por células - o que não acontece quando ele coloca um enxerto de doador.
Além disso, diz Moura, as próteses metálicas têm uma sobrevida média de dez anos - quando precisam ser trocadas e o paciente tem de se submeter a outra cirurgia - e também são mais suscetíveis a infecções.
Segundo Moura, o congelamento também custa mais barato do que uma prótese. Ele diz que o preço de uma prótese metálica varia de R$ 5 mil a R$ 25 mil, enquanto o tonel com 20 litros de nitrogênio (o suficiente para a realização de duas cirurgias do tipo) custa R$ 200.
"Sai muito mais barato para o SUS e para os planos de saúde. Além disso, como se trata de osso do paciente, o risco de complicações ao longo do tempo é reduzido", afirmou o oncologista.
Meohas, do Inca, não concorda com o custo e diz que o osso reimplantado depois de ser congelado precisa de uma placa para se estabilizar - e essa placa também custa caro.
"Ela pode custar o valor da prótese. Além disso, uma desvantagem dessa técnica é que o osso reimplantado é um osso doente e desgastado, portanto, mais sujeito a fraturas. No Inca, usamos preferencialmente ossos de doadores", afirma.
Rodrigo de Andrade Gandra Peixoto, ortopedista oncológico e presidente do congresso em que a técnica foi apresentada, diz que essa será mais uma alternativa para o tratamento desse tipo de câncer. "Essa é uma técnica amplamente aceita e difundida. Os resultados são muito bons. Nosso objetivo é difundir seu uso para todo o País", diz.

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