Novo delator detalha propina e diz que corrupção era 'decisão empresarial' da Andrade Gutierrez
Mario Goes, que acaba de firmar acordo de colaboração, entregou informações sobre quinze movimentações financeiras até então desconhecidas
"[Mario Goes disse] que os serviços constantes do contrato nunca foram e não seriam prestados, que os valores indicados no contrato foram efetivamente pagos pela Andrade Gutierrez, que a integralidade do saldo da conta Phad à época adveio da Andrade Gutierrez", diz a transcriação do depoimento. De acordo com Goes, o esquema de pagamento de propina era uma "decisão empresarial" da Andrade Gutierrez.
O fluxo do propinoduto montado entre a Zagope e a Phad com a simulação de um contrato com a Andrade Gutierrez chegou a 6,42 milhões de dólares, segundo os investigadores. Com o auxílio de investigadores da Suíça e de outros depoimentos de delação premiada, o Ministério Público já havia detectado pelo menos 83 repasses de propina entre julho de 2006 e fevereiro de 2012 envolvendo contas do operador Mario Goes para contas correntes de Pedro Barusco, usadas também para o recolhimento de propina a Renato Duque. Nesse período, o esquema de propina envolvendo o trio movimentou expressivos 48,2 milhões de reais.
"Com o objetivo de ocultar e dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores que são oriundos dos diversos crimes, [os executivos da Andrade Gutierrez] Otávio Marques de Azevedo, Elton Negrão, Flávio Machado Filho e Antônio Pedro Campello valeram-se da empresa Zagope Angola, integrante do Grupo Andrade Gutierrez, para efetuar repasses ao operador Mario Goes no exterior, os quais posteriormente seriam destinados a Pedro Barusco e Renato Duque", relatou o MP ao juiz Sergio Moro.
Os procuradores afirmam que, para dar ares de veracidade à contratação de Mário Goes pela construtora Andrade Gutierrez, foram simulados contratos para a "prestação de serviços de consultoria com identificação de oportunidades de investimento nos setores de infraestrutura industrial, rodoviária, portuária, aeroportuária, imobiliária, de cimento na costa atlântica da África" e para a prospecção de oportunidades de investimento na área de óleo e gás na costa atlântica da África. Para os investigadores da Lava Jato, os contratos são "evidentemente falsos" porque a Phad Corporation era "uma empresa de fachada constituída no exterior apenas para a movimentação de recursos", e porque "Mario Goes não detinha expertise que justificasse a contratação".
Goes detalhou ainda como seria a participação de Antonio Pedro Campello, ex-diretor da Andrade, como distribuidor da propina paga pela empreiteira em negociações também no Brasil. Em um dos contratos, no valor de 5 milhões de reais, apenas 1,5 milhão de reais por serviços prestados - o restante, de acordo com o delator, era propina a ser direcionada a Pedro Barusco depois de "acertos" com a Andrade Gutierrez. Caberia a Campello, por exemplo, fazer pagamentos em espécie para Goes. A propina seria entregue pelo executivo na própria casa de Mario Goes em dinheiro vivo ou recolhida no prédio da empreiteira em São Paulo.
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