Levy é derrotado pela realidade; superávit será de 0,15% do PIB; o país já está em déficit primário
E o governo federal reduziu mesmo a meta de superávit primário de 1,1% do PIB para 0,15%, conforme antecipou a Folha na sua edição desta quarta. Um pequeno corte no corte de 86,36%. Governo que planeja é assim. Não custa lembrar que essa meta foi definida há coisa de cinco meses. Há três dias Joaquim Levy se mostrava contrário até a que se reduzisse a dita-cuja de 1,1% para 0,4%, conforme propunha o senador Romero Jucá (PMDB-RR), mais realista do que o governo, sim, mas, ainda assim, muito otimista.
Previ nesta manhã que a reserva esperada para a amortização dos juros da dívida ficaria em R$ 9 bilhões. O governo anunciou hoje que será algo entre R$ 8,5 bilhões e R$ 9 bilhões. Por que você deve acreditar? Bem, você não deve.
E a razão é simples, ditada pela lógica. A economia inicialmente prevista era de R$ 66,3 bilhões. Se bastaram 150 dias para que ela fosse capada em mais de R$ 57 bilhões, por que apostar que o governo vai mesmo conseguir economizar aqueles R$ 9 bilhões.
O erro de cálculo foi tamanho que mesmo esse 0,15% só se será alcançado, segundo o governo, com um bloqueio de R$ 8,6 bilhões.
Nesta manhã, afirmei que o país caminha para o déficit primário. Na verdade, os números divulgados pelo governo indicam que o país já está produzindo déficit primário: notem que o valor do novo corte do Orçamento praticamente coincide com tudo o que se espera economizar.
Os dados seguem devastadores para as contas públicas. O governo reduziu em R$ 46,7 bilhões a receita líquida esperada — ou quase 0,9% do PIB, mas a previsão de gastos aumentou em R$ 11,4 bilhões.
O ministro Joaquim Levy tentou fazer do limão uma limonada: “O objetivo é diminuir a incerteza da economia. Ao informarmos a meta que nós consideramos alcançável, adequada, segura diante do cenário que vivemos, nós damos uma informação importante para a economia”.
Ok. A verdade é melhor do que a mentira, mas é evidente que o que se tem aí não serve de consolo, não é? Não são números que estimulem os agentes econômicos. A queda da Receita é fruto direto da queda de arrecadação determinada pela recessão em curso. Mais corte de gastos oficiais implica um pouco mais de recessão.
A propósito: no período de 12 meses até maio, o setor público — que compreende o governo central, Estados, municípios e estatais — acumulou déficit de 0,68% do PIB. Nem que o Espírito Santo baixasse em Brasília se conseguiria fazer um superávit primário de 1,1%.
É cada vez mais frequente no mercado a previsão de que a recessão atingirá também o ano de 2016, o que jogaria a economia para uma tímida retomada só em 2017. Os petistas adoram comparar o país com uma casa, e o Orçamento da União com o orçamento doméstico.
Você entregaria as suas contas pessoais para essa turma gerenciar?
Trata-se, sim, de uma derrota gigantesca de Levy. Não que ele não tenha tentado fazer a sua parte. Mas está vendo que o navio é teimoso0 e se sente atraído pelo iceberg.
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