Pular para o conteúdo principal

Governo reduz meta fiscal e anuncia corte de R$ 8,6 bilhões

Meta passará de 1,1% para 0,15% do PIB, com aumento da previsão de gastos em 11,4 bilhões de reais este ano

Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, falam sobre a redução da meta de superávit primário deste ano, durante coletiva no ministério da Fazenda - 22/07/2015
Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, falam sobre a redução da meta de superávit primário deste ano, durante coletiva no ministério da Fazenda - 22/07/2015/Folhapress)
O governo federal anunciou nesta quarta-feira a realização de um corte adicional de 8,6 bilhões de reais no Orçamento de 2015. O Ministério da Fazenda também confirmou que vai propor ao Congresso uma redução severa da meta de superávit primário, que é a economia feita pelo governo para o pagamento dos juros da dívida, de 1,1% do Produto Interno Bruto (66, 3 bilhões de reais) para 0,15% (8,7 bilhões de reais). A queda da receita, segundo o ministro Joaquim Levy, virá acompanhada de aumento da previsão de gastos de 11,4 bilhões de reais. Daí a necessidade, segundo ele, de redução da meta. No início do ano, o governo anunciou um contingenciamento de despesas de 69 bilhões de reais.
Levy afirmou que a receita tem ficado abaixo do previsto - fato já apontado por economistas desde o segundo trimestre. A receita líquida prevista para 2015 recuou 46,7 bilhões de reais, quase 0,9% do PIB, para 1,11 trilhão de reais, enquanto a previsão de gasto aumentou os 11,4 bilhões anunciados nesta quarta. "O objetivo é diminuir a incerteza da economia. Ao informarmos a meta que nós consideramos alcançável, adequada, segura diante do cenário que vivemos, nós damos uma informação importante para a economia ", disse Levy, ao fazer o anúncio. Ele estava acompanhado do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que vem articulando junto ao Congresso a redução da meta fiscal.
LEIA TAMBÉM:
Segundo o ministro, os cortes serão feitos em despesas discricionárias, ou seja, não obrigatórias, enquanto o aumento das projeções de gastos se deve, sobretudo, a repasses ao abono salarial, seguro desemprego e seguro defeso. O detalhamento dos cortes será feito até o próximo dia 30, por decreto, e deve atingir investimentos e gastos de custeio de todos os ministérios.
O ministro explicou que a elevação de gastos é decorrente das mudanças feitas pelo Congresso Nacional nas Medidas Provisórias do ajuste fiscal enviadas pelo Executivo no primeiro trimestre. Ao redigir o relatório de programação orçamentária do trimestre passado, o governo considerava que o ajuste seria aprovado tal como previa o texto original. Como foram feitas modificações nesses itens, o ministro explicou que a projeção de gastos teve de ser revista. Também houve elevação nas projeções de despesas com segurança pública e defesa civil.
Levy afirmou ainda que a redução nas projeções de receita ainda não reproduz efeitos do ajuste fiscal. Segundo ele, trata-se de comportamento contracionista da economia (empresas e consumidores). O governo também anunciou redução da meta fiscal de 2016 e 2017 para, respectivamente, 0,7% e 1,3% do PIB. O objetivo anterior para cada um dos próximos dois anos era de 2% do PIB, porcentual que agora só deverá ser alcançado em 2018. Já o PIB deve recuar 1,5% este ano, mas voltará a crescer em 2016, ainda que pouco: 0,5%.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que poderá abater da meta fiscal deste ano até 26,4 bilhões de reais - expediente bastante usado no governo anterior para maquiar o cumprimento da meta. Contudo, diz o ministro, as razões são distintas. Ocorre que o governo fez sua projeção de arrecadação levando em conta as novas medidas anunciadas nas últimas semanas para incrementar a entrada de dinheiro nos cofres públicos, como a recuperação de débitos de empresas em atraso e a regularização de ativos no exterior. Contudo, caso as medidas provisórias não sejam aprovadas pelo Congresso, o ministro esclareceu que não pestanejará em abater os valores da meta deste ano. Na prática, se o governo fizer o abatimento, o país terá registrado déficit primário em 2015.
Quadro fiscal - Em 12 meses até maio, último dado disponível, o setor público brasileiro (governo central, Estados, municípios e estatais) acumulou déficit primário equivalente a 0,68% do Produto Interno Bruto (PIB).
O ministro Levy resistiu inicialmente a reduzir a meta por temer que enviaria o sinal errado aos mercados sobre o compromisso do governo com o ajuste fiscal. Levy disse na terça-feira que uma redução da meta não significaria o fim do ajuste. Pela maior parte da década passada o país registrou superávits primários acima de 3% do PIB à medida que controles de gastos mais rígidos e a bonança das commodities enchiam os cofres públicos.
Isso começou a mudar com a crise mundial de 2008/09, e no primeiro mandato da presidente Dilma foram concedidos bilhões de reais em isenções fiscais em uma tentativa fracassada de reanimar a economia estagnada.
Desde sua reeleição em outubro, Dilma adotou políticas mais amigáveis ao mercado e prometeu reequilibrar as contas públicas para evitar que o país perca o cobiçado grau de investimento. No entanto, a forte queda na arrecadação tributária causada pela desaceleração econômica acabou com as esperanças do governo de atingir sua meta original.
A atual expectativa dos economistas semanalmente ouvidos pelo Banco Central na pesquisa Focus é de que o Produto Interno Bruto (PIB) encolha 1,70% neste ano e cresça apenas 0,33% em 2016. Há projeções bem mais pessimistas, como a do Itaú, que vê contração da atividade de 2,2% este ano e de 0,2% no próximo.
 
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular