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Yoani Sánchez critica omissão do Brasil sobre direitos humanos em Cuba


Blogueira e dissidente cubana participou de evento no 'Estado' e disse que o governo deve ter 'posicionamento mais firme'



A blogueira e dissidente cubana e colunista do Estado, Yoani Sánchez, criticou, nesta quinta-feira, 21, a omissão do Brasil com relação à situação dos direitos humanos em Cuba, após elogiar que a relação entre os dois países tenha se estreitado nos últimos anos. (Leia aqui as principais falas da cubana durante o evento).
Yoani fala sobre a relação Cuba-Brasil - Robson Fernandjes/Estadão
 
Yoani fala sobre a relação Cuba-Brasil
"O Brasil está ajudando e apoiando Cuba, mas acho que faltou dureza ou franqueza ao tratar a questão dos direitos humanos na ilha. No caso do Brasil, houve omissão. Não sou diplomata, mas recomendaria um posicionamento mais firme porque o povo não esquece", disse a cubana durante evento do Estado, com a presença dos jornalistas Roberto Lameirinhas, editor de Internacional de O Estado de S. Paulo, e Lourival Sant' Anna, repórter especial e colunista da Rádio Estadão.
Liberdade de expressão
Questionada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre o que achava da frase da presidente Dilma Rousseff (PT) de que é melhor o ruído da imprensa livre ao silêncio de uma ditadura, Yoani respondeu: "essa é uma frase que me encanta. Eu gosto muito dela porque essa é minha causa de luta, minha vida."
A blogueira, durante toda a sua visita ao Brasil, elogiou o direito de manifestação existente no Brasil e diversas vezes lembrou que vive "em um país onde as pessoas não podem protestar". Nesta quinta-feira, no entanto, a dissidente cubana criticou o fato de algumas manifestações contra ela no Brasil terem se tornado atos violentos. "Acredito que todos têm o direito de protestar, a favor ou contra alguma coisa ou alguém, inclusive com relação a mim. Mas, quando se ultrapassa o limite da liberdade de expressão, do protesto, para a violência verbal e até para a violência física, isso não é democracia, mas sim fanatismo."
Yoani chegou ao Brasil na segunda-feira 18 e foi recebida, no aeroporto de Recife, por manifestantes contrários a sua presença no País. Os mesmos protestos se repetiram no aeroporto de Salvador e em Feira de Santana (BA), quando a exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras, do cineasta Dado Galvão, precisou ser cancelada.
Mídia
Durante o evento no Estado, Yoani também comentou a regulação da mídia em países da América Latina, ressaltando que é importante haver responsabilidade por parte dos veículos de imprensa, mas é preciso tomar cuidado para que isso não seja feito em nome de um objetivo político. "Quando se fala em regular os meios (de comunicação) há que ter muito cuidado porque há uma linha tênue entre chamar a responsabilidade dos meios e a censura. É preciso ser muito cuidadoso e acredito que a regulação de meios deva ocorrer a nível de leis, da legalidade e não de governos, porque cada governo tem seus interesses."
Sobre a atuação da mídia em Cuba, a blogueira disse ser "frustrante ler o Granma (principal jornal cubano)". "Há um esteriótipo de que em Cuba temos uma imprensa livre, não é verdade, temos uma imprensa privada. A imprensa cubana segue uma linha: Cuba é o paraíso e o resto é um inferno…A imprensa tem uma função de trincheira ideológica e não de informação."
Reformas
"Raúl Castro implementou uma série de reformas, principalmente no campo econômico. Reformas que vão na direção correta, na direção da abertura. Reformas que pretendem flexibilizar, melhorar a condição de vida dos cubanos, mas têm uma grande limitação: vão a um ritmo muito lento. Apesar de a reforma migratória (que possibilitou a saída da blogueira de Cuba) ser insuficiente, acredito que ela não seria possível no governo de Fidel", disse Yoani ao ser questionada sobre as diferenças entre os governos de Fidel e Raúl Castro.
Para a cubana, Fidel queria ter o controle de "cada aspecto da vida nacional, desde as roupas que vestíamos, o café que tomávamos, até as viagens que fazíamos."
Sobre o tipo de regime existente em Cuba, Yoani disse não acreditar que se trata de um socialismo. "Não acredito que em Cuba haja socialismo nem que estamos perto do comunismo. Na época dos subsídios soviéticos, houve experiências de distribuição equitativa, mas agora, essa é minha opinião pessoal, não sou especialista, vivemos um capitalismo de Estado, de um clã familiar, onde o patrão não é o rico, nem o burguês, mas o governo."

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