Yoani Sánchez critica omissão do Brasil sobre direitos humanos em Cuba
Blogueira e dissidente cubana participou de evento no 'Estado' e disse que o governo deve ter 'posicionamento mais firme'
A blogueira e dissidente cubana e colunista do
Estado, Yoani Sánchez, criticou, nesta quinta-feira, 21, a
omissão do Brasil com relação à situação dos direitos humanos em Cuba, após
elogiar que a relação entre os dois países tenha se estreitado nos últimos anos.
(Leia
aqui as principais falas da cubana durante o evento).
Veja
também:
ÁUDIO: Escute entrevista de Yoani para a Rádio Estadão
Cenário: Oposição aproveita melhor politicamente visita de blogueira cubana
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Yoani fala sobre a relação
Cuba-Brasil
Liberdade de expressão
Questionada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre o que achava da frase da presidente Dilma Rousseff (PT) de que é melhor o ruído da imprensa livre ao silêncio de uma ditadura, Yoani respondeu: "essa é uma frase que me encanta. Eu gosto muito dela porque essa é minha causa de luta, minha vida."
A blogueira, durante toda a sua visita ao Brasil,
elogiou
o direito de manifestação existente no Brasil e diversas vezes lembrou que vive
"em um país onde as pessoas não podem protestar". Nesta
quinta-feira, no entanto, a dissidente cubana criticou o fato de algumas
manifestações contra ela no Brasil terem se tornado atos violentos. "Acredito
que todos têm o direito de protestar, a favor ou contra alguma coisa ou alguém,
inclusive com relação a mim. Mas, quando se ultrapassa o limite da liberdade de
expressão, do protesto, para a violência verbal e até para a violência física,
isso não é democracia, mas sim fanatismo."
Yoani chegou ao Brasil na segunda-feira 18 e foi recebida, no aeroporto de
Recife, por manifestantes contrários a sua presença no País. Os mesmos protestos
se repetiram no aeroporto de Salvador e em Feira de Santana (BA), quando a
exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras, do cineasta Dado Galvão,
precisou ser cancelada.
A
partir de então, a blogueira passou a ser escoltada nos lugares que
ia. Antes de vir a São Paulo, ela esteve em Brasília, onde passou
pelo Congresso Nacional e se deparou com manifestações favoráveis e
contrárias ao fato de estar no Brasil.
MídiaDurante o evento no Estado, Yoani também comentou a regulação da mídia em países da América Latina, ressaltando que é importante haver responsabilidade por parte dos veículos de imprensa, mas é preciso tomar cuidado para que isso não seja feito em nome de um objetivo político. "Quando se fala em regular os meios (de comunicação) há que ter muito cuidado porque há uma linha tênue entre chamar a responsabilidade dos meios e a censura. É preciso ser muito cuidadoso e acredito que a regulação de meios deva ocorrer a nível de leis, da legalidade e não de governos, porque cada governo tem seus interesses."
Sobre a atuação da mídia em Cuba, a blogueira disse ser "frustrante ler o Granma (principal jornal cubano)". "Há um esteriótipo de que em Cuba temos uma imprensa livre, não é verdade, temos uma imprensa privada. A imprensa cubana segue uma linha: Cuba é o paraíso e o resto é um inferno…A imprensa tem uma função de trincheira ideológica e não de informação."
Reformas
"Raúl Castro implementou uma série de reformas, principalmente no campo econômico. Reformas que vão na direção correta, na direção da abertura. Reformas que pretendem flexibilizar, melhorar a condição de vida dos cubanos, mas têm uma grande limitação: vão a um ritmo muito lento. Apesar de a reforma migratória (que possibilitou a saída da blogueira de Cuba) ser insuficiente, acredito que ela não seria possível no governo de Fidel", disse Yoani ao ser questionada sobre as diferenças entre os governos de Fidel e Raúl Castro.
Para a cubana, Fidel queria ter o controle de "cada aspecto da vida nacional, desde as roupas que vestíamos, o café que tomávamos, até as viagens que fazíamos."
Sobre o tipo de regime existente em Cuba, Yoani disse não acreditar que se trata de um socialismo. "Não acredito que em Cuba haja socialismo nem que estamos perto do comunismo. Na época dos subsídios soviéticos, houve experiências de distribuição equitativa, mas agora, essa é minha opinião pessoal, não sou especialista, vivemos um capitalismo de Estado, de um clã familiar, onde o patrão não é o rico, nem o burguês, mas o governo."
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