Ex-comunista é favorito para derrotar Berlusconi e chefiar governo na Itália
Partido Democrático, liderado pelo professor Pier Luigi Bersani, está à frente nas pesquisas para votação de hoje e amanhã
PARIS - Giovanni Allegretti votou antes dos 51 milhões de italianos que vão
às urnas entre hoje e amanhã. Morador de Portugal, ele usufruiu de seu status de
expatriado para depositar seu voto antes da maioria. Em seguida, tomou um avião
e, na sexta-feira, fez campanha em Milão pela vitória de Pier Luigi Bersani,
líder do Partido Democrático (PD), de centro esquerda, favorito nas eleições que
definirão o novo governo da Itália.
Giovanni, que trabalha como pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, vota em Bersani por duas razões: pela honestidade e o pelo fato de ser o único em condições de vencer o magnata Silvio Berlusconi. Como milhões de italianos, ele aposta no ex-comunista por sua credibilidade e pela certeza de virar a página de escândalos e crises protagonizadas em três mandatos do "Cavaliere". "Voto em Bersani porque ele tem o melhor comportamento ético", disse o sociólogo.
Apelidado por analistas como o "reformista tranquilo", Bersani representa a renovação do PD. Nascido em 1951 em Bettola, região de Emilia-Romagna, norte do país, o provável novo premiê é um professor de filosofia transformado em líder político. Ex-militante do Partido Comunista Italiano (PCI), ele ajudou a fundar, nos anos 90, o partido Democratas de Esquerda (DS), embrião do atual PD, pelos quais foi ministro da Indústria e do Desenvolvimento nos dois governos do social-democrata Romano Prodi, entre 1990 e 2000.
Em dezembro de 2012, venceu nas primárias um dos destaques do partido, o prefeito de Florença, Matteo Renzi, que, apesar de seus 37 anos, representava a velha guarda do partido. Com isso, se qualificou para a disputa do cargo de presidente do Conselho de Ministros, o equivalente ao primeiro-ministro da Itália.
Depois de dois meses de uma campanha de baixo nível, marcada pela pouca discussão sobre projetos políticos, pela concentração do debate em torno dos impostos e por críticas populistas ao euro e à União Europeia, Bersani chega como favorito, superando Berlusconi. De acordo com a média das últimas pesquisas, o ex-comunista tem 34,9% das intenções de voto, contra 29% de Berlusconi e 16,4% do candidato "antissistema" Beppe Grillo, fenômeno populista. O atual premiê, Mario Monti, preferido os investidores estrangeiros, faz uma campanha medíocre, registrando apenas 13,7% da preferência.
Se fragmentação se confirmar, será uma revolução na vida política do país. "É um voto histórico que decreta o fim da bipolaridade que caracterizava a Itália", afirma o cientista político Fabio Liberti, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) de Paris.
Para Marc Lazar, professor de política da Universidade Luiss Guido Carli, de Roma, a eleição também deve representar o fim de uma época na Itália: a era Berlusconi. Três vezes premiê, célebre por escândalos de corrupção, ele deve se ver contestado dentro de sua própria coalizão. "O desempenho de Berlusconi vai colocar sua sucessão na mesa", diz Lazar.
Para os analistas ouvidos pelo Estado, a vitória de Bersani significaria um governo de centro esquerda moderado, principalmente se ele não obtiver maioria no Senado. Nesse caso, ele será forçado a fazer uma coalizão com Monti. Esse cenário já é tratado publicamente até por dirigentes do PD.
"Monti representa um partido de centro-direita liberal, moderno, representativo do mundo patronal e das empresas italianas. É alguém com quem se pode dialogar", diz Beatrice Biagini, presidente da Assembleia do Partido Democrático no Exterior, que confirmou a tendência de um governo de coalizão.
Se assumir o poder, o governo Bersani-Monti terá múltiplos desafios. O primeiro é interno: reverter o descrédito da classe política e dos partidos, considerados confiáveis por apenas 4% da população. O segundo é reformar a terceira maior economia da zona do euro.
Além de pouco competitiva, a Itália deve o equivalente a 127,3% de seu PIB, em um momento em que a economia encolheu 2,2%, em 2012, e 2,9 milhões estão desempregados. "Mesmo sendo de centro-esquerda, Bersani terá de reforçar as políticas Monti de austeridade, de flexibilidade do mercado de trabalho e de redução dos salários", afirma o economista Pascal de Lima, da Escola de Altos Estudos Comerciais de Paris. "A vitória de Bersani não mudará o futuro imediato da Itália."
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Berlusconi dá entrevista polêmica antes de eleição
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Giovanni, que trabalha como pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, vota em Bersani por duas razões: pela honestidade e o pelo fato de ser o único em condições de vencer o magnata Silvio Berlusconi. Como milhões de italianos, ele aposta no ex-comunista por sua credibilidade e pela certeza de virar a página de escândalos e crises protagonizadas em três mandatos do "Cavaliere". "Voto em Bersani porque ele tem o melhor comportamento ético", disse o sociólogo.
Apelidado por analistas como o "reformista tranquilo", Bersani representa a renovação do PD. Nascido em 1951 em Bettola, região de Emilia-Romagna, norte do país, o provável novo premiê é um professor de filosofia transformado em líder político. Ex-militante do Partido Comunista Italiano (PCI), ele ajudou a fundar, nos anos 90, o partido Democratas de Esquerda (DS), embrião do atual PD, pelos quais foi ministro da Indústria e do Desenvolvimento nos dois governos do social-democrata Romano Prodi, entre 1990 e 2000.
Em dezembro de 2012, venceu nas primárias um dos destaques do partido, o prefeito de Florença, Matteo Renzi, que, apesar de seus 37 anos, representava a velha guarda do partido. Com isso, se qualificou para a disputa do cargo de presidente do Conselho de Ministros, o equivalente ao primeiro-ministro da Itália.
Depois de dois meses de uma campanha de baixo nível, marcada pela pouca discussão sobre projetos políticos, pela concentração do debate em torno dos impostos e por críticas populistas ao euro e à União Europeia, Bersani chega como favorito, superando Berlusconi. De acordo com a média das últimas pesquisas, o ex-comunista tem 34,9% das intenções de voto, contra 29% de Berlusconi e 16,4% do candidato "antissistema" Beppe Grillo, fenômeno populista. O atual premiê, Mario Monti, preferido os investidores estrangeiros, faz uma campanha medíocre, registrando apenas 13,7% da preferência.
Se fragmentação se confirmar, será uma revolução na vida política do país. "É um voto histórico que decreta o fim da bipolaridade que caracterizava a Itália", afirma o cientista político Fabio Liberti, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) de Paris.
Para Marc Lazar, professor de política da Universidade Luiss Guido Carli, de Roma, a eleição também deve representar o fim de uma época na Itália: a era Berlusconi. Três vezes premiê, célebre por escândalos de corrupção, ele deve se ver contestado dentro de sua própria coalizão. "O desempenho de Berlusconi vai colocar sua sucessão na mesa", diz Lazar.
Para os analistas ouvidos pelo Estado, a vitória de Bersani significaria um governo de centro esquerda moderado, principalmente se ele não obtiver maioria no Senado. Nesse caso, ele será forçado a fazer uma coalizão com Monti. Esse cenário já é tratado publicamente até por dirigentes do PD.
"Monti representa um partido de centro-direita liberal, moderno, representativo do mundo patronal e das empresas italianas. É alguém com quem se pode dialogar", diz Beatrice Biagini, presidente da Assembleia do Partido Democrático no Exterior, que confirmou a tendência de um governo de coalizão.
Se assumir o poder, o governo Bersani-Monti terá múltiplos desafios. O primeiro é interno: reverter o descrédito da classe política e dos partidos, considerados confiáveis por apenas 4% da população. O segundo é reformar a terceira maior economia da zona do euro.
Além de pouco competitiva, a Itália deve o equivalente a 127,3% de seu PIB, em um momento em que a economia encolheu 2,2%, em 2012, e 2,9 milhões estão desempregados. "Mesmo sendo de centro-esquerda, Bersani terá de reforçar as políticas Monti de austeridade, de flexibilidade do mercado de trabalho e de redução dos salários", afirma o economista Pascal de Lima, da Escola de Altos Estudos Comerciais de Paris. "A vitória de Bersani não mudará o futuro imediato da Itália."
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