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Para salvar Cunha, assinatura de deputado do Conselho de Ética foi falsificada

Peritos afirmam a jornal que carta de renúncia do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP), utilizada na sessão que aceitou o processo de cassação, não é válida

Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em sessão do Congresso - 02/03/2016
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (AFP)
A manobra para tentar evitar o processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolveu até a falsificação de uma assinatura. Dois especialistas, técnicos em graftocnia ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo, disseram que a renúncia do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) do Conselho de Ética, na sessão que aprovou a abertura de investigação contra Cunha, foi forjada. Segundo eles, a falsificação é "grosseira" e "primária". A denúncia está na edição desta quarta-feira do jornal.
Aliado e voto declarado a favor de Cunha, Gurgel não estava em Brasília na noite de 1º de março e na madrugada do dia 2, quando o Conselho de Ética decidiu investigar se o peemedebista ocultou contas bancárias secretas na Suíça e se ele mentiu sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras, no ano passado. Para evitar que o suplente de Gurgel, um deputado do PT e contrário a Cunha, votasse, era preciso que Gurgel renunciasse.
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A fim de atrasar a votação no Conselho - que só poderia ocorrer após o plenário encerrar as atividades - até que a renúncia chegasse, Cunha esticou a sessão, de forma atípica, até depois das 23 horas. A carta de renúncia de Gurgel chegou ao Conselho às 22h40. Segundo o jornal, a indicação para a vaga, do líder da bancada Maurício Quintella Lessa (AL), que votou a favor de Cunha, chegou seis minutos depois, às 22h46. A votação do processo que pode culminar na cassação do mandato de Cunha foi apertada e terminou com 11 votos a 10.
Uma cópia da carta de renúncia de Gurgel e três assinaturas do deputado apresentadas anteriormente ao Conselho de Ética e reconhecidamente autênticas, foram encaminhadas pela Folha à perícia. O Instituto Del Picchia, de São Paulo, emitiu laudo afirmando que a assinatura da carta de renúncia tem características "peculiares às falsificações produzidas por processo de imitação lenta, quais seja, imitação servil ou decalque", com "inequívocos índices primários das falsificações gráficas".
Os peritos Maria Regina Hellmeister e Orlando Garcia - que integrou, oficialmente, a CPI que investigou o esquema PC Faria, em 1990 - afirmam que os exames comparativos mostram variados antagonistas gráficos, que levam à conclusão de que a assinatura é "produto de falsificação grosseira".
Ao jornal, o deputado Vinícius Gurgel disse que a falsificação apontada pode decorrer de uma ressaca. "Se eu assinei com pressa, se eu tava [de] porre, se eu tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me batendo por isso", afirmou. "Não tô, assim, justificando nem tirando a coisa. Eu bebo. Podia estar de ressaca. Quando a pessoa está de ressaca, não escreve do mesmo jeito, fica tremendo, acho que tinha bebido um dia antes, assinei com pressa no aeroporto, pode não ter sido igual, rabisquei lá."
"A assinatura realmente era minha, acho que tinha bebido muito no dia anterior, estava de ressaca, assinei com pressa, e não posso fazer nada se eles acham que não é minha", concluiu. O deputado também disse que informou ao PR por telefone sua intenção de renúncia e que deixou diversas cartas de renúncia assinadas em seu gabinete. Sobre isso, ele justificou que era para impedir que o suplente do PT assumisse e votasse contra Cunha.
Já Maurício Quintella Lessa afirmou que recebeu a carta da assessoria de Gurgel e negou interferência de Cunha.

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