Marcelo Odebrecht mandou apagar software de propina, diz delegado
Paulo Lisboa - 1º.set.2015/Efe | ||
Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht |
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A expressão "higienizar apetrechos" encontrada no celular de Marcelo Odebrecht –preso em uma das fases da Operação Lava Jato– é um indicativo segundo a Polícia Federal de que o então diretor-presidente da empreiteira ordenava aos subordinados que fosse apagado o software desenvolvido especialmente para o "departamento de propina" da empresa.A afirmação é do delegado Márcio Adriano Anselmo, um dos integrantes da Operação Lava Jato, e foi dada após a entrevista coletiva sobre a 26ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (22).
O chamado setor de operações estruturais no interior da Odebrecht, que efetuava pagamentos dentro do país e também no exterior, com funcionários próprios e hierarquia estruturada, comunicação própria e pagamentos vultosos feitos em espécie, é o alvo da nova etapa.
Somente em duas contas ligadas a esse setor paralelo estima-se R$ 91 milhões em pagamentos suspeitos de serem ilícitos.
Segundo o delegado Anselmo, o software da propina foi destruído em julho do ano passado. Apesar de a prisão de Odebrecht ter ocorrido no segundo semestre, diz o delegado, as mensagens no celular são anteriores a julho, e poderiam, portanto, indicar uma ordem direta de destruir o sistema.
De acordo com os procuradores da Lava Jato, o esquema continuou mesmo depois de Marcelo Odebrecht ter sido preso, em junho do ano passado.
A principal chave da PF e do Ministério Público Federal para se chegar ao conhecimento de que havia um software detalhado desse setor de propinas foi a apreensão de documentos na casa de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht em Salvador.
Como a Folha revelou, ela fechou acordo de delação premiada e passou a colaborar com as autoridades. Tavares é, até o momento, a única pessoa relacionada à Odebrecht que aceitou a delação, segundo a procuradora Laura Tesler, da força-tarefa da Lava Jato.
Apesar de o software ter sido destruído, Tavares imprimiu parte das telas do programa que apontam para a propina, como um balanço final, e guardou os papéis impressos em sua casa. Foi possível reunir a contabilidade detalhada somente dos anos de 2014 e 2015, mas a PF estima que o setor paralelo irregular funcionou dentro da Odebrecht por cerca de seis anos.
A Procuradoria apontou para a sofisticação e agilidade do setor, ao conseguir reunir em espécie altos valores e efetuar esses pagamentos geralmente em flats e hotéis.
"Esse setor tinha funcionários exclusivamente para essa prática ilícita e, usando codinomes e sistema específico entre eles de comunicação, faziam pagamentos de quantidades expressivas. Levantavam R$ 9 milhões de um dia para outro, isso em espécie", afirmou a procuradora.
Os investigadores não revelaram o valor total que pode ter saído das contas deste setor paralelo para pagar propina, mas em duas das contas, que nas tabelas são chamadas de Carioquinha e Paulistinha, os valores somam R$ 90 milhões. O esquema envolveu de 25 a 30 pessoas que receberam o dinheiro ilícito, e os pagamentos foram feitos centenas de vezes.
Em nota, a Odebrecht confirmou que foram cumpridos mandados de prisão, de condução coercitiva e de busca e apreensão em escritórios do grupo e na casa de executivos. "A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários".
DESDOBRAMENTO
Desdobramento da 23ª fase, chamada "Acarajé", a nova etapa da Lava Jato recebeu o nome de "Xepa". Estão sendo cumpridos ao todo 110 ordens judiciais, sendo 67 de busca e apreensão, 28 de condução coercitiva, 11 de prisão temporária e 4 de prisão preventiva.
Na 23ª fase, chamada "Acarajé", o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram presos –o casal trabalhou nas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014.
A ação desta terça envolve 380 policiais federais e é realizada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco.
Os alvos de condução coercitiva prestarão depoimentos nas cidades em que se encontram. Os suspeitos presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Os investigados responderão pelos crimes de lavagem de capitais, corrupção, organização criminosa e evasão de divisas.
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