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O conto do mau velhinho: por que Bernie Sanders é um atraso de vida

Aura de fidelidade a antigas ideias que ajuda o candidato no desafio Hillary engana ingênuos


Punho fechado e cérebro idem: Sanders tem saudade do stalinismo
Punho fechado e cérebro idem: Sanders tem saudade do stalinismo
Nos intervalos dos longos momentos em que se dedicam a odiar Donald Trump, os bem-intencionados porém mal informados às vezes suspiram de encanto com Bernie Sanders, o desconhecido senador pelo estado de Vermont que subitamente ganhou popularidade como um Davi enfrentando a Golias, no caso Hillary Clinton, para ganhar a candidatura presidencial pelo Partido Democrata. A vitória dele nas primárias no Alaska, no Havaí e no estado de Washington renovou o entusiasmo de seus partidários, na maioria jovens de esquerda.
“Mentirosa”, “duas caras” e “enrolada” em escândalos é como os defensores de Sanders costumam se referir, não sem razão, a Hillary. Além da rejeição a ela, Sanders também é favorecido pela aura de azarão, que sempre desperta simpatias (exceto, naturalmente, se o cavalo sem chances, mas bom de corrida, for Donald Trump).
Sanders explora o fato de que Hillary é a candidata por excelência do establishment, tendo enriquecido de maneira escandalosa com palestras superfaturadas pagas, entre outros, pela encarnação do mal, o banco de investimento Goldman Sachs, e doações suspeitas à Fundação Clinton.
A rejeição de parte do eleitorado ao peque-e-pague de políticos também explica por que Trump atrai simpatizantes, com o sinal inverso. A campanha de Sanders é mantida por pequenas doações e a de Trump com dinheiro próprio. É por isso que ele pode exibir e até aumentar sua fortuna, que diz ser de 10 bilhões de dólares: isso rende a Trump a imagem de independência.
Sanders era o único senador independente, ou seja, nem do Partido Democrata nem do Republicano – entrou para o primeiro com o objetivo de disputar a candidatura com Hillary. Nunca teve nem uma única tomada de posição que o distinguisse como senador ou o tornasse conhecido além das fronteiras de Vermont, um estado de paisagens deslumbrantes e eleitores outrora conservadores, como é comum entre a população que vive do campo.
Proveniente da tradicional esquerda judaica do Brooklyn, em Nova York, Sanders se mudou para Vermont e acabou eleito prefeito da maior cidade do estado, Burlington. Atenção: a maior cidade de Vermont tem 42 mil habitantes. Por causa da beleza natural e do isolamento, ganhou uma população meio ecologista, meio riponga, que se adaptou ao jeitão simples dos locais. Imaginem uma cidade habitada por sósias de Michael Moore, o cineasta de boné eternamente grudado na cabeça. Ele, claro, é grande entusiasta de Sanders.
Ao se apresentar como socialista, Sanders ganha a imagem de candidato alternativo e surpreendente para um país como os Estados Unidos. É, em primeiro lugar, uma mentira. Ele na verdade é simpatizante do minúsculo e ferreamente stalinista Partido Comunista dos Estados Unidos. O partidão deles, na realidade um partidinho, só perdeu a torneirinha de dinheiro dos patronos em 1989, por não aceitar as reformas que Mikhail Gorbachev estava implantando.
A União Soviética acabou pouco depois. A distância do comunismo real é uma das explicações aventadas para o fato de que, entre jovens americanos, 36% dizem ter opinião favorável ao socialismo, contra 39% com simpatias pelo capitalismo. A situação é muito diferente para a população mais velha, que associa uma ideologia falida a um bloco falido, o soviético. Os mais velhos dos jovens americanos atuais tinham oito anos de idade quando o Muro de Berlim caiu.
Para muitos da geração mais jovem, socialismo é distribuição de renda e de benefícios. Mesmo entre os que não foram doutrinados pela fábrica de imbecilidades pseudo-esquerdistas em que se transformaram as universidades americanas, como tantas outras, as simpatias “socialistas” são compreensíveis.
Pagar o ensino superior particular se tornou absurdamente caro nos Estados Unidos e causa revolta natural ver os fat cats, os super-milionários donos dos grandes bancos e seus altos executivos se beneficiarem do dinheiro injetado na crise de 2008 para salvar o país e o resto do mundo da falência. São os mesmos beneficiados que despejam dinheiro na campanha de Hillary e, antes dela, na de Barack Obama.
Bernie Sanders casou-se em 1988 com Jane O’Meara, de família irlandesa católica, que tinha três filhos de casamento anterior. Ele era prefeito e foi passar a lua-de-mel numa cidade irmã de Burlington, Yaroslavl, no coração gelado da Rússia. Conhecida pelas lindas igrejas ortodoxas, a cidade ainda vivia sob o regime soviético quando recebeu a visita da comitiva de Burlington – sim, a viagem foi em grupo. O sistema foi muito elogiado pelo hoje considerado bom velhinho, de 74 anos. Os russos não devem ter entendido nada.
Ser fiel a ideias erradas não constitui virtude, e sim tê-las tido e admitir seu equívoco. O velhinho stalinista pelo menos tem algo, modestamente, em comum com seus correlatos. Jane, a mulher dele, foi reitora do Burlington College, uma universidade alternativa. Os céus sabem o que é isso. Endividou a instituição com a compra de uma grande área para construir um novo campus e encerrou a desastrosa gestão com um pacote de 200 mil dólares. Isso não é considerado nem troco em certas regiões de São Bernardo, mas é um dinheirão em Burlington.

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