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Com Dilma, economia retrocede dez anos em dois

Selic a 12,75%, inflação acima de 7% e dólar a R$ 3,24: governo colhe os frutos de políticas equivocadas que trouxeram uma década de retrocesso

Presidente Dilma
Em 2015: políticas equivocadas fazem Brasil viver déjà vu macroeconômico(/Reuters)
"O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele nos pode dar é sempre menos do que nos pode tirar". A frase proferida pelo economista e ex-ministro Roberto Campos, morto em 2001, remonta à década de 1970, mas não causaria estranhamento se fosse dita em 2015. O atual desenho macroeconômico do Brasil - com juros a 12,75%, inflação acima de 7% e dólar a 3,24 reais - mostra os efeitos danosos de uma política de governo intervencionista executada pela presidente Dilma Rousseff desde 2011 e que, agora, cobra seu preço. Diante dos ajustes necessários para que o país não sucumba a uma crise mais aguda, as medidas de subsídios, desonerações e estímulos têm sido desarmadas. Os impostos, elevados. E os brasileiros se deparam com problemas que há mais de uma década pareciam vencidos. Terão de pagar um preço alto para financiar o conserto dos fundamentos econômicos que balizavam o Brasil de outros tempos, mas que foram sistematicamente rompidos. Há cerca de dois anos, o país passa por uma deterioração econômica apenas comparável à era Collor - e esse tombo fez com que uma década de avanços virasse pó.
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Na tentativa de manter, a todo custo, o crescimento vigoroso registrado em 2010, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou 7,5%, o governo Dilma empreendeu uma mudança drástica de filosofia. Se o lulismo pregava uma política econômica ainda com viés desenvolvimentista, porém, com algum pragmatismo, a sucessora, no intuito de 'deixar sua marca', resolveu trocar a orquestra e a música. Numa espécie de anexação do Banco Central e do Ministério da Fazenda como secretarias do Palácio do Planalto, a presidente interferiu no câmbio, na taxa de juros e ofereceu subsídios à indústria nacional com o intuito de reduzir a dependência das importações. "Houve um afastamento paulatino dos instrumentos que compõem o tripé de política econômica, o qual garantiu a consolidação da estabilidade da economia conseguida com o Plano Real, além de intervenções na formação de preços em alguns mercados (energia elétrica e combustíveis), com efeitos importantes sobre a economia", afirma Gesner Oliveira, da GO Associados.
Indicadores
Indicadores(VEJA.com/VEJA.com)
A sinalização da presidente frustrou observadores econômicos e os donos do dinheiro. Contudo, como o Brasil ainda era a bola da vez em 2011, a frustração demorou pelo menos dois anos para se transformar num sentimento generalizado. Com isso, a partir de 2013, o país assistiu a uma piora progressiva de seus indicadores econômicos - tanto aqueles que reproduzem a economia real quanto os que capturam expectativas futuras. De lá pra cá, as consequências se tornaram visíveis na indústria, no investimento, no mercado de trabalho, e, em última instância, na renda dos brasileiros, que é corroída pela inflação e juros mais altos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, está atualmente em 7,70% em 12 meses até fevereiro, o maior nível desde maio de 2005, quando atingiu 8,05%. Já a Selic está em 12,75%, o maior patamar desde janeiro de 2008.
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Um número exemplar do retrocesso é o consumo das famílias brasileiras, mensurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e que responde por 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Tal indicador tem sido o catalisador do crescimento há pelo menos dez anos, mas deve começar a ruir em 2015. A previsão da Tendências Consultoria é de um recuo de 0,1% - o primeiro desempenho negativo desde 2003, quando caiu 0,8%.
Do lado produtivo, a indústria também não tem nada a comemorar - e não é de hoje. O setor acumula queda de 3,15% em 12 meses até janeiro, o resultado negativo mais intenso desde janeiro de 2010 (- 4,8%). E mesmo o dólar a 3,24 reais não deve resolver os problemas do setor. Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, lembra que "a mesma mão que afaga, estapeia". Traduzindo: a moeda mais cara beneficia quem exporta, mas penaliza quem depende de insumos importados. Empresas que têm dívidas cotadas em moeda americana também podem ser pegas desprevenidas. De qualquer forma, a atual cotação confere algum alívio. "Se não fosse isso, a indústria doméstica não teria chance. De qualquer forma, o ano de 2015 já está desenhado como ruim", diz.
O retrocesso não ocorre apenas do ponto de vista macroeconômico. O economista Alexandre Schwartsman pondera que o que mais preocupa é a piora significativa observada no ambiente de negócios. "Temos um intervencionismo crescente, a paralisação de uma agenda importante que tínhamos avançado. De forma geral, temos um retrocesso claríssimo em diversas dimensões." Ele critica a errática agenda microeconômica adotada desde 2011, que privilegia determinados setores e empresas, e diz que, em relação à macroeconomia, ainda falta uma liderança por parte da presidente. "Dilma terceiriza o que é que mais importante. Colocou Levy na linha de frente e se escondeu atrás dele", diz, referindo-se à condução do ajuste fiscal que foi colocado em prática este ano no intuito de reverter os problemas. Uma das consequências mais preocupantes é o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. A situação do país está sendo olhada com lupa por agências de classificação de risco, como Standard & Poor's (S&P) e Fitch.
Gráfico setores
Gráfico setores(VEJA.com/VEJA.com)
Neste cenário nebuloso, aumentou o "risco-Brasil", indicador que aponta, em linhas gerais, a percepção dos investidores em relação à capacidade do país de honrar suas dívidas. Segundo o Embi+Br, calculado pelo banco JP Morgan, o "risco-Brasil" estava em 338 pontos na última sexta-feira, o maior patamar desde maio de 2009, auge da crise financeira internacional. "Vale lembrar que a tendência é de alta, considerando o agravamento das crises político e econômica, incluindo os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras. Tudo isso deixa o mercado muito mais temeroso", afirma Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
Para o economista Otto Nogami, do Insper, a principal diferença entre a conjuntura atual e a dos anos 2000 é o sentimento dos agentes do mercado. Se, naquela década, a sensação era de que as coisas poderiam melhorar, o que se apresenta agora é um cenário de constante deterioração. "No início da década passada, ainda vivíamos um processo de recuperação, após a implementação do Plano Real. Tivemos uma melhoria do ambiente externo, uma busca por equilíbrio macroeconômico interno, que marcaram os dois governos do presidente Lula", lembrou Nogami. A conjuntura atual, no entanto, espelha visão oposta. Em diversos setores, índices de confiança atingem mínimas históricas, de acordo com sondagens elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Na indústria, por exemplo, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu em fevereiro o menor patamar desde abril de 2009.
Há uma tentativa incisiva do governo, capitaneada pelo ministro Levy, de reverter a situação. Não porque a presidente acredite que tenha feito algo errado. Prova disso é que dias atrás, diante de uma crítica feita por Levy a políticas passadas, o governo rebateu como represália, classificando a crítica como "infeliz". As medidas que o ministro briga para implementar atingem em cheio o bolso do trabalhador, em especial aquelas que reduzem benefícios trabalhistas. São duras, mas necessárias. O povo brada reparação, pois se sente enganado pelas promessas de manutenção das políticas feitas durante as eleições. O petrolão acrescenta pólvora à indignação. E a presidente, até o momento, parece fechar os olhos ao problema.
(Com reportagem de Teo Cury)

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