Com Dilma, economia retrocede dez anos em dois
Selic a 12,75%, inflação acima de 7% e dólar a R$ 3,24: governo colhe os frutos de políticas equivocadas que trouxeram uma década de retrocesso
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Do lado produtivo, a indústria também não tem nada a comemorar - e não é de hoje. O setor acumula queda de 3,15% em 12 meses até janeiro, o resultado negativo mais intenso desde janeiro de 2010 (- 4,8%). E mesmo o dólar a 3,24 reais não deve resolver os problemas do setor. Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, lembra que "a mesma mão que afaga, estapeia". Traduzindo: a moeda mais cara beneficia quem exporta, mas penaliza quem depende de insumos importados. Empresas que têm dívidas cotadas em moeda americana também podem ser pegas desprevenidas. De qualquer forma, a atual cotação confere algum alívio. "Se não fosse isso, a indústria doméstica não teria chance. De qualquer forma, o ano de 2015 já está desenhado como ruim", diz.
O retrocesso não ocorre apenas do ponto de vista macroeconômico. O economista Alexandre Schwartsman pondera que o que mais preocupa é a piora significativa observada no ambiente de negócios. "Temos um intervencionismo crescente, a paralisação de uma agenda importante que tínhamos avançado. De forma geral, temos um retrocesso claríssimo em diversas dimensões." Ele critica a errática agenda microeconômica adotada desde 2011, que privilegia determinados setores e empresas, e diz que, em relação à macroeconomia, ainda falta uma liderança por parte da presidente. "Dilma terceiriza o que é que mais importante. Colocou Levy na linha de frente e se escondeu atrás dele", diz, referindo-se à condução do ajuste fiscal que foi colocado em prática este ano no intuito de reverter os problemas. Uma das consequências mais preocupantes é o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. A situação do país está sendo olhada com lupa por agências de classificação de risco, como Standard & Poor's (S&P) e Fitch.
Para o economista Otto Nogami, do Insper, a principal diferença entre a conjuntura atual e a dos anos 2000 é o sentimento dos agentes do mercado. Se, naquela década, a sensação era de que as coisas poderiam melhorar, o que se apresenta agora é um cenário de constante deterioração. "No início da década passada, ainda vivíamos um processo de recuperação, após a implementação do Plano Real. Tivemos uma melhoria do ambiente externo, uma busca por equilíbrio macroeconômico interno, que marcaram os dois governos do presidente Lula", lembrou Nogami. A conjuntura atual, no entanto, espelha visão oposta. Em diversos setores, índices de confiança atingem mínimas históricas, de acordo com sondagens elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Na indústria, por exemplo, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu em fevereiro o menor patamar desde abril de 2009.
Há uma tentativa incisiva do governo, capitaneada pelo ministro Levy, de reverter a situação. Não porque a presidente acredite que tenha feito algo errado. Prova disso é que dias atrás, diante de uma crítica feita por Levy a políticas passadas, o governo rebateu como represália, classificando a crítica como "infeliz". As medidas que o ministro briga para implementar atingem em cheio o bolso do trabalhador, em especial aquelas que reduzem benefícios trabalhistas. São duras, mas necessárias. O povo brada reparação, pois se sente enganado pelas promessas de manutenção das políticas feitas durante as eleições. O petrolão acrescenta pólvora à indignação. E a presidente, até o momento, parece fechar os olhos ao problema.
(Com reportagem de Teo Cury)
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