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O conteúdo de um documento da Secom, a Secretaria de Comunicação do governo federal, cujo titular é Thomas Traumann, veio a público nesta terça, revelado pelo portal estadão.com.br. Não tem assinatura. Não dá para saber se o autor é ou não o ministro. O que dá para assegurar é que ali estão elencadas algumas propostas francamente ilegais e passos de uma guerra suja. Agora é para valer: o texto admite que os ditos “blogs progressistas”, popularmente conhecidos como “blogs sujos”, trabalham de maneira coordenada com o governo. Não é novidade, é claro! O que é novo é o governo admitir isso, ainda que em documento apócrifo. Assim, leitor, fique sabendo: sempre que, em uma das páginas dos puxa-sacos, aparecer um ataque a ministros do Supremo, juízes, jornalistas e imprensa independente, essa página está a serviço do governo.
É estupefaciente que um órgão oficial, que lida com dinheiro público, escreva isto. Leiam:
“As responsabilidades da comunicação oficial do governo federal e as do PT/Instituto Lula/bancada/blogueiros são distintas. As ações das páginas do governo e das forças políticas que apoiam Dilma precisam ser muito melhor (sic) coordenadas e com missões claras. É natural que o governo (este ou qualquer outro) tenha uma comunicação mais conservadora, centrada na divulgação de conteúdos e dados oficiais. A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele.”
Notaram? Os “blogueiros”, financiados por estatais e por propaganda do próprio governo, são considerados parte da “comunicação oficial”, bem como o Instituto Lula e o PT. E o texto deixa muito claro que a esses blogs não cabe a divulgação de “conteúdos e dados oficiais”. Não! O governo fornece a “munição”, mas quem dispara são os “soldados de fora”. É asqueroso!
Há um trecho ainda mais revelador. Helena Chagas, ex-titular da Secom, foi derrubada do cargo por Franklin Martins. Quando caiu, os ditos “blogueiros progressistas” — os blogs sujos — estavam em guerra com ela porque ela havia diminuído o repasse de dinheiro para a turma. Sem falar em valores, o documento elaborado pelo órgão sob os cuidados de Traumann admite (leiam com atenção):
“O início do primeiro governo Dilma (…) foi de rompimento com a militância digital. A defesa ferrenha dos direitos autorais pelo Ministério da Cultura e o fim do diálogo com os blogues pela Secom geraram um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014.”
Ô Thomas! Explique aqui para este blogueiro não progressista o que quer dizer “fim do diálogo com os blogues (sic) pela Secom”. Não peço que explique a gramática porque inexplicável. Só o conteúdo. O que quer dizer “diálogo”, Thomas? Os blogueiros sujos telefonavam em busca de uma informação, e a Secom não atendia? E o que significa o restabelecimento do “diálogo” em 2014, em pleno ano eleitoral? Quanto custa esse diálogo?
Sabem o que é impressionante? Quem quer que seja o autor dessa estrovenga pegou o problema pelo avesso. Os blogs sujos, que disparam com munição fornecida pelo governo, hoje mais prejudicam a presidente Dilma do que ajudam. E a Secom quer dobrar a dose de um remédio que está dando errado. Pergunto: é lícito um governo usar uma rede de difamadores? É lícito um governo financiar páginas destinadas a cantar seus feitos? É lícito um governo fornecer “munição” para pistoleiros?
Haddad
O texto da Secom segue adiante, propondo ilegalidades escancaradas. Uma delas é esta:
“A publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo, reforçando as parcerias com a Prefeitura. Não há como recuperar a imagem do governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad. Há uma relação direta entre um e outro.”
O que se tem aí é a disposição anunciada de violar o Parágrafo 1º do Artigo 37 da Constituição, que estabelece:
“§ 1º – A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.”
O texto da Secom deixa claro que o objetivo da publicidade FEDERAL será “ajudar a levantar” a popularidade do prefeito.
A coisa não para por aí, não. Prestem atenção a isto aqui:
“É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando, numa mesma coordenação, a Voz do Brasil, as páginas de sites, twitter e Facebook de todos os ministérios, o Facebook da Dilma e a Agência Brasil.”
Como? O Facebook de Dilma, informa-se lá, é administrado pelo PT. A “Voz do Brasil” é uma imposição legal do Estado brasileiro — infelizmente! —, não do governo. Que se saiba, a Agência Brasil diz atuar com neutralidade. De novo: como órgão estatal, não pode estar a serviço do poder de turno nem se confundir com a militância partidária.
Congresso
Thomas Traumann tem de ser convidado a explicar a deputados e senadores o conteúdo desse documento. Algumas questões:
a: quanto custa o diálogo do governo com os tais “blogs progressistas”, também conhecidos como “sujos”, que veiculam anúncios oficiais e servem para atacar adversários do PT e do governo?;
b: o que quer dizer fornecer “munição” para “soldados de fora”?;
c: como o governo federal pretende usar a publicidade para “levantar a popularidade” de Haddad?;
d: como pretende submeter a uma mesma coordenação o Facebook de Dilma (que é do PT), a Voz do Brasil e a Agência Brasil?
Bobagem
A imprensa tem dado relevo ao fato de que o texto admite o “caos político” no país. Grande coisa! Quem precisa da Secom pra isso? Sem contar que acho a palavra “caos” um óbvio exagero. Não sei se o texto é de autoria do Traumann, mas me parece que o redator, ele ou outro, encarece o problema para tornar mais urgente as soluções erradas e ilegais que aponta. A esta altura, não tenho dúvida de que Dilma as acatará. Em matéria de tiro no pé, nunca antes na história destepaiz se viu algo parecido.
O texto da Secom, além das óbvias ilegalidades que propõe, flerta com a guerra suja. Acredite, presidente Dilma: é o caminho para o abismo. Além, suponho, de custar caro. Mas, nesse caso, sei, quem paga é a população, né?
Por Reinaldo Azevedo

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