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Venezuela: Oficialismo promete Constituinte em 72 horas, e oposição convoca marchas

Mortes marcam ápice da repressão em dia de eleição com baixo comparecimento


Manifestante ferido recebe ajuda de médicos durante confrontos em protesto em dia de eleição da Constituinte de Maduro - RONALDO SCHEMIDT / AFP

CARACAS — Após as urnas terem fechado na eleição de uma Assembleia Constituinte para a Venezuela, o número 2 do oficialismo, Diosdado Cabello, disse que o órgão será instalado em no máximo 72 horas, ignorando mais uma vez os pedidos da comunidade internacional para que o governo recue. A oposição convocou novas marchas contra a instauração do órgão para segunda e quarta-feira em todo o país. A perspectiva é que a violência continue após a votação decretada pelo presidente Nicolás Maduro, marcada pela árdua repressão e também pelo baixo comparecimento. Pelo menos 14 pessoas morreram durante protestos ao longo do dia.
— A Assembleia Nacional Constituinte já é um fato, se instalará em um lapso de 72 horas no máximo ou até em 24 horas. O tempo não nos afeta — disse Cabello, braço-direito de Maduro e candidato à Constituinte.
Longe da festa democrática prometida pelo governo Maduro, a eleição para formar sua polêmica Assembleia Constituinte realizada neste domingo foi totalmente ofuscada pela violência feroz dos corpos de segurança do Estado. A repressão alcançou seu auge, e as imagens de manifestantes sendo atacados e detidos de forma arbitrária circularam durante todo o dia, enquanto os centros de votação montados pelo governo chavista registraram uma participação muito inferior à esperada.
— Não reconhecemos este processo fraudulento. Para nós é nulo, não existe — disse o líder opositor Henrique Capriles.
Ainda não foram divulgados dados oficiais, mas dirigentes da oposição e analistas locais calcularam que, nas estimativas mais otimistas para o governo, cerca de 2,2 milhões de venezuelanos (do total de 19,5 milhões de eleitores) votaram na Constituinte de Maduro — embora Diosdado Cabello, número 2 do chavismo e candidato da Constituinte comemorasse recorde de participação popular. Espera-se que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgue resultado bem acima desse número, que a oposição já antecipou que não reconhecerá.
  • Nicolás Maduro e Diosdado Cabello acenam em Caracas Foto: Ariana Cubillos / AP

    O número dois

    Diosdado Cabello foi presidente da Assembleia Nacional e é o único chavista abaixo de Nicolás Maduro. Aliado de Hugo Chávez no golpe fracassado de 1992, foi presidente provisório em 2002 (na breve derrubada do colega), mas também governador e ministro. Desqualifica toda a oposição e é da ala mais radical do chavismo.
O processo eleitoral venezuelano foi rechaçado pelos governos de Argentina, Peru, Canadá, Colômbia, Panamá e Estados Unidos. O Itamaraty, por sua vez, lamentou em nota que a Venezuela tenha ignorado os pedidos da comunidade internacional para desistir do pleito e instou as autoridades a suspenderem o que considera um novo passo de agravamento à crise política. Não informou, no entanto, se reconhecerá ou não o resultado da votação.
A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Nikki Haley, definiu a votação como uma “farsa”: “É mais um passo em direção à ditadura”, condenou, em sua conta no Twitter. “O povo e a democracia venezuelanos prevalecerão”. De acordo com o Wall Street Journal, a Casa Branca estaria se preparando para anunciar, talvez hoje mesmo, sanções econômicas contra o setor petrolífero venezuelano.
Já o governo do presidente da Argentina, Mauricio Macri, afirmou que o governo venezuelano ignorou os “apelos da comunidade internacional” e de países do Mercosul: “A eleição de hoje não respeita a vontade de mais de sete milhões de cidadãos venezuelanos que se pronunciaram contra sua realização. A Argentina não reconhecerá os resultados desta eleição ilegal”.
O Peru definiu a Constituinte venezuelana como “ilegítima” e exortou Maduro a garantir um “autêntico diálogo nacional”. Já a Secretaria de Comunicação do governo panamenho divulgou um comunicado anunciando que não reconheceria o resultado devido aos “vícios que já estão identificados neste processo”. O rechaço da Colômbia foi antecipado pelo presidente Juan Manuel Santos, semana passada.


Leia mais: https://oglobo.globo.com/mundo/venezuela-oficialismo-promete-constituinte-em-72-horas-oposicao-convoca-marchas-21649608#ixzz4oOmR5qzi
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