Oposição acredita que governo pode 'sangrar' até votação da denúncia
Líder do PT diz que deputados sofrerão pressão em suas bases durante o recesso
BRASÍLIA — Se teve uma vitória expressiva na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o presidente Michel Temer não teve o mesmo sucesso na estratégia de liquidar a primeira das três denúncias da Procuradoria Geral da República (PGR) ainda em julho, antes do recesso parlamentar. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou que ficou para dia 2 de agosto a votação em plenário da denúncia por corrução passiva do procurador geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer. Para parlamentares da oposição, o governo pode "sangrar" até a data.
O adiamento deixa o presidente Michel Temer vulnerável ao impacto de novas delações que estão sendo fechadas e que podem complicar a votação, entre elas, a do doleiro Lúcio Funaro. Agora, o Congresso entra em recesso até início de agosto. PP e PTB queriam forçar uma sessão na segunda, mas não havia parlamentares para isso.
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O deputado José Guimarães (PT-CE) garantiu que foi a oposição que pressionou para jogar a votação para agosto, para deixar o governo sangrando durante o recesso.
O líder do PT na Câmara, Carlos Zaratini (SP), disse que a estratégia da oposição, ao jogar a votação para agosto, é que os deputados trocados pelo governo na CCJ sofram a pressão das bases durante o recesso.
— Nesse período, os deputados vão ter contato com a suas bases e optar entre ficar com o povo brasileiro ou ficar com as benesses do Palácio, as emendas parlamentares e cargos oferecidos nos últimos dias — disse Zaratini.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), afirmou que a estratégia da oposição é não facilitar, no dia marcado para a votação do relatório de Abi-Ackel, que o quorum mínimo seja obtido.
— A oposição vai ficar todinha do lado de fora do plenário, esperando a sessão começar — avisou Molon, com o apoio da petista Maria do Rosário.
— Quem tem que colocar o quórum no plenário para livrar Michel temer, e que parece que está com vergonha disso, são os membros do governo, os deputados que estão negociando com o governo, lamentavelmente, os seus mandatos. Nós da oposição não queremos votar agora por um simples motivo: nós queremos levar esse debate para conversar com a população — disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
LÍDER DO GOVERNO: "NÃO TEMOS PRESSA"
O líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), disse que é a oposição que tem o desafio de colocar 342 em plenário e tentar derrubar a denúncia. A ideia é que nesta sexta-feira os aliados que estiverem em Brasília marquem presença, apenas para deixar claro que a oposição é quem decidiu começar o recesso mais cedo. Os aliados estão otimistas e acham que a correlação de forças mudou com o rolo compressor na CCJ, quando derrotaram o parecer de Sergio Zveiter pela denúncia.
— Não temos pressa. Quem quer votar a denúncia são eles, da oposição — afirmou Moura.
Na mesma linha, o presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), disse que o governo não tem pressa.
— O presidente não tem pressa, quem tem que ter quorum mínimo é a oposição. Então cabe à oposição ir atrás dos votos. O que o governo tem que fazer é governar, e o governo está governando. Vamos trabalhar. Pode ser que até 31 de dezembro de 2018, se eles conseguirem, a gente bota para votar. Senão vão processar o próximo presidente. Por mim, a gente nem votava — disse Jucá ao GLOBO, à noite, durante a sessão do Congresso.
DATA ACORDADA ENTRE BASE E OPOSIÇÃO
A data para a votação da denúncia foi fechada durante encontro entre líderes da base aliada e da oposição após a votação na CCJ.
— Houve acordo na data, dia 2 de agosto. Vamos começar às 9h desta data e espero que à noite teremos isso encerrado. Assim que se atingir o quorum de 342 em plenário, se iniciará a votação. Foi a proposta tanto da base como da oposição — disse Maia.
Os governistas adotaram o discurso de que agora, com essa primeira vitória, não há necessidade de ter pressa. O governo quer explorar o discurso de que o ônus de colocar 342 em plenário para aprovar a denúncia é da oposição, que não tem esses votos. Na prática, nem o governo tinha o quorum de 342 votos necessários para iniciar a votação nesta sexta-feira ou na segunda-feira, e nem a oposição tinha os votos para derrubar a denúncia.
Até a oposição propôs no início da noite um acordo para que a data fosse marcada para 2 de agosto. Os aliados do presidente Michel Temer fizeram um esforço, que não teve sucesso, para assegurar a presença de 342 deputados em plenário no começo da próxima semana.
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