Temer ignora votos contrários do PSDB e defende paz com tucanos
Presidente tenta neutralizar ‘centrão’, que cobiça cargos no Governo.
BRASÍLIA — O presidente Michel Temer lançou uma ofensiva para tentar reduzir a tensão em alas do PSDB, hoje o mais incômodo aliado do governo, e ampliar a gordura de votos para barrar a denúncia em plenário. Ao longo do fim de semana, o presidente ligou para ministros tucanos para abafar o desconforto provocado por especulações de que poderia tirá-los do cargo e, na segunda-feira, recebeu no Planalto o ministro das Cidades, Bruno Araújo, que vinha sinalizando a possibilidade de pedir para deixar o governo. O discurso feito aos tucanos foi de pacificação, e os ministros foram avisados de que, ao menos antes de votada a denúncia em plenário, não há previsão de alterações no primeiro escalão.
— Temer continua tendo os ministros do PSDB na mais alta conta — minimizou um interlocutor.
Apesar de o PSDB não ter entregue os votos para barrar a denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara — apenas dois dos cinco deputados se posicionaram a favor do presidente —, Temer resolveu focar na “linha de convergência” com os partidos da base.
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Já os partidos do chamado “Centrão”, que apoiou Temer na CCJ, são vistos com certa desconfiança no governo, já que seus deputados são menos comprometidos com as reformas. O Palácio do Planalto já foi avisado, também, de que haverá defecções nessas legendas na hora de votar a denúncia em plenário. Por conta disso, a especulação sobre a troca de ministros tucanos é tratada no governo como “intriga do Centrão”.
— O governo está trabalhando com as convergências. Hoje há compromisso do PSDB com as reformas, e se houver votações em plenário, tanto de MPs, projetos como a denúncia, temos tranquilidade que contamos com votos inclusive do PSDB — disse um assessor palaciano.
Alberto Goldman, um dos vice-presidentes do PSDB, afirmou que não se preocupa com as investidas do grupo que forma o Centrão:
— Não é problema do PSDB. Temer faça o que quiser. Nada muda — afirmou.
O caso mais emblemático no PSDB é o do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PE), o único dos ministros tucanos com mandato parlamentar a não fazer uma defesa pública do governo desde que foi divulgada a delação da JBS. Ao contrário, chegou a demonstrar disposição para deixar o cargo e defendeu o desembarque do PSDB do governo. Apesar disso, a relação com Temer, segundo interlocutores disseram ao GLOBO, está “totalmente pacificada”.
O orçamento robusto da pasta que Bruno ocupa desperta o interesse dos partidos do Centrão, responsáveis, em grande medida, pela vitória de Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Essas legendas pressionam por mais espaços no governo.
— Os outros partidos aliados gostariam de ter mais espaços no governo, o Ministério das Cidades é importante, mas hoje está nas mãos do Bruno e não está ofertado a quem quer que seja — disse um interlocutor do presidente.
DEFESA DE VERBAS LIBERADAS
Na segunda-feira, para sepultar as especulações de uma eventual troca de comando da pasta, Temer recebeu Bruno Araújo no Palácio. O assunto oficial foi o lançamento do programa Cartão Reforma. Num gesto de aproximação, o presidente deve comparecer, ao lado do ministro, ao lançamento do programa nesta quarta-feira, em Caruaru, em Pernambuco, estado natal de Araújo. O programa, que pretende atender ao menos 85 mil famílias este ano, dá a famílias com renda menor de R$ 2.811 a possibilidade de receber até R$ 9 mil para compra de materiais de construção.
Ministros estão otimistas com a possibilidade de o PSDB entregar mais votos para barrar a denúncia contra Temer no plenário da Câmara. Segundo levantamento de governistas, hoje já haveria mais votos pró-Temer na bancada do que contrários. Mesmo assim, segundo enquete do GLOBO, Temer ganhou, na segunda, mais dois votos de deputados tucanos contrários a ele.
Após O GLOBO publicar no domingo que o governo liberou R$ 15,3 bilhões em programas e verbas para estados e municípios, como forma de aceno a parlamentares, o Planalto soltou nota para defender a medida. “A liberação de recursos para municípios trata-se de procedimento absolutamente normal. Tais recursos serão utilizados obedecendo a critérios como seleção pública e avaliação de risco de crédito. (...) Quanto às emendas parlamentares mencionadas, esclarece que trata-se de um procedimento obrigatório previsto na Constituição”.
(Colaborou Maria Lima)
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