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O martírio de Lula – ou como construir uma figura mítica
Foto: Reprodução/ Francisco Proner Ramos
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva remeteu ontem uma carta ao Sindicato dos Metalúrgicos em que se compara ao então príncipe Dom Pedro, quando o mesmo decidiu ficar no Brasil ao invés de retornar a Portugal. No entanto, ao invés de “Dia do Fico”, Lula afirmou que o país teria o “Dia do Volto” para celebrar o retorno dele ao poder depois de ficar preso em Curitiba (PR). Esse episódio foi apenas mais um no processo de construção do mito em torno do petista.

Dom Pedro, que depois viria a se tornar o primeiro imperador do Brasil, entrou para a história como o grande nome da independência de Portugal – mesmo que outras figuras tenham atuação mais importante nos bastidores. E, por mais que o imperador tenha abandonado o país enquanto o próprio filho tinha apenas cinco anos e o Brasil tenha passado por regências conturbadas, o português segue no imaginário popular como um herói da independência.

Mas essa foi apenas uma referência histórica usada por Lula. Outro exemplo dessa estratégia de mitificação do petista aconteceu há pouco mais de uma semana. Preso desde o dia 7 de abril após ser condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula adiou o marco dos 100 dias na cadeia para se comparar a Nelson Mandela no dia em que o líder sul-africano completaria 100 anos de vida. Gigante para resistir à cultura do apartheid, Mandela se tornou um ícone mundial ao ficar preso por não concordar com injustiças na África do Sul. Seria uma figura comparável a Lula na concepção do petismo.

Ao longo do processo judicial que culminou com a prisão de Lula foram inúmeras as oportunidades em que o ex-presidente se aproveitou da imagem construída durante toda a vida para reforçar que há uma injustiça em curso. O petista nunca soube de nada, nunca fez nada e sequer teve ciência de que havia irregularidades, mesmo que atos pouco republicanos acontecessem na sala ao lado no Palácio do Planalto.

São inúmeros os momentos em que é possível listar que há o esforço deliberado para construir um mito em torno de Lula. Facilita a identificação com a população brasileira, sempre dependente da formação de um herói e cujo imaginário comporta até mesmo anti-heróis como símbolos de uma nação. Afinal, adotar um malvado favorito chegou a ser um esporte nos últimos tempos.

E, para que não esqueçamos que tudo não passa de um processo planejado, não custa lembrar do espaço de tempo entre a decretação da prisão do ex-presidente e o momento em que ele efetivamente se entregou à Polícia Federal. Foram cerca de dois dias cercado pela militância no bunker que se transformou o Sindicato dos Metalúrgicos para sair carregado sob os olhos atentos de milhões de brasileiros. A imagem perfeita para um candidato à Presidência que insiste na tese de ser tão injustiçado quanto os próprios brasileiros.

Mesmo que não haja um “Dia do Volto”, como propôs o ex-presidente, a eleição de 2018 será marcada pela fabricação de Lula ainda mais heroico e redentor da nação. Será a confirmação de que o Brasil precisa de um mártir e que o PT e Lula estão dispostos a se transformarem em um, independente dos nomes que apareçam nas urnas em outubro. Como a história vai contar sua trajetória no futuro, isso é outra estória.

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