HADDAD E BOULOS DIVERGEM SOBRE PLEBISCITOS E REFERENDOS
Encontro aconteceu na Casa ÉPOCA & Vogue, na Flip 2018, e agitou o centro histórico de Paraty
Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e potencial candidato à Presidência da República pelo PT, e Guilherme Boulos, candidato presidencial do PSOL, divergiram em debate na Casa ÉPOCA & Vogue na Flip 2018 sobre o que um governo de esquerda precisa fazer para conseguir implantar seus projetos sociais e suas propostas em favor das minorias.
Para Haddad, líderes de esquerda com grande força política conseguem impor uma agenda progressista mesmo com maiorias conservadoras no Congresso. Citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção e lavagem de dinheiro, que conseguiu fazer avançar a agenda social apesar de interesses contrários no parlamento. "O Lula sempre sentou à mesa para negociar sem perder sua perspectiva de classe, o que ele representava".
Boulos afirmou que o governo de coalizão está "falido" e que não é possível fazer acertos com o chamado centrão ou com o MDB. Para o candidato, o Brasil vive uma democracia de "baixíssima intensidade" e é preciso refundar o sistema político por meio da participação popular, através de plebiscitos e de referendos. "Nenhuma instituição abre mão de seus privilégios de bom grado. As grandes mudanças vêm de fora para dentro das instituições. A ditadura acabou porque foi muita gente para a rua, os movimentos sociais pipocavam".
Sem criticar diretamente os 13 anos dos governos petistas, disse que, muitas vezes, a esquerda se confundiu "com a mesmice política, com as mesmas velhas práticas que sempre condenou". Por isso, não é difícil entender por que, quando "se chamou o povo para lutar contra o golpe que colocou o Temer no poder, ninguém veio". Exemplificou também com jovens de periferia que pretendem votar em Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência. "Isso acontece porque a esquerda não foi capaz de apontar um caminho para esse jovem".
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Haddad disse que não faltou pressão popular nos governos petistas. Segundo ele, a expansão de vagas em universidades, o Plano Nacional de Educação e o piso salarial do magistério só aconteceram por conta da pressão de militantes que defendiam a importância dessa agenda. Não se pode imaginar que o próximo Congresso será muito diferente do atual. "Vai ter centrão, vai ter bancada da bala, vai ter bancada da Bíblia, vai ter esquerda e direita", uma realidade que exige capacidade de negociação. "Se a gente estiver à frente do Executivo, com tudo isso é possível avançar". Mesmo com um Congresso semelhante ao atual, não seja possível avançar na agenda social. "O governo não ficará refém do Congresso", disse, contestando a afirmação de Boulos de que essa será a realidade se não houver mobilização popular.
Disse ter dúvidas sobre a proposta do candidato do PSOL de submeter a plebiscito ou referendo temas relativos a direitos de minoria - como o aborto e o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo - "porque o risco de a maioria submeter a minoria é muito grande". Lembrou que, por isso, existem cláusulas pétreas na Constituição para garantir os direitos de minorias. Não descarta, porém, o uso eventual de consultas diretas à população.
Haddad defendeu a necessidade da regulação da mídia para, segundo ele, blindar o estado democrático de direito. "É preciso enfrentar o debate sobre a mídia. Não dá para meia dúzia de políticos terem concessão de rádio e TV, tudo dominado por grandes grupos de comunicação".
O debate na Casa ÉPOCA & Vogue, que foi mediado por Letícia Sander, diretora da sucursal ÉPOCA/ O Globo em São Paulo, mudou a rotina Flip. Uma multidão tomou a Rua da Matriz, no centro histórico de Paraty, e tentava acompanhar de fora da casa as intervenções de Haddad e Boulos - alguns gritaram, durante o debate, "Lula livre", "Fora Temer" e "Globo golpista".
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