Em resposta a Trump, Europa busca aliados em política e comércio na Ásia
Divergências entre Washington e Bruxelas e o aumento de tarifas aduaneiras sobre importação de aço e alumínio aceleraram a reorientação da UE para o Extremo Orient/ Paris, O Estado de S.Paulo
PARIS - Depois da conturbada turnê europeia do presidente dos EUA, Donald Trump, e de uma nova rodada de hostilidades contra seus aliados europeus – considerados por ele “inimigos” em termos de negócios –, a União Europeia acelerou a reorientação de sua política externa e comercial para a Ásia. Na última semana, um acordo de livre-comércio foi assinado com o Japão – o maior da história –, além de um compromisso de comércio multilateral com a China.
As divergências entre Washington e Bruxelas cresceram nas últimas semanas. Depois que a Casa Branca anunciou o aumento de tarifas aduaneiras sobre as importações de aço, em 25%, e de alumínio, em 10%, um dos principais pontos da agenda política e econômica europeia e americana, o livre-comércio, vem se transformando em um tema de divergências crescentes.
Ao fim de uma reunião da Otan, na qual Trump exigiu mais dinheiro dos aliados – a quem chamou de “inimigos” –, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, sintetizou o sentimento do grupo: “Não podemos mais depender dos EUA.”
O assunto é tão delicado que na última semana o Círculo dos Economistas, grupo de reflexão fundado em 1992 por 30 profissionais da área e acadêmicos, recomendou à União Europeia que forme uma “aliança multilateral” para combater a visão isolacionista do presidente americano e lance um projeto euroafricano para construção de infraestrutura – distribuição de água e energia – no continente.
A recomendação vem repercutindo nos meios econômicos e financeiros. O país da Europa que deve ser mais afetado pelo aumento das tarifas alfandegárias por parte dos EUA é a Alemanha, que exporta todos os anos 810 mil toneladas de aço para os americanos.
No entanto, todo o continente deve sofrer as consequências, porque as exportações europeias de aço e alumínio para os EUA representam € 6 bilhões anuais – € 5 bilhões para o aço, e € 1 bilhão para o alumínio. Pelos cálculos da UE, o prejuízo total com as barreiras pode chegar a ¤ 2,8 bilhões, fragilizando o setor, já enfraquecido pela concorrência com produtos chineses de pior qualidade, mas com preço bem inferior.
Na Alemanha, o sindicato IG Metall, um dos maiores do país, reivindicou que o governo de Angela Merkel adote o direito à salvaguarda para preservar o mercado interno. Já na França, o maior órgão setorial, a União das Indústrias e Metiers da Metalurgia (UIMM), consultada pelo Estado, não quis comentar sobre as barreiras.
Trabalhador do setor siderúrgico na região de Lorena, no leste da França, Guy Dolveck, de 35 anos, ainda não viu as consequências econômicas da decisão de Trump. “O retorno que tivemos foi da ArcelorMittal, que nos garantiu que não haveria demissões na região. A direção está confiante”, disse. “Mas é claro que tudo pode acontecer.”
Para responder aos riscos econômicos provocados pelo protecionismo de Trump, a União Europeia vem reorganizando suas políticas externa e de comércio para tentar compensar as perdas com os EUA e, mais importante, passar a liderar o Ocidente em favor do livre-comércio. Só na semana passada, os principais dirigentes da UE, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, viajaram à China e ao Japão.
Na terça-feira, os dois assinaram com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o maior acordo de livre-comércio jamais feito, em uma futura área livre de impostos. A UE e o Japão, reunidos, têm 600 milhões de consumidores, contra 300 milhões dos EUA, além de representarem um terço do PIB mundial.
Nas entrelinhas, Juncker definiu o acordo Japão-UE como um primeiro “firewall” contra o protecionismo e as hostilidades de Trump. Quanto à China, a situação é mais delicada porque o país impõe restrições comerciais e pratica o dumping de exportações – incluindo no aço – para penetrar nos mercados desenvolvidos. No entanto, o diálogo entre Pequim e Bruxelas está aberto, como contraponto a Washington.
“A UE quer demonstrar que há alternativas, que pode encontrar soluções com outras regiões no mundo. Por isso, o acordo com o Japão foi festejado em Bruxelas, de forma a demonstrar que a Europa pode agir mesmo sem os EUA”, entende Dominik Grillmayer, analista de relações internacionais do Instituto Franco-alemão.
“É lamentável que não haja acordos com os EUA neste momento, mas a Europa mostra que há alternativas, como o Canadá, o Japão, a América Latina. Bruxelas está contornando a difícil questão com os EUA. Talvez isso não faça Trump refletir, mas de alguma forma isola Washington.”
Grillmayer pondera que a Europa enfrenta uma situação interna até mais preocupante do que as barreiras aduaneiras criadas por Trump: a emergência dos governos não liberais da Europa Central e do Leste, como na Hungria, Polônia, República Checa e Eslovênia, cada vez menos alinhados a Bruxelas e mais à visão ultraconservadora e autoritária do atual presidente dos EUA. “A cooperação no interior da UE está cada vez mais difícil”, diz Grillmayer.
As divergências entre Washington e Bruxelas cresceram nas últimas semanas. Depois que a Casa Branca anunciou o aumento de tarifas aduaneiras sobre as importações de aço, em 25%, e de alumínio, em 10%, um dos principais pontos da agenda política e econômica europeia e americana, o livre-comércio, vem se transformando em um tema de divergências crescentes.
O assunto é tão delicado que na última semana o Círculo dos Economistas, grupo de reflexão fundado em 1992 por 30 profissionais da área e acadêmicos, recomendou à União Europeia que forme uma “aliança multilateral” para combater a visão isolacionista do presidente americano e lance um projeto euroafricano para construção de infraestrutura – distribuição de água e energia – no continente.
A recomendação vem repercutindo nos meios econômicos e financeiros. O país da Europa que deve ser mais afetado pelo aumento das tarifas alfandegárias por parte dos EUA é a Alemanha, que exporta todos os anos 810 mil toneladas de aço para os americanos.
No entanto, todo o continente deve sofrer as consequências, porque as exportações europeias de aço e alumínio para os EUA representam € 6 bilhões anuais – € 5 bilhões para o aço, e € 1 bilhão para o alumínio. Pelos cálculos da UE, o prejuízo total com as barreiras pode chegar a ¤ 2,8 bilhões, fragilizando o setor, já enfraquecido pela concorrência com produtos chineses de pior qualidade, mas com preço bem inferior.
Na Alemanha, o sindicato IG Metall, um dos maiores do país, reivindicou que o governo de Angela Merkel adote o direito à salvaguarda para preservar o mercado interno. Já na França, o maior órgão setorial, a União das Indústrias e Metiers da Metalurgia (UIMM), consultada pelo Estado, não quis comentar sobre as barreiras.
Trabalhador do setor siderúrgico na região de Lorena, no leste da França, Guy Dolveck, de 35 anos, ainda não viu as consequências econômicas da decisão de Trump. “O retorno que tivemos foi da ArcelorMittal, que nos garantiu que não haveria demissões na região. A direção está confiante”, disse. “Mas é claro que tudo pode acontecer.”
Para responder aos riscos econômicos provocados pelo protecionismo de Trump, a União Europeia vem reorganizando suas políticas externa e de comércio para tentar compensar as perdas com os EUA e, mais importante, passar a liderar o Ocidente em favor do livre-comércio. Só na semana passada, os principais dirigentes da UE, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, viajaram à China e ao Japão.
Na terça-feira, os dois assinaram com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o maior acordo de livre-comércio jamais feito, em uma futura área livre de impostos. A UE e o Japão, reunidos, têm 600 milhões de consumidores, contra 300 milhões dos EUA, além de representarem um terço do PIB mundial.
Protecionismo
Nas entrelinhas, Juncker definiu o acordo Japão-UE como um primeiro “firewall” contra o protecionismo e as hostilidades de Trump. Quanto à China, a situação é mais delicada porque o país impõe restrições comerciais e pratica o dumping de exportações – incluindo no aço – para penetrar nos mercados desenvolvidos. No entanto, o diálogo entre Pequim e Bruxelas está aberto, como contraponto a Washington.
“A UE quer demonstrar que há alternativas, que pode encontrar soluções com outras regiões no mundo. Por isso, o acordo com o Japão foi festejado em Bruxelas, de forma a demonstrar que a Europa pode agir mesmo sem os EUA”, entende Dominik Grillmayer, analista de relações internacionais do Instituto Franco-alemão.
“É lamentável que não haja acordos com os EUA neste momento, mas a Europa mostra que há alternativas, como o Canadá, o Japão, a América Latina. Bruxelas está contornando a difícil questão com os EUA. Talvez isso não faça Trump refletir, mas de alguma forma isola Washington.”
Grillmayer pondera que a Europa enfrenta uma situação interna até mais preocupante do que as barreiras aduaneiras criadas por Trump: a emergência dos governos não liberais da Europa Central e do Leste, como na Hungria, Polônia, República Checa e Eslovênia, cada vez menos alinhados a Bruxelas e mais à visão ultraconservadora e autoritária do atual presidente dos EUA. “A cooperação no interior da UE está cada vez mais difícil”, diz Grillmayer.
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