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Procedimentos estéticos mal sucedidos podem causar danos, que vão desde cicatrizes indesejadas à morte. Casos extremos como o recente de Lilian Calixto (veja aqui), bancária de 46 anos que morreu após uma bioplastia com um médico famoso nas redes sociais, Denis Furtado, mais conhecido como "Doutor Bumbum". Mesmo quando não ocorre a morte, um resultado inesperado ainda traz sequelas às vítimas. A youtuber Camilla Uckers, por exemplo, entrou em depressão após ter graves reações a uma cirurgia nos glúteos (relembre aqui).
Na Bahia, casos semelhantes de erros médicos também acontecem. Este ano, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) condenou um cirurgião plástico a indenizar uma paciente em R$ 50 mil por erro durante uma lipoaspiração. Inicialmente, o médico foi condenado a pagar indenização em R$ 150 mil, mas o profissional recorreu da decisão, sob o argumento que não houve imperícia na cirurgia.
A primeira cirurgia, realizada em 1995, no valor de R$ 1,9 mil, deixou sequelas na paciente. No segundo procedimento, para reparar danos, as cicatrizes ficaram piores, e o umbigo da paciente ficou necrosado. Ela também passou a sentir dores na região operada. Esta última cirurgia custou R$ 400. A paciente relatou que o médico “tentou se eximir da culpa”, transferindo o insucesso dos procedimentos ao processo de cicatrização peculiar do organismo dela, mas apontando que o problema seria resolvido ao passar dos anos. Ela procurou outros profissionais que a informaram que os medicamentos poderiam lhe causar efeitos devastadores e não havia certeza de reversão do erro médico. A paciente precisou reduzir suas atividades de lazer, ficou impossibilitada de praticar atividades físicas e passou a sofrer com outros problemas de saúde. De acordo com o processo, um perito atestou que, diante da cirurgia, a paciente não poderia ter tido alta no mesmo dia.
Mas como evitar ou ao menos tentar prevenir que casos como esse aconteçam? De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica na Bahia (SBPC-BA), José Valber Meneses, o mais importante ao buscar um profissional é entrar em contato com o órgão responsável pela especialidade. “É importante nunca escolher um médico apenas por indicação de um colega. Claro que todo médico só mostra os casos bons para que o paciente queira realizar o procedimento”, alerta, em entrevista ao Bahia Notícias. "Hoje cada especialidade tem seu órgão, como a Sociedade de Cirurgia Plástica. O paciente deve estar esclarecido sobre isso, procurar o órgão, saber se o médico faz parte, se é especialista e tem condição de realizar o procedimento", reforça.
Por outro lado, em caso de erros em cirurgias, é necessária comprovação da responsabilidade do médico para solicitação de ação indenizatória. “A responsabilidade do médico é subjetiva e ela depende da comprovação da culpa. No caso, tem que estar comprovado que realmente o médico agiu com negligência, imperícia, na hora do procedimento médico”, explica o advogado Pedro Bahia, membro da comissão de saúde da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA).
A comprovação pode ser feita, segundo Bahia, a partir de um laudo médico de outro profissional especialista. "Se o procedimento padrão a ser realizado é um, e usou material inadequado, fez um corte no momento da cirurgia no local errado, isso tem que ser comprovado a partir de um relatório de outro médico. Esse outro profissional, que também deve trabalhar com a mesma cirurgia, faz um relatório do erro médico e informa se houve erro no procedimento ou não. Havendo erro, cabe sim ação indenizatória para reparação por danos morais e materiais". É importante ainda o registro da ocorrência junto ao Conselho Regional de Medicina, para que o responsável responda a processo administrativo.
Youtuber Camilla Uckers mostra reação a procedimento | Foto: Reprodução / Instagram
SEQUELAS DO ERRO
Além de danos físicos, erros em procedimentos estéticos também podem afetar fortemente o psicológico do paciente, assim como no caso de Uckers. São comuns impactos pessoais e relacionais na vida das vítimas, afirma a psicóloga e professora Mônica Aguiar. “Isso pode ser difícil de superar. Pode causar inclusive depressão. A pessoa fica sem querer aceitar, e com razão, porque ela foi procurar uma melhora e piorou”.
A principal razão dos danos psicológicos nesses casos, de acordo com Mônica, é a expectativa em torno dos resultados. A situação é ainda pior quando a comunicação entre médico e paciente se dá de forma inadequada, levando a uma perspectiva equivocada em torno do procedimento. "Há uma expectativa gerada pelo paciente e a grande questão é que muitas vezes não há uma informação adequada ou ampla do médico para esse paciente. Às vezes, o médico até passa a informação, mas o paciente não consegue entender adequadamente", avalia. "No plano psicológico, ele vai ter que se adequar à morte simbólica de uma expectativa criada, ou seja, vai ter que assumir que não vai chegar aonde queria nessa questão. Há um luto que tem que ser elaborado, para que a pessoa possa conviver com a nova autoimagem. Essa é uma construção demorada", sugere, reforçando que o impacto em cada pessoa pode ser diferente.
O presidente da SBPC-BA concorda com a ressalva e acrescenta que a atenção à relação médico-paciente é importante até mesmo para a proteção do profissional. “É preciso esclarecer todos os detalhes, não criar expectativas, falar sobre a realidade do procedimento, o que é possível fazer, os resultados que podem ser obtidos. Não se deve prometer mágica”, diz.
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