JANAINA PASCHOAL: DO IMPEACHMENT AO APOIO A JAIR BOLSONARO
A advogada é apresentada a Bolsonaro 20 minutos antes da convenção e irrita apoiadores com discurso crítico
PUBLICIDADEuando desembarcou no Rio de Janeiro para a convenção do PSL, na manhã do último domingo, dia 22, a advogada paulistana Janaina Paschoal estava praticamente alçada à condição de vice na chapa do deputado federal Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência da República.
Até aquele dia, ela nunca estivera pessoalmente com o candidato. O primeiro aperto de mãos só se deu cerca de 20 minutos antes de a dupla sentar-se lado a lado no p
JANAINA PASCHOAL: DO IMPEACHMENT AO APOIO A JAIR BOLSONARO
A advogada é apresentada a Bolsonaro 20 minutos antes da convenção e irrita apoiadores com discurso crítico
Quando desembarcou no Rio de Janeiro para a convenção do PSL, na manhã do último domingo, dia 22, a advogada paulistana Janaina Paschoal estava praticamente alçada à condição de vice na chapa do deputado federal Jair Bolsonaro na disputa pela Presidência da República.
Até aquele dia, ela nunca estivera pessoalmente com o candidato. O primeiro aperto de mãos só se deu cerca de 20 minutos antes de a dupla sentar-se lado a lado no palco do Centro de Convenções SulAmérica, na região central da capital fluminense. Enquanto os dois trocavam as primeiras palavras olho no olho, os cerca de 3 mil seguidores do ex-capitão presentes no local já comemoravam a possível dobradinha — considerada por eles imbatível — com uma das autoras do pedido que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O convite para a aliança havia sido feito dias antes, por telefone, pelo ex-capitão do Exército, depois de ele ter sofrido um revés atrás do outro. Primeiro do senador Magno Malta (PR), que decidiu concorrer à reeleição e ficar fora da chapa, depois do general da reserva Augusto Heleno (PRP), vetado pelo partido ao cargo.
As derrotas levaram ao nome de Janaina. Professora de Direito na Universidade de São Paulo (USP), a advogada viralizou em memes na internet, bem ao estilo da campanha de Bolsonaro, ao fazer um discurso inflamado no auditório do Largo São Francisco em um ato pela cassação de Dilma Rousseff em que, girando a bandeira do Brasil consecutivas vezes, afirmava que “o Brasil não é a República da cobra”.
Inicialmente, Janaina não disse sim nem não ao convite de Bolsonaro, que já dava como certa a aliança. Prestes a começar a convenção, pressionada pela imprensa e por seguidores a dizer se seria mesmo a vice, recorreu ao Twitter. Disse: “Algumas decisões precisam ser tomadas em absoluto silêncio”.
Na verdade, a advogada tentava ganhar tempo. Apesar de dividirem o mesmo teto no PSL, não são poucas as divergências de Janaina com o presidenciável. Ao contrário de Bolsonaro, ela é contra a redução da maioridade penal e a favor da manutenção das cotas raciais. Também não concorda com a promessa de Bolsonaro de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal de 11 para 21.
A conversa dos dois nos bastidores da convenção se deu sob o olhar de Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e dos três filhos de Bolsonaro: o deputado federal Eduardo, o deputado estadual Flávio e o vereador Carlos. Ali ficou claro que o “sim” à vice não sairia tão facilmente. De salto, sobretudo rosa combinando com vestido estampado no mesmos tom, ela encarou o clã. “Não vim aqui atrás de cargo”, disse a eles, frase que depois seria repetida no discurso na convenção e à imprensa.
O que Janaina não disse aos Bolsonaros acabou sendo verbalizado logo depois. E do palco. Aclamada como vice, a advogada, em tom professoral, iniciou seu discurso pedindo silêncio porque queria conversar. Durante quase 20 minutos, permeados por gestos expansivos com as mãos, ela criticou o “pensamento único” e os seguidores de Bolsonaro, que, segundo ela, têm “ânsia de ouvir um discurso uniformizado”.
Pontuou a fala diversas vezes com um “estão compreendendo?”. Quando pediu aos presentes que refletissem sobre se não estariam “correndo o risco de virar um PT ao contrário”, o local ganhou temperatura polar. “Eu não vim aqui atrás de aplausos”, ela ainda emendou.
Janaina diz que não agiu por impulso. A contundência no discurso, segundo ela, foi proposital. Ela queria se apresentar aos seguidores de Bolsonaro.
A advogada afirma que não quer impor sua vontade, mas ao mesmo tempo demonstra pouca disposição para negociar. “Eu quero que ele entenda que estou disposta a ajudar, mas ele vai ter de moderar não só o discurso, mas as pretensões. Se ele quiser atender às expectativas dos seguidores mais tradicionais dele, não tenho como participar de seu governo”, disse a ÉPOCA na tarde da quarta-feira 25.
Do ponto de vista da advogada, a aproximação com Bolsonaro também se deu mais por eliminação do que por afinidade. Após ganhar projeção com o impeachment, ela decidiu entrar para a vida partidária. “Não poderia ser alguém da esquerda, pois eu os considero totalitaristas. Depois dos escândalos do PSDB e do MDB, eu jamais me uniria a eles. Com chances de vitória, ficou o Bolsonaro”, confessa Janaina, que inicialmente demonstrou pretensões de se candidatar a deputada estadual em São Paulo, embora fosse cortejada também para a Câmara e o governo do estado. “Eu me filiei ao PSL com o fim de fortalecê-lo contra a esquerda e contra a corrupção, mas também para temperá-lo”, diz a advogada.
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Apesar da água fria que Janaina jogou na convenção, Bolsonaro elogiou o fato de ela não nutrir uma “idolatria” por ele. “O compromisso dela é com o Brasil”, enfatizou o pré-candidato, que surgiu na coletiva de imprensa depois do evento com cara de poucos amigos. Pelo comunicado enviado pela assessoria de imprensa por WhatsApp, Janaina Paschoal também estaria na conversa com os jornalistas. Ela não compareceu.
A militância não gostou do discurso. Tido como um guru do presidenciável, o filósofo Olavo de Carvalho evocou o pensamento de muitos, um dia depois. “Janaina Paschoal não pode ser vice-presidente nem de clube de futebol”, afirmou, em sua página no Facebook.
Depois da convenção, a advogada, que é casada e mãe de dois filhos, viajou com a família para fora de São Paulo. Não deu mais nenhuma resposta ao PSL. Mas deixou claro que ficar à sombra não a seduz.
Leia mais: https://epoca.globo.com/janaina-paschoal-do-impeachment-ao-apoio-jair-bolsonaro-22925151#ixzz5MrGFvXw6
stest alco do Centro de Convenções SulAmérica, na região central da capital fluminense. Enquanto os dois trocavam as primeiras palavras olho no olho, os cerca de 3 mil seguidores do ex-capitão presentes no local já comemoravam a possível dobradinha — considerada por eles imbatível — com uma das autoras do pedido que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O convite para a aliança havia sido feito dias antes, por telefone, pelo ex-capitão do Exército, depois de ele ter sofrido um revés atrás do outro. Primeiro do senador Magno Malta (PR), que decidiu concorrer à reeleição e ficar fora da chapa, depois do general da reserva Augusto Heleno (PRP), vetado pelo partido ao cargo.
As derrotas levaram ao nome de Janaina. Professora de Direito na Universidade de São Paulo (USP), a advogada viralizou em memes na internet, bem ao estilo da campanha de Bolsonaro, ao fazer um discurso inflamado no auditório do Largo São Francisco em um ato pela cassação de Dilma Rousseff em que, girando a bandeira do Brasil consecutivas vezes, afirmava que “o Brasil não é a República da cobra”.
Inicialmente, Janaina não disse sim nem não ao convite de Bolsonaro, que já dava como certa a aliança. Prestes a começar a convenção, pressionada pela imprensa e por seguidores a dizer se seria mesmo a vice, recorreu ao Twitter. Disse: “Algumas decisões precisam ser tomadas em absoluto silêncio”.
Na verdade, a advogada tentava ganhar tempo. Apesar de dividirem o mesmo teto no PSL, não são poucas as divergências de Janaina com o presidenciável. Ao contrário de Bolsonaro, ela é contra a redução da maioridade penal e a favor da manutenção das cotas raciais. Também não concorda com a promessa de Bolsonaro de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal de 11 para 21.
A conversa dos dois nos bastidores da convenção se deu sob o olhar de Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e dos três filhos de Bolsonaro: o deputado federal Eduardo, o deputado estadual Flávio e o vereador Carlos. Ali ficou claro que o “sim” à vice não sairia tão facilmente. De salto, sobretudo rosa combinando com vestido estampado no mesmos tom, ela encarou o clã. “Não vim aqui atrás de cargo”, disse a eles, frase que depois seria repetida no discurso na convenção e à imprensa.
O que Janaina não disse aos Bolsonaros acabou sendo verbalizado logo depois. E do palco. Aclamada como vice, a advogada, em tom professoral, iniciou seu discurso pedindo silêncio porque queria conversar. Durante quase 20 minutos, permeados por gestos expansivos com as mãos, ela criticou o “pensamento único” e os seguidores de Bolsonaro, que, segundo ela, têm “ânsia de ouvir um discurso uniformizado”.
Pontuou a fala diversas vezes com um “estão compreendendo?”. Quando pediu aos presentes que refletissem sobre se não estariam “correndo o risco de virar um PT ao contrário”, o local ganhou temperatura polar. “Eu não vim aqui atrás de aplausos”, ela ainda emendou.
Janaina diz que não agiu por impulso. A contundência no discurso, segundo ela, foi proposital. Ela queria se apresentar aos seguidores de Bolsonaro.
A advogada afirma que não quer impor sua vontade, mas ao mesmo tempo demonstra pouca disposição para negociar. “Eu quero que ele entenda que estou disposta a ajudar, mas ele vai ter de moderar não só o discurso, mas as pretensões. Se ele quiser atender às expectativas dos seguidores mais tradicionais dele, não tenho como participar de seu governo”, disse a ÉPOCA na tarde da quarta-feira 25.
Do ponto de vista da advogada, a aproximação com Bolsonaro também se deu mais por eliminação do que por afinidade. Após ganhar projeção com o impeachment, ela decidiu entrar para a vida partidária. “Não poderia ser alguém da esquerda, pois eu os considero totalitaristas. Depois dos escândalos do PSDB e do MDB, eu jamais me uniria a eles. Com chances de vitória, ficou o Bolsonaro”, confessa Janaina, que inicialmente demonstrou pretensões de se candidatar a deputada estadual em São Paulo, embora fosse cortejada também para a Câmara e o governo do estado. “Eu me filiei ao PSL com o fim de fortalecê-lo contra a esquerda e contra a corrupção, mas também para temperá-lo”, diz a advogada.
A militância não gostou do discurso. Tido como um guru do presidenciável, o filósofo Olavo de Carvalho evocou o pensamento de muitos, um dia depois. “Janaina Paschoal não pode ser vice-presidente nem de clube de futebol”, afirmou, em sua página no Facebook.Apesar da água fria que Janaina jogou na convenção, Bolsonaro elogiou o fato de ela não nutrir uma “idolatria” por ele. “O compromisso dela é com o Brasil”, enfatizou o pré-candidato, que surgiu na coletiva de imprensa depois do evento com cara de poucos amigos. Pelo comunicado enviado pela assessoria de imprensa por WhatsApp, Janaina Paschoal também estaria na conversa com os jornalistas. Ela não compareceu.
Depois da convenção, a advogada, que é casada e mãe de dois filhos, viajou com a família para fora de São Paulo. Não deu mais nenhuma resposta ao PSL. Mas deixou claro que ficar à sombra não a seduz.
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