‘Somos um país aberto’, diz ministra britânica Karen Bradley
Em entrevista ao site de VEJA, a ministra de Esportes, Cultura e Mídia do Reino Unido, Karen Bradley, fala sobre Olimpíada e a saída do Reino Unido da UE
Por que a senhora acha que a população votou pelo Brexit no referendo realizado em junho? Acredito que o resultado do referendo diz que queremos ficar abertos para o mundo, pois passamos muito tempo voltados exclusivamente para a Europa. Não foi uma escolha pelo isolamento. Nós temos ótimas relações com países fora da Europa, como Canadá, Austrália, Estados Unidos e Brasil. A decisão do referendo foi o povo britânico dizendo ‘nós queremos trabalhar com países como o Brasil, não só com países da Europa’ e o Brexit abre portas para parcerias com outros países, não apenas os europeus.
Como a cultura britânica pode ser afetada pela saída do Reino Unido da União Europeia? Esse é um assunto complicado. Estamos negociando com a União Europeia e tentaremos garantir o melhor acordo possível para nossa indústria criativa. A questão é que o Reino Unido deixará de repassar recursos para o fundo europeu e poderá decidir como investir esse dinheiro. Tirando os outros 27 países membros da União Europeia, com quem o Reino Unido ainda pode manter parcerias culturais, há mais de 100 países no mundo, como o Brasil, com quem poderemos trabalhar.
Como Reino Unido e Brasil podem melhorar a parceria nas áreas de esporte e cultura? Já existem muitos jogadores brasileiros no futebol inglês, e quem sabe um dia poderemos ter jogadores britânicos bons o suficiente para atuar no futebol brasileiro? Pode haver parceria entre museus brasileiros e britânicos, por exemplo. Nós temos muitos estudantes brasileiros e queremos contribuir, queremos vê-los no Reino Unido desfrutando da Educação do nosso país.
A senhora acredita que a cobertura pessimista da imprensa britânica sobre o Brexit pode afetar a imagem do Reino Unido perante o mundo? É preciso entender que o referendo decidiu sobre a participação do Reino Unido na instituição que governa a União Europeia, em Bruxelas. Não foi uma votação sobre deixar a Europa. Sobre a cobertura, nós temos uma imprensa livre, que pode publicar da maneira que acha apropriado. Eu espero que o mundo ouça o que nós todos temos a dizer, que é ‘nós somos um país aberto e queremos continuar assim’.
Em 1996, na Olimpíada de Atlanta, o Reino Unido obteve 15 medalhas. Na Rio-2016, a campanha da equipe britânica foi excelente, com 67 medalhas. Como essa virada foi possível? Há vinte anos, ganhamos uma única medalha de ouro e decidimos rever nossa política de investimento em esportes. Além do financiamento do governo, resolvemos dedicar aos esportes uma parte da arrecadação com a loteria. Esses recursos começaram a ser repassados para um novo órgão independente, o UK Sport, responsável por decidir em quais modalidades esportivas investir. Sem interferência do governo nas decisões do UK Sport, o país priorizou modalidades de sucesso, como ciclismo, tiro com arco e esgrima, visando medalhas também a longo prazo, até mesmo 2020 ou 2024. Em suma, obtivemos ótimos resultados em Pequim (2008), Londres (2012) e Rio (2016) por uma combinação de três fatores: gerenciando o orçamento para esportes sem o envolvimento de políticos, desenvolvendo um planejamento de longo prazo e apostando em modalidades específicas. Na Olimpíada do Rio, nós excedemos todas as nossas expectativas. Tivemos mais medalhas de ouro e mais atletas nas finais.
Houve mais investimento nos esportes paralímpicos também? Tivemos um aumento de 43% no investimento no esporte paraolímpico a partir da realização dos Jogos de Londres. Desde abril de 2013, o governo britânico vem ampliando seus investimentos e, de lá para cá, foram investidos cerca de 72,7 milhões de libras em dezenove modalidades diferentes.
A senhora esteve no Rio durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O que achou da Rio-2016? Achei incrível. Fiquei impressionada com a festa de encerramento da Paralimpíada. Tanto a Olimpíada como a Paralimpíada foram fantásticas.
Que problemas a senhora apontaria na organização dos Jogos? Não acho que teve problema nenhum. Antes dos Jogos, tiveram muitos comentários dizendo que não seria bom, que não daria certo, que o trânsito ficaria horrível, que ninguém conseguiria chegar. Antes da Olimpíada de Londres, nós ouvimos exatamente os mesmos comentários, mas deu tudo certo. Não vejo falhas, vejo um sucesso incrível.
O Brasil ainda sofre com a violência de torcidas organizadas – no último final de semana, mais um torcedor foi espancado até a morte. Como a Inglaterra conseguiu conter a violência dos hooligans? Foi um desafio lidar com o problema, mas uma série de fatores permitiu que os estádios pudessem ser frequentados por famílias sem medo da violência. Uma delas é a separação das torcidas nos estádios – torcedores de times diferentes não sentam juntos. Outra medida foi a melhoria no policiamento, que passou a reconhecer e prevenir possíveis conflitos. E nós também identificamos quem são os torcedores arruaceiros, que não são autorizados a viajar para comparecer aos torneios, por exemplo, ou a entrar nos clubes. Os clubes possuem uma política de tolerância zero à violência. Tudo isso mudou aquele cenário em que as pessoas achavam perigoso levar a família ao estádio. A violência nos estádios não é um problema que você pode tirar do radar, é preciso estar sempre atento à possibilidade de que volte a ocorrer.
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