Pular para o conteúdo principal

Eike Batista sugeriu à Lava-Jato devassa em negócios do BNDES

‘Essa é uma área crítica’, disse ele no mesmo depoimento em que denunciou Mantega

por
Eike afirma que outros foram mais beneficiados - Michel Filho / Agência O Globo/ 29-11-2007
 
RIO — O Arquivo X de Eike Batista é um curioso baú de histórias que oscilam entre o fulgor e a indolência do capitalismo de laços consolidado na era Lula-Dilma. Quando entrou no gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quinta-feira 1º de novembro de 2012, Eike era um homem de negócios com ativos de US$ 12,7 bilhões, na avaliação da época feita pela agência Bloomberg. Às vésperas de completar 56 anos, perdera a liderança nas listagens sobre os mais ricos do Brasil, e suas empresas submergiam em perdas, mas insistia em manter estrutura de serviços de mordomias ao custo de US$ 7 milhões ao mês debitados no caixa da holding.
Veja
O ministro pediu-lhe o equivalente a US$ 2,5 milhões para cobrir despesas de campanha do Partido dos Trabalhadores, contou ao Ministério Público Federal, em maio passado, num depoimento que seguiu o roteiro de uma colaboração espontânea — ele foi aos procuradores e pediu para falar: “O ministro de Estado me pediu, que que você faz? Eu tenho 40 bilhões investidos no país, como é que você faz?”. Aceitou.
Seu advogado tentou socorrer-lhe, esclarecendo que no mundo X aquele dinheiro “não era um valor significativo”. Foi uma fugaz lembrança da época em que Eike Batista mantinha 100 garrafas de champanhe no escritório. O empresário interrompeu: “Hoje, para mim, é muito dinheiro”.
Ele se esmerava em gestos de retribuição ao governo. Dois anos antes, na terça-feira 17 de agosto de 2010, foi a São Paulo participar de um leilão beneficente promovido pelo cabeleireiro da então primeira-dama, Marisa Letícia. Arrematou a cena noturna ao pagar US$ 250 mil (R$ 500 mil, na época) por um terno usado de Lula. E se comprometeu a dobrar o valor da coleta filantrópica.
Quarenta e oito horas depois, estava no Palácio do Planalto, conversando com Lula sobre uma reserva maranhense “de 10 a 15 trilhões de pés cúbicos” de gás natural, equivalentes a “quase a metade das reservas confirmadas de gás da Bolívia”. Eufóricos, assessores do governo e teóricos do PT exaltavam Eike como “figura emblemática” de uma “camada de empresários dispostos a seguir as orientações do governo”. Dilma Rousseff, àquela altura, contava 11 pontos de vantagem sobre adversários nas pesquisas, e porta-vozes de Lula escreviam: “É talhada, por sua biografia, para levar adiante um projeto nacional pluriclassista.”
Em 2012, no gabinete do ministro da Fazenda, o dono do mundo X tentava dissimular o óbvio: o abalo sistêmico em seu universo de negócios. Planejara perfurar três de dezenas de poços de petróleo, decidira aumentar em 67% e ainda queria dobrar a atividade de perfuração.
Os resultados eram modestos e o investimento elevado (US$ 700 milhões). Eike precisava do governo Dilma tanto quanto o PT precisava dele para pagar contas atrasadas com o publicitário João Santana, que trabalhara nas campanhas de Dilma em 2010 e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, eleito na semana anterior à reunião com Mantega.
O problema do empresário eram as porteiras fechadas da Petrobras, que lhe recusava novos negócios, e do BNDES, que julgava ter ultrapassado o limite prudencial de empréstimos ao grupo X. Havia um agravante: o governo também já havia atravessado a fronteira da prudência, com repasses do Tesouro ao banco público, correspondentes a mais da metade do crédito dado pelo BNDES ao grupo de empresas eleitas como “campeãs nacionais”. Esses socorros do governo ao banco estatal inflaram o endividamento público. Eram as “pedaladas”.
Para Eike Batista faltaram tempo, meios e aliados, apesar das múltiplas doações de dinheiro (houve ano em que chegou a distribuir US$ 7 milhões em benemerências políticas). Punido “pelo mercado”, como costuma repetir, nunca deixa de lembrar suas diferenças com os competidores que julga terem sido mais privilegiados pelo poder.
Na mesa do Ministério Público Federal, em Curitiba, Eike deixou algo além do seu testemunho espontâneo sobre um ministro da Fazenda coletando dinheiro para o partido do governo. Sugeriu que fosse feita uma extensão das investigações sobre os negócios do BNDES na era Lula-Dilma: “Eu entreguei todo o meu patrimônio como garantia”, disse, “olhem para os outros que não deram seus avais pessoais, que aí está a grande sacanagem”.
Como se abrisse uma fresta no seu Arquivo X, arrematou em tom de apelo aos procuradores: “Vocês que estão passando o Brasil a limpo, por favor, essa é uma área crítica. Porque é fácil né. Você bota o que quiser (como garantia ao crédito do BNDES). Uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares. É fácil, né.”


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/eike-batista-sugeriu-lava-jato-devassa-em-negocios-do-bndes-20164651#ixzz4L6yYLUEs
© 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p