Eike Batista sugeriu à Lava-Jato devassa em negócios do BNDES
‘Essa é uma área crítica’, disse ele no mesmo depoimento em que denunciou Mantega
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Seu advogado tentou socorrer-lhe, esclarecendo que no mundo X aquele dinheiro “não era um valor significativo”. Foi uma fugaz lembrança da época em que Eike Batista mantinha 100 garrafas de champanhe no escritório. O empresário interrompeu: “Hoje, para mim, é muito dinheiro”.
Ele se esmerava em gestos de retribuição ao governo. Dois anos antes, na terça-feira 17 de agosto de 2010, foi a São Paulo participar de um leilão beneficente promovido pelo cabeleireiro da então primeira-dama, Marisa Letícia. Arrematou a cena noturna ao pagar US$ 250 mil (R$ 500 mil, na época) por um terno usado de Lula. E se comprometeu a dobrar o valor da coleta filantrópica.
Quarenta e oito horas depois, estava no Palácio do Planalto, conversando com Lula sobre uma reserva maranhense “de 10 a 15 trilhões de pés cúbicos” de gás natural, equivalentes a “quase a metade das reservas confirmadas de gás da Bolívia”. Eufóricos, assessores do governo e teóricos do PT exaltavam Eike como “figura emblemática” de uma “camada de empresários dispostos a seguir as orientações do governo”. Dilma Rousseff, àquela altura, contava 11 pontos de vantagem sobre adversários nas pesquisas, e porta-vozes de Lula escreviam: “É talhada, por sua biografia, para levar adiante um projeto nacional pluriclassista.”
Em 2012, no gabinete do ministro da Fazenda, o dono do mundo X tentava dissimular o óbvio: o abalo sistêmico em seu universo de negócios. Planejara perfurar três de dezenas de poços de petróleo, decidira aumentar em 67% e ainda queria dobrar a atividade de perfuração.
Os resultados eram modestos e o investimento elevado (US$ 700 milhões). Eike precisava do governo Dilma tanto quanto o PT precisava dele para pagar contas atrasadas com o publicitário João Santana, que trabalhara nas campanhas de Dilma em 2010 e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, eleito na semana anterior à reunião com Mantega.
O problema do empresário eram as porteiras fechadas da Petrobras, que lhe recusava novos negócios, e do BNDES, que julgava ter ultrapassado o limite prudencial de empréstimos ao grupo X. Havia um agravante: o governo também já havia atravessado a fronteira da prudência, com repasses do Tesouro ao banco público, correspondentes a mais da metade do crédito dado pelo BNDES ao grupo de empresas eleitas como “campeãs nacionais”. Esses socorros do governo ao banco estatal inflaram o endividamento público. Eram as “pedaladas”.
Para Eike Batista faltaram tempo, meios e aliados, apesar das múltiplas doações de dinheiro (houve ano em que chegou a distribuir US$ 7 milhões em benemerências políticas). Punido “pelo mercado”, como costuma repetir, nunca deixa de lembrar suas diferenças com os competidores que julga terem sido mais privilegiados pelo poder.
Na mesa do Ministério Público Federal, em Curitiba, Eike deixou algo além do seu testemunho espontâneo sobre um ministro da Fazenda coletando dinheiro para o partido do governo. Sugeriu que fosse feita uma extensão das investigações sobre os negócios do BNDES na era Lula-Dilma: “Eu entreguei todo o meu patrimônio como garantia”, disse, “olhem para os outros que não deram seus avais pessoais, que aí está a grande sacanagem”.
Como se abrisse uma fresta no seu Arquivo X, arrematou em tom de apelo aos procuradores: “Vocês que estão passando o Brasil a limpo, por favor, essa é uma área crítica. Porque é fácil né. Você bota o que quiser (como garantia ao crédito do BNDES). Uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares. É fácil, né.”
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