Pular para o conteúdo principal

Pela renúncia à hipocrisia

Para retomar o crescimento econômico, o Brasil precisa de uma mudança de mentalidade – e isso inclui expor-se mais à concorrência e depender menos dos favores do Estado
 


* Luiz Felipe d'Avila é mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School e presidente do Centro de Liderança Pública (CLP)
Concluído o desgastante processo de impeachment da presidente da República, o Brasil precisa se concentrar na retomada do crescimento econômico. O trágico legado do governo petista – a maior depressão econômica da história do país, 12 milhões de desempregados e a queda de mais de 9% da renda per capita em apenas um ano (2015/2016) – retrata a combinação entre o capitalismo de compadrio com o aparelhamento do Estado e a corrupção que dilapidou os cofres públicos e a institucionalidade por um projeto de poder. Mas a crise oferece oportunidade única para enfrentarmos os desafios que condenam o Brasil ao baixo crescimento. Poucos países escaparam da armadilha da renda média e se tornaram nações ricas, cuja renda per capita supera 25.000 dólares. O Brasil pode lográ-lo a médio prazo.
O efeito exponencial do crescimento econômico é pouco intuitivo para a maioria das pessoas. Assim, o primeiro desafio será esclarecer como ele afeta nosso bolso e padrão de vida. Uma nação que cresce 1% ao ano dobrará a renda em 69 anos, mas o fará em apenas oito anos se crescer 8% ao ano. O impacto da taxa de crescimento sobre a renda individual é dramático. Se crescermos 1% ao ano, a renda dos nossos filhos será 30% maior que a nossa e 70% maior que a dos seus avós. Se o crescimento do país for de 8% ao ano, a renda dos filhos será sete vezes maior que a dos pais e 55 vezes maior que a dos avós. Portanto, as escolhas políticas dos próximos meses determinarão o ritmo do crescimento econômico e da renda das novas gerações.
A economia cresce pouco porque nossos valores, escolhas e crenças levaram a políticas perpetuadoras do intervencionismo estatal e do protecionismo que nos tornaram uma das economias mais fechadas do mundo. Retomar o crescimento tem de ser a agenda prioritária da sociedade, e não apenas uma pauta do governo. Essa agenda só avançará como políticas públicas se mudarmos de atitude e mentalidade. A mudança deve começar pelo setor privado. Os empresários defensores do liberalismo são os mesmos que vão a Brasília defender medidas protecionistas, isenção tributária e reserva de mercado. Chegou a hora de renunciar à hipocrisia, expor-se mais à concorrência e depender menos dos favores do Estado.
O governo e o Congresso terão de aprovar medidas impopulares. O teto para os gastos do governo, a reforma previdenciária e o equilíbrio das finanças públicas são imprescindíveis para reavivar a confiança na economia. O ganho de produtividade, fundamental na retomada do crescimento, demandará a flexibilização das leis trabalhistas e a simplificação de regras tributárias. Já abertura da economia, o aumento das exportações e a integração do Brasil às cadeias globais de produção serão medidas essenciais para o aumento da competitividade.
Estados e municípios terão dois grandes desafios: sanar as finanças públicas e atrair investimentos privados. Nesse aspecto, o Centro de Liderança Pública (CLP) divulga neste mês de setembro o Ranking de Competitividade dos Estados 2016, um instrumento que serve como orientação de prioridades e estratégias a serem adotadas por executivos estaduais. Santa Catarina é um bom exemplo de um Estado que utilizou o ranking para criar políticas de impacto. Em 2013, o governo estadual lançou o programa Gestão para a Nova Economia. Foram selecionados sete municípios para participar do programa, que tinha dois objetivos: primeiro, sanar as contas dos municípios por meio do equilíbrio fiscal; segundo, elaborar um plano de crescimento, baseado na vocação econômica da cidade. O projeto de equilíbrio fiscal aumentou em 77,4 milhões de reais a receita dos municípios e o programa tornou-se um exemplo de como Estados e municípios podem utilizar os indicadores do Ranking de Competitividade para fazer bons diagnósticos e criar um plano de ação voltado para estimular o crescimento e atrair investimento.
Há uma janela de oportunidade para cidades e Estados atraírem investimentos. Dinheiro para isso não falta no mundo. O que falta é determinação política para oferecer mais transparência, celeridade e segurança jurídica aos investidores. A crise obrigará a definir os valores que queremos preservar e aqueles que precisamos descartar para o Brasil prosperar e competir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...