Temer e a sombra da Lava Jato
Três ministros do presidente interino da República estão às voltas com a operação – em que o próprio peemedebista já foi citado
Antes mesmo de assumir Temer se rendeu a pressões de neoaliados, como o Partido da República e o Partido Progressista, e indicou Maurício Quintella Lessa para os Transportes e Ricardo Barros para a Saúde. Um esquema de corrupção do PR no feudo dos Transportes revelado por VEJA foi justamente a razão da primeira pseudofaxina do governo Dilma. Barros, por sua vez, foi tesoureiro - cargo amaldiçoado em tempos de petrolão - do PP, partido que de longe tem o maior número de deputados enrolados com suspeitas de corrupção no esquema na Petrobras.
Mas a principal pedra no sapato dos ministros de Temer atende pelo nome de Lava Jato, operação que já confirmou 41 ações criminais contra 207 pessoas diferentes suspeitas de integrar o monstruoso esquema de corrupção instalada na Petrobras. O próprio Temer, que na iminência de assumir o poder teve de dar garantias de que não asfixiaria a maior ofensiva contra os desmandos de políticos e empresários na petroleira, é citado por delatores do esquema, ora para emplacar apadrinhados na estatal, ora para externar receio de que revelações sobre o PMDB pudessem vir à tona.
Ao longo das investigações, políticos peemedebistas monitoraram com lupa o silêncio de um nome estratégico e sempre aspirante a delator-bomba: o do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Jorge Zelada, indicado pelo partido para a empresa e apontado como destinatário de 31 milhões de reais em propina para ele e o partido. Zelada segue em calado e já recebeu pena de 12 anos de prisão pelo juiz Sergio Moro.
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Delatores também citaram o nome de Michel Temer como responsável por apadrinhar o nome do lobista João Augusto Henriques para a diretoria da área internacional da Petrobras. O acordo foi costurado por volta de 2007 em meio às negociações no Congresso para a prorrogação da CPMF. Na época, o PMDB na Câmara dos Deputados teria condicionado a aprovação da CPMF na Casa, depois de o Senado ter rejeitado a renovação do tributo, à permissão para indicar o diretor da área internacional da petroleira. Ao final, o lobista acabou vetado pela então ministra Dilma Rousseff porque ele tinha pendências no Tribunal de Contas.
Além do chefe do novo governo, não seria exagero afirmar que o todo-poderoso núcleo duro de Temer também poderia ser chamado de todo-investigado. Um dos mais próximos do presidente interino, o senador Romero Jucá é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de integrar a quadrilha do petrolão, pedir propinas, disfarçadas de doações eleitorais, em obras da usina nuclear de Angra 3 e ainda aparece em trocas de mensagens com empreiteiros da OAS como responsável por possíveis emendas em uma medida provisória de interesse do grupo. Jucá também é alvo de inquérito na Operação Zelotes, onde é citado como o destinatário de parte de uma propina de 45 milhões de reais para defender interesses de montadoras de veículos.
Outro novo ministro com relações pessoais com Temer é o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB), que temporariamente ficou sem foro privilegiado ao deixar o governo Dilma depois que o partido abandonou a base aliada. De volta à pasta do Turismo, Alves também está às voltas com a Operação Lava Jato. Em dezembro do ano passado, foi alvo de mandado de busca e apreensão em um apartamento em Natal. As suspeitas são de que o novo ministro e o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha atuavam em conjunto na arrecadação ilegal de recursos para campanhas.
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Aliado de primeira hora e sempre responsável por listar cargos que deviam ser distribuídos a aliados, o novo chefe da Casa Civil Eliseu Padilha não é investigado na Lava Jato, mas nos corredores do Congresso, pelo menos desde o governo FHC, Padilha, por sua extensa lista de processos, era jocosamente chamado nos bastidores de Eliseu Quadrilha.
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