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Visto como segredo de Estado, câncer de Chávez mergulha Venezuela em incerteza

Venezuelanos se perguntam se presidente conseguirá disputar as eleições presidenciais de outubro e temem por futuro do chavismo

Marsílea Gombata, De Caracas, Venezuela* | 24/02/2012 07:01

Foto: ReutersAmpliar
Chávez fala a trabalhadores partidários em fábrica no Estado de Barinas (21/2)
O anúncio de que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, fará uma nova cirurgia em Cuba após os médicos detectarem uma lesão na região em que foi retirado um tumor no ano passado reavive rumores sobre seu misterioso estado de saúde do mandatário e mergulha a Venezuela em um cenário de tensão e incerteza política diante de um assunto que, se não chega a ser tabu, é visto como confidencial.
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Ainda que Chávez tenha anunciado sua doença em junho, entre os venezuelanos o assunto permanece um enigma. A falta de informação sobre qual o tipo de câncer do presidente ou mesmo quanto tempo ele ainda tem de vida faz os venezuelanos especularem sobre o quão grave é a doença de Chávez. “O tipo de câncer que ele tem é como um segredo de Estado: ninguém fala”, disse ao iG Miguel Sojo, que trabalha como tradutor e intérprete em Caracas.
A mesma sensação tem a estudante de turismo Daniela Barra, 24 anos, sobre a saúde do presidente. “Não se fala da doença de Chávez. O assunto permanece um mistério”, contou a jovem caraquenha, que é fã de novelas brasileiras e sonha em conhecer o Rio de Janeiro.
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Questionado sobre qual a verdade por trás da doença de Chávez, o mecânico chavista José Bolívar acredita que o próprio governo busca manter a atmosfera de incerteza em torno da doença do líder. “Para ele é mais interessante que seja um mistério. Se sabem que seu estado de saúde é realmente grave, ele acabará perdendo votos”, opinou.
Popularidade
Logo depois de ter anunciado estar doente, o presidente venezuelano viu sua popularidade disparar. Entre julho e setembro, sua aprovação subiu dez pontos, chegando a 58,9%, segundo o instituto de pesquisa Datanálisis. “Assim que tornou público seu estado de saúde, automaticamente houve uma reação de solidariedade e apoio ao presidente por boa parte dos venezuelanos. Depois de anunciar a cirurgia que fará, voltou a crescer esse sentimento que, muitas vezes, vai além da figura do presidente e tem mais a ver com a empatia por qualquer ser humano diante de uma doença como essa”, afirmou o jornalista Cesar Cañas, da cidade venezuelana de Barquisimeto.
Durante reunião com opositores em Caracas, em 11 de fevereiro, Ricardo Sucre, secretário da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática, ressaltou a preocupação com esses índices. “Depois do câncer de Chávez, surgiram números muito favoráveis ao governo. (...) Vemos isso como ameaça. Chávez continua com aprovação importante, mas o governo manipula muitas coisas, até mesmo os preços do petróleo”, relatou.
O aumento de popularidade é um fenômeno esperado, mas a tendência é a aprovação do presidente cair, segundo o cientista político Leandro Area, da Universidade Central da Venezuela. “A reação inicial é que tenha mais apoio mesmo, já que a notícia causa compaixão e tristeza. Mas isso é uma consequência que tem tempo de duração e não é eterna”, observou. “Tanto é verdade que esse aumento de popularidade não se refletiu nas primárias da oposição de 12 de fevereiro (que levaram 2,9 milhões às urnas), e a doença tem feito indecisos optarem por uma alternativa ao governo chavista”, disse.
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Foto: AP
Mural em Caracas com imagem do presidente Chávez, cujo estado de saúde coloca em xeque futuro do chavismo
Em agosto, três empresas de pesquisa indicaram que, apesar de a popularidade de Chávez ter subido, esse movimento poderia diminuir à medida que a doença passasse para o segundo plano em meio à campanha presidencial de 2012.
Antes do diagnóstico da nova lesão, o professor de diversidade cultural Jesús García mostrou-se confiante de que Chávez venceria as eleições presidenciais de 7 outubro e disse acreditar que o presidente teve progresso em seu processo de cura. “Se não está curado, o avanço foi tremendo. As viagens que teve de fazer e tantas horas de discurso demonstram isso”, observou ao relembrar as mais de nove horas em que Chávez discursou diante da Assembleia Nacional em 13 de janeiro.
Laudo médico
As especulações sobre a doença de Chávez resultam também da falta de um laudo médico oficial. “Uma coisa que ninguém entende é: como, até agora, não se deu nenhuma informação oficial vinda de um médico?”, questionou o jornalista venezuelano Ricardo Guerrero, que nasceu em Bolívar e vive em Caracas.
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Em outubro, o cirurgião Salvador Navarrete Aulestia, que fazia parte da equipe médica do Palácio Miraflores antes de Chávez confiar sua saúde a especialistas cubanos, pronunciou-se sobre a doença do líder venezuelano. A entrevista dada à revista mexicana M Semanal, na qual classificava o tumor do presidente como “muito agressivo” e dava mais dois anos de vida a ele, resultou em pressão e sua consequente saída do país. “Os acontecimentos posteriores (à publicação) me obrigaram a sair do país com minha família de uma maneira abrupta, algo que não desejava e não tinha planejado fazer”, disse posteriormente em carta aberta.

Sucessão
Atualmente, segundo Area, Chávez é um “líder diminuído pela doença”. “Não são poucos os que se perguntam se ele poderá chegar até outubro como candidato ou se o chavismo terá de escolher outra pessoa. O presidente estará cada vez mais debilitado pelo tratamento contra o câncer e, na minha opinião, o chavismo sem Chávez no comando não tem chance”, avaliou.
Apesar de o governo não ter feito nenhum pronunciamento oficial sobre um possível sucessor de Chávez, analistas apontam três nomes principais para sucedê-lo.
Um deles é seu vice Elías Jaua, ex-chanceler e uma das figuras políticas mais próximas do mandatário, para quem “o chavismo sem Chávez não existe”. Ao lado dele estão o presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello e o irmão do presidente que governa o Estado de Barinas, Adán Chávez. Outras duas figuras políticas também são vistas como possibilidade: o atual chanceler Nicolas Maduro, que esteve em Cuba diversas vezes enquanto Chávez se recuperava da cirurgia feita em junho, e Rafael Ramirez, um dos mais antigos aliados do presidente, ministro de Energia e Petróleo e também diretor da estatal petrolífera PDVSA.
“Mesmo diante da doença grave de Chávez, é muito difícil falar em possíveis substitutos. Chega a ser impossível pensar em uma figura que possa substituí-lo. Neste momento, não há ninguém com as características de liderança política e respaldo popular que ele tem”, afirmou Cañas.
Há 13 anos no poder, Chávez foi eleito em 1999 e espera ganhar novamente a eleição de 7 de outubro para um mandato de mais seis anos. O presidente disputará voto a voto com o advogado e governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski, vencedor das primárias da oposição de 12 de fevereiro.

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