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Frente a frente com Moro, Dirceu tentará se desvincular de Duque

Ex-ministro vai alegar que nomeações eram assinadas por ele de maneira 'automática', sem que o processo decisório passasse pela Casa Civil

O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, durante audiência que ouve os presos da operação Lava Jato na CPI da Petrobras, no prédio da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba, na manhã desta segunda-feira (31)
O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Réu no escândalo do petrolão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pretende dizer nesta sexta-feira ao juiz Sergio Moro que não tem relação com o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, apontado como um dos principais destinatários da propina desviada de contratos da estatal, e que não teve participação na indicação dele para o cargo na petroleira. De acordo com a defesa do petista, apesar de as nomeações para cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões passarem necessariamente pela Casa Civil, não se pode dizer que Dirceu foi o padrinho político de Duque.
"Dirceu vai explicar que as nomeações eram quase que automáticas. Claro que todas as nomeações, por força de obrigação, passam pela Casa Civil. Em última análise, em todas as nomeações feitas enquanto José Dirceu estava na Casa Civil, a última assinatura passa por ele. Não passa por ele o poder decisório, mas o papel da Casa Cicil é assinar as nomeações", disse o criminalista Roberto Podval. "José Dirceu não tinha nenhuma relação com Renato Duque", completou ele. Dirceu prestará depoimento na tarde desta sexta-feira ao juiz Sergio Moro na ação penal a que responde por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. É possível que ainda nesta sexta também seja ouvido o lobista Fernando Moura, que havia apontado Dirceu como o padrinho de Renato Duque na Petrobras, depois voltado atrás e livrado o petista de suspeitas de corrupção. Em um último depoimento, Moura voltou a incriminar Dirceu ao afirmar "ter certeza" de que ele tinha conhecimento do esquema de propina instalado na Petrobras.
Em depoimento de delação premiada, Fernando Moura disse que durante as eleições de 2002, que levaram Lula ao poder, conheceu Licínio de Oliveira Machado, sócio da Etesco Construções e Comércio. O executivo apresentou a ele o nome de Renato Duque, posteriormente indicado por Dirceu e Silvio Pereira para a diretoria de Serviços da Petrobras. Moura revelou que a partir da entrada de Duque na cúpula da estatal, houve indícios de que um esquema de desvio de dinheiro de contratos estava a pleno vapor. Na última semana, porém, ele negou ao juiz Sergio Moro que Dirceu tivesse sido o responsável pela indicação de Duque na Petrobras e disse que, ao contrário do que declarou em oitivas anteriores, o ex-ministro não sugeriu que ele saísse do Brasil durante o mensalão.
Em uma nova rodada de depoimentos, no entanto, Moura alegou que mudou de versão porque teria recebido uma ameaça em uma rua de Vinhedo (SP), onde vive, um dia antes de fazer as primeiras revelações a Moro. "É mentira. Ele não foi ameaçado em Vinhedo, a gente sabe que não foi. Aquilo é ridículo. Ele foi ameaçado, sim, de perder a delação, o que era natural. E aí saiu correndo e voltou atrás", rebateu o advogado Roberto Podval.
Segundo o Ministério Público, as suspeitas são de que Dirceu, réu pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, atuava em um dos núcleos do esquema de corrupção na Petrobras para arrecadar propina de empreiteiras por meio de contratos simulados de consultoria com a empresa dele, a JD Consultoria e Assessoria. Os indícios nas investigações apontam que o petista recebeu 11,8 milhões de reais em dinheiro sujo, tendo lavado parte dos recursos não só em serviços fictícios de consultoria, mas também na compra e reforma de imóveis para familiares e na simulação de aluguéis de jatinhos.
De acordo com as investigações, o esquema do ex-chefe da Casa Civil na Lava Jato movimentou cerca de 60 milhões de reais em corrupção e 64 milhões de reais em lavagem de dinheiro. Ao todo, o MP calcula que houve 129 atos de corrupção ativa e 31 atos de corrupção passiva entre 2004 e 2011, além de 684 atos de lavagem de dinheiro entre 2005 e 2014.

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