A nova celeuma entre acusação e defesa surgiu depois que o criminalista Nabor Bulhões, que conduz a defesa de Odebrecht, protocolou nesta semana na Justiça Federal em Curitiba uma petição em que acusou a Procuradoria de
manipular um depoimento do delator Paulo Roberto Costa para prejudicar o executivo.
O advogado afirmou que a transcrição do depoimento do ex-diretor da Petrobras, gravado em vídeo em 3 de setembro de 2014, omitiu de propósito um trecho em que Costa disse conhecer Odebrecht, mas nunca ter tratado do recebimento de propinas com ele.
O depoimento em questão era sobre quem eram os dirigentes de empreiteiras com quem o então diretor da estatal tratava da distribuição de obras da empresa em troca de suborno.
Na ocasião, após Costa ter citado Rogério Araújo e Márcio Faria como seus interlocutores na Odebrecht, um procurador perguntou sobre o presidente do grupo.
"Uai, eu conhecia ele, tive algum contato com ele, mas nunca tratamos de nenhum assunto desses diretamente com ele...", disse.
Depois, Costa pediu: "Nem põe o nome dele aí porque com ele não, ele não participava disso".
Segundo o procurador, o termo de declarações do delator é fidedigno, porque sua função é resumir os principais pontos do que foi dito.
Na visão do Ministério Público, a frase de Costa que não entrou na transcrição é irrelevante, porque Odebrecht jamais foi acusado de ser a pessoa que tratava diretamente da propina na Petrobras, mas o dono da última palavra em uma cadeia a quem os demais executivos se reportavam.
Lima afirmou ainda que, na época, o próprio Costa considerou que a menção a Marcelo Odebrecht era desnecessária na transcrição.
"Nenhuma das acusações contra ele se baseou em depoimento de Paulo Roberto Costa. A acusação de manipulação de uma transcrição é uma coisa ridícula, uma ficção, uma leviandade da defesa para atrasar o processo".
PEDIDO PROTELATÓRIO
A cúpula da Odebrecht foi presa em 19 de junho do ano passado. Réu por acusações de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, o herdeiro do quarto maior conglomerado privado do país está em prisão preventiva desde então por suspeitas de tentar atrapalhar as investigações.
Procurado pela
Folha, Paulo Roberto Costa reafirmou os termos do depoimento: "O que eu falei [na delação] é que nunca conversei com o Marcelo sobre esse tema. Falei com pessoal subordinado a ele. Conheci Marcelo porque fazíamos parte do conselho da Braskem [petroquímica do grupo Odebrecht em sociedade com a Petrobras]. Se ele sabia ou não de desvios, eu não sei".
Com a ressalva de ter prestado muitos depoimentos, o ex-diretor da Petrobras disse não se lembrar de ter pedido para apagar a menção a Marcelo Odebrecht.
Na terça, o juiz Sergio Moro rejeitou o pedido da defesa, que queria que o Ministério Público Federal apresentasse os vídeos de todos os depoimentos de delatores e que estendesse o prazo da ação penal para permitir a comparação com todos os termos de transcrição.
O magistrado considerou o pedido "meramente protelatório".
OUTRO LADO
Por meio de nota, o advogado Nabor Bulhões voltou a insistir que a afirmação de Paulo Roberto Costa sobre não ter tratado de propina com Marcelo Odebrecht deveria constar no termo de colaboração.
O defensor do herdeiro do grupo Odebrecht reafirmou que o ex-diretor da Petrobras o isentou "de forma incisiva". "Na gravação, Paulo Roberto pede que o nome de Marcelo não seja incluído na investigação, e explica a razão: 'ele não participava disso'. É evidente que esta afirmação contundente deveria constar do termo", diz o advogado no texto.
Paulo Roberto Costa, na verdade, disse que nunca tratou de propina com Marcelo Odebrecht, mas com subordinados do então presidente do grupo.
"Quanto à afirmação de que o depoimento não foi usado para acusá-lo, vale esclarecer: nenhum depoimento poderia ser usado com esse fim, uma vez que, nas milhares de horas de oitivas de delatores e de testemunhas da operação, o nome de Marcelo nunca foi relacionado aos fatos investigados", disse ainda Bulhões.
Ele encerra a nota, repisando que houve "patente a manipulação da prova pelos investigadores".
O advogado preferiu não comentar a alegação da Procuradoria de que promove manobras "levianas" para retardar o julgamento de seu cliente.
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