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Defensores da intervenção militar têm de se juntar ao PT: cada grupo defende o seu golpe

O oposto do PT não é o golpismo militar, mas a democracia, o liberalismo, as liberdades públicas, os direitos individuais e a imprensa sem censura estatal e patrulha partidária

Por: Reinaldo Azevedo   
Acampamento pró-impeachment: não há lugar nesta largueza para o golpismo
Acampamento pró-impeachment: não há lugar nesta largueza para o golpismo
Está de parabéns o Movimento Brasil Livre, que, em companhia do Vem Pra Rua, promove no gramado do Congresso um acampamento de manifestantes que defendem o impeachment da presidente Dilma. A propósito: Renan Calheiros (PMDB-AL), que preside o Senado, a exemplo de Eduardo Cunha (PMDB-AL), que comanda a Câmara, deu autorização para que as moças e os moços instalem ali suas barracas. É gente ordeira, decente, que se manifesta de forma pacífica, em defesa da Constituição e das leis. Mas as minhas congratulações não se devem a isso apenas.
O MBL botou para correr do acampamento um grupo de menos de uma dezena de pessoas que lá chegaram para defender uma intervenção militar temporária no país. Se querem fazer a sua pregação golpista, que organizem o seu próprio movimento.
Publico abaixo uma entrevista com Renan Santos, um dos coordenadores do MBL, que vai ao ponto. Diz ele: “Os golpistas do PT e esses que pedem intervenção militar estão do lado das soluções extralegais e extraconstitucionais. O PT e as esquerdas querem rasgar a Constituição e a Lei 1.079 para Dilma ficar no poder. E esses caras querem rasgar a Constituição apelando aos tanques. O MBL defende a Constituição e as leis. Nós acreditamos na democracia”.
É isso aí. Renan deve andar pela casa dos 30 anos. É um dos mais “velhos” do MBL, que tem em Kim Kataguiri, de apenas 19, uma de suas faces mais conhecidas. Mas todos eles já são experientes o bastante para saber que militares não servem para governar, a menos que abandonem a farda e disputem eleições como civis. Na foto que ilustra a entrevista, Renan está com uma camiseta em que se lê: “Nossa geração vai mudar o Brasil”.
Tomara que mude! E uma das mudanças essenciais está em lembrar que o oposto do PT não é o golpismo militar; o oposto do PT é a democracia; o oposto do PT é o liberalismo propriamente; o oposto do PT sãos as liberdades públicas; o oposto do PT são os direitos individuais; o oposto do PT é a imprensa sem censura estatal; o oposto do PT é a imprensa sem patrulha partidária.
Santos exibe a saudável consciência de que os que defendem uma intervenção militar — uma minoria inexpressiva — não são nem mesmo aliados táticos da luta em favor do impeachment. Ao contrário: as batalhas políticas trazem o conceito do “aliado objetivo”. Os militaristas são, hoje, aliados objetivos do PT e das esquerdas porque conferem verossimilhança a seu discurso mentiroso, segundo o qual a defesa do impeachment se iguala à defesa de golpe. Errado! A defesa do impeachment corresponde à defesa da lei e da ordem.
Mais: ainda que houvesse entre os militares os que defendem o golpe, nós deveríamos repudiá-los. Mas nem isso há. Logo, os militaristas não estão apenas errados. São também tolos e pregam no deserto. Nessa geração que quer e, espero, “vai mudar o Brasil”, não existe espaço para vivandeiras. Se você não sabe o que a palavra significa, explico. Originalmente, as vivandeiras eram mulheres que acompanhavam tropas de soldados para vender mantimentos e bebidas. Por metáfora, são as pessoas que gostam de causar agitação política em quartel.
Tenho muitas fontes entre os militares — da ativa e da reserva. Já conferi palestras aos dois grupos. Insatisfações, obviamente, as há aos montes. Mas não encontrei um só oficial relevante que defenda ou ache possível uma intervenção. De resto, o mundo repeliria qualquer coisa do gênero e transformaria o Brasil num pária político. E com razão!
Assim, a defesa da intervenção militar, além de contaminar a luta limpa, civilista e democrática em favor do impeachment, é também burra e contraproducente. Esses caras deveriam aproveitar e marcar uma manifestação conjunta com os petistas: os dois lados defendendo um golpe, mas cada um o seu. O que lhes parece?
Fui perseguido pela ditadura mal tinha feito 16 anos. Sim, eu “militava” contra o regime. Era mais um garoto de bons propósitos do que propriamente informado. Ditaduras não sabem distinguir direitos de deveres. Tomei algumas borrachadas na crise do regime. Quando vejo esses, que me desculpem, bobalhões cobrando intervenção militar, noto o óbvio: também eles não querem democracia. E, se não querem, são adversários da civilidade política e devem ser combatidos. A exemplo do petismo. É simples assim. Ah, sim: não são direitistas. São tolos.
E é inútil tentar distorcer o que penso porque está tudo em arquivo. Quando alguns bananas, inclusive do governo federal, se organizaram para rever a Lei da Anistia, eu os tratei às pancadas — intelectuais e políticas, é claro! Não porque eu tenha tido, ao longo da vida, ou tenha hoje, alguma simpatia pela ditadura, mas porque a anistia supõe esquecimento para fins jurídicos, mas não apagamento da memória.
E a memória me diz, além da decência, que a democracia é o único caminho aceitável.

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