Entrevista
JOSÉ LUIZ DATENA
Tenho menos grana que o Lula
Gabriel Reis
Gabriela Dobner
Edição 22.09.2017 - nº 2493
Edição 22.09.2017 - nº 2493
Aos 60 anos, o apresentador e radialista José Luiz Datena retoma o projeto de entrar para a política. Após uma curta passagem pelo PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf, em 2015, quando tinha a intenção de ser candidato à Prefeitura de São Paulo, assinou sua filiação ao PRP (Partido Republicano Progressista) no último fim de semana. Recebeu convite para concorrer ao Senado nas eleições de 2018. Ainda não bateu o martelo, mas diz estar preparado para uma devassa na sua vida. “Se alguém falar que sou ladrão, pode analisar minha conta bancária. Tenho menos grana que o Lula.” No comando dos programas diários “Brasil Urgente”, na Band, e “90 Minutos”, na rádio do grupo, Datena é um dos mais influentes apresentadores do País. Sem papas na língua, chato, agressivo e pavio curto, prefere se abrigar em um camarim sem janelas para “preservar as pessoas”. “É impossível fazer um programa como o Brasil Urgente e ser um cara legal.” Corintiano, é casado há 30 anos com Matilde. Tem cinco filhos e seis netos.
A delação premiada pode efetivamente ajudar a combater o crime no Brasil?
Esta é uma lei absurdamente nova no País. Tem 4 anos, precisa ser estudada. Porque concede imunidade a bandidos da pior espécie.
A polêmica sobre a delação da JBS pode tirar credibilidade da Lava Jato?
A Lava Jato é o que está mais próximo de uma defesa do regime democrático brasileiro. Joesley surgiu no governo Lula e de repente ficou bilionário com o dinheiro do BNDES. Ele é um bandido que em qualquer lugar do mundo estaria preso há muito tempo por vender comida estragada. O que salvou a Lava Jato foi o interrogatório do Palocci (ao juiz Sergio Moro) logo depois. Ele não prestou delação premiada, mas contribuiu com a Justiça para aliviar o lado dele. Percebeu que o Lula, a Dilma e o PT inteiro iam abandoná-lo. Palocci passa a ser o cara que o Lula chamou de dissimulado, mas antigamente dizia que era o seu sucessor como presidente e o pensador político do PT. A contribuição que o Palocci deu não foi só à Justiça. Foi, na verdade, a de salvaguardar a posição da Lava Jato. Com o depoimento dele não se pode desmoralizar a operação, porque foi um ex-ministro, um cara que era cotado para ser presidente, que contou detalhes deixando os reis nus. Tanto o Lula quanto a Dilma. Não me venham dizer que o que ele falou é bravata.
Como o senhor avalia a troca de comando na Procuradoria-Geral da República?
Achei o Janot apressado demais em dar a Joesley essa série de benefícios homologada pelo ministro Edson Fachin (STF). Não é uma delação premiada. É uma Mega-Sena delação premiada. Mas graças à competência da Polícia Federal, que recuperou a gravação, ficou bem claro quem era esse Joesley e que esse cara merecia no mínimo passar pela cadeia.
O senhor pretende se candidatar ao Senado em 2018?
Eu tenho convite. Me atrai ser candidato? Me atrai. Pensei em ser candidato a prefeito de São Paulo. Os números estavam maravilhosos. Tanto pelo Ibope quanto pelo Instituto Paraná. Eu era o segundo colocado e tinha grandes chances de ser eleito. Mas aí vem a segunda parte da história que incomoda muito, o financiamento da campanha. Comecei a perguntar à época e ninguém me respondeu. Não vou botar do meu bolso porque não tenho dinheiro como o João Doria, que bancou a campanha dele. Pensei outra coisa mais importante. A vaidade te impele a fazer isso. E eu não sei qual a proporção. Talvez a mosca azul de Machado de Assis seja mais importante do que qualquer outra coisa.
Pela vaidade…
Não sei responder com sinceridade. Acho que mais para ajudar o povo. Mas a vaidade pesa muito nisso também.
O senhor tem conversado com alguém sobre isso?
Liguei para o Doria. Ele falou assim: “Você está rico, milionário?” Falei que não. Tive uma multa milionária ao sair da Record. Paguei US$ 10 milhões. Estava errado e paguei. Então hoje não tenho grana. Tenho muito menos grana que o Lula. Aliás, mesmo quando eu ganhava muito dinheiro nunca consegui chegar perto do que o Lula tem guardado.
Há esperança na política?
Ainda tem gente boa. Mesmo. Mas a maioria não é. É uma raça que vai se autodestruir porque é de índole ruim.
O senhor viveria com salário de senador?
Tenho condição de viver com o salário de senador. Mas só eu e minha mulher, porque eu ajudo a família inteira. Mas todo mundo que gosta de mim diz para eu não entra nessa. Até o Lula uma vez me aconselhou a não ser candidato. Falou que os caras iam investigar até o último ponto da minha vida.
Tem algo a esconder?
Se alguém falar que sou ladrão, vou mandar analisar minha conta. O cara que analisar minha conta, perto do dinheiro que eu já ganhei, vai dizer: “Esse cara é um dos maiores otários que eu já vi na minha vida”. Faço mau negócio, assino contrato errado. Não é que não cumpra contrato. É que quando o cara me enche o saco eu vou embora.
O senhor é pavio curto fora da TV também?
Com minha mulher eu não sou tanto. Ela fala manso. Com as outras pessoas, sou em tudo. Não tenho muita paciência. Quando falo que quero ficar em um camarim sem janela não é para me preservar. É para preservar as pessoas porque às vezes eu sou injusto.
Então se considera um típico chato?
Sou pior do que chato. Sou meio agressivo. É impossível você fazer um programa como o “Brasil Urgente” e ser um cara legal. Não dá.
Por que, então, continuar a fazer o Brasil Urgente?
Porque eu tenho contrato. Meus filhos tiveram uma infância muito pobre. Foram privados de muitas coisas. O Joel é um baita apresentador de televisão, mas acredito que outras televisões não o contrataram porque ele é meu filho. Ele vive em uma casa modesta. Meu outro filho tenta construir casas, mas está em uma situação difícil porque o País está em uma situação difícil. O outro filho tem uma empresa de barcos que fechou. Minha filha tem talento, mas é filha do Datena. Ela fica nua na capa da Playboy e como é minha filha os caras querem arrebentar com a menina. Outro filho mora em Munique, na Alemanha, tentando ganhar a vida com uma empresa de informática. Se eu não ajudar os caras, eles vão ter dificuldade.
Queria fazer outro tipo de programa?
Se o cara me oferecesse um programa aos domingos eu acharia ótimo. Me sinto em condições de fazer um programa de variedades. Mas o que tem para hoje é isso aqui. Eu tenho de fazer isso aqui. Mas realmente não me apraz fazer programa de polícia por 3h20.
O senhor tem problemas com o álcool?
Outro dia me encheram o saco sobre alcoolismo. Mas não é isso. Todos os caras que bebiam muito e bebem muito são alcoólatras. Mesmo aquele que para de beber. Eu bebia muito. Bebia desde moleque. Junto com o Sócrates. Ele foi meu amigo de infância. Eu bebia mais do que ele. Depois que fiz uma cirurgia no pâncreas, diminuí muito o ritmo de bebida.
Chegou a trabalhar alcoolizado?
Nunca bebi antes de trabalhar. Nunca trabalhei sob efeito de bebida. Como eu não trabalhava todo dia, tomava cerveja pra caramba. Mas, quando comecei a fazer o “Cidade Alerta” (Record), passei a beber só final de semana. Aí veio a doença (um tumor benigno no pâncreas) e fiquei um ano sem beber. Atualmente bebo o mínimo possível. O mínimo que eu posso aguentar. Porque sei que, se eu tomar um copo de vinho, posso tomar bastante vinho. Posso dizer que hoje bebo quase que absolutamente nada. Todo alcoólatra se beber vai chutar o balde e fazer um monte de besteira. Todas as cagadas que eu fiz foram sob efeito de álcool. É uma droga socialmente aceita.
O senhor fez sua carreira no esporte. Acompanha futebol até hoje?
Não. Eu odeio. Eu só vejo futebol internacional. O esporte me deu possibilidades que eu jamais teria. Porque meu pai era porteiro e vendia bilhete de loteria. Minha mãe costurava bolas. Sempre fui um cara, não digo abaixo da linha da pobreza, mas carne em casa era salsicha de domingo ou um franguinho. Jamais teria conseguido alguma coisa na minha vida se eu realmente não tivesse tido o esporte como ‘start’.
Por que o senhor não assiste mais a futebol nacional?
Porque fiquei 30 anos na beira do gramado. Gosto do futebol internacional pelo espetáculo dos estádios. No Brasil, dos doze grandes estádios, dez estão sob investigação. Me irrita ver jogos nestes locais.
Confiante no título do Corinthians no Brasileirão?
Sim, o Corinthians será campeão.
O que o senhor faz para relaxar?
Não faço nada interessante. Leio muito. Até bula de remédio. Atualmente estou relendo clássicos que li há muitos anos, como Dom Quixote. Notícias só porque sou obrigado. Gosto também de ouvir música clássica.
Gosta de sair de casa?
Sou caseiro. Comprei uma casa em um condomínio em São Paulo com pessoas importantes. Elas ficaram preocupadas achando que eu fosse incomodá-las. Chamei uma delas e disse: “Queria te avisar que vou morar no condomínio. Mas é o seguinte. Não gosto de ir à casa de ninguém. Mas também não gosto que venham à minha casa”. Eu não gosto mesmo de visitas. À exceção dos meus filhos e netos
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