Pular para o conteúdo principal

A inusitada aposta da Petrobras na Bacia de Campos

A inusitada aposta da Petrobras na Bacia de Campos



A petroleira chegou a fazer uma oferta em valor 18 vezes superior à segunda melhor proposta, na 14ª rodada de licitação da ANP

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
                                                              

Plataforma em obras para a Petrobras.A estatal não precisa faze tudo sozinha (Foto: Dado Galdieri/Bloomberg via Getty Images)
Que a Petrobras está há três anos tentando resolver sua intrincada situação financeira, causada por investimentos equivocados e política de preços suicida, não é novidade. Da mesma forma, é público que, para tentar baixar a dívida, hoje de R$ 295 bilhões, e voltar a lucrar, resolveu diminuir sua aposta na Bacia de Campos, onde atua há quatro décadas, para concentrar a exploração e produção no pré-sal da Bacia de Santos. Isso posto, causou curiosidade a desproporcional voracidade com que a petroleira se lançou para arrematar dois blocos, justamente na Bacia de Campos, entre 287 blocos ofertados para exploração na 14ª Rodada de Licitação da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em um deles, a oferta, feita em parceria com a Exxon, teve valor 18 vezes superior à segunda melhor proposta, da dupla Shell-Repsol.
Até o momento em que foram feitas as maciças ofertas da Petrobras, o leilão seguia rumo a um fiasco na manhã desta quarta-feira (27), no Rio de Janeiro. Antes de serem ofertadas as áreas em Campos, foram oferecidas oportunidades em outras oito bacias sedimentares, em terra e no mar, com um total de 279 blocos. Apenas 29 áreas receberam oferta. A Petrobras havia arrematado apenas uma, em terra, na Bacia do Paraná, por modestos R$ 1,7 milhão. No total, até aquele momento, a ANP, ou seja, a União, havia arrecadado menos de R$ 200 milhões, muito longe da expectativa de arrecadação de R$ 1 bilhão que o governo federal havia alardeado.
>> "A janela para lucrar com o pré-sal fechou", diz David Zylbersztajn
Quando iniciou-se a oferta das oito áreas da Bacia de Campos, o jogo tomou outro rumo. Maior petroleira do mundo, a Exxon, empresa até então com discreta presença no mercado de exploração e produção no Brasil, decidiu levar dois blocos sozinha, desembolsando R$ 47 milhões e R$ 16 milhões, respectivamente. Nas três ofertas seguintes, Petrobras e Exxon se uniram em consórcio para arrematá-las por R$ 85 milhões. Até aí, nada demais. Nas duas áreas seguintes, a dupla de petroleiras resolveu mudar o patamar das apostas.
Em uma delas, a CM 346, a oferta chegou a R$ 2,24 bilhões, abatendo a proposta da Shell e Repsol (R$ 443 milhões), a chinesa CNOOC (R$ 127 milhões) e a dupla franco-britânica Total-BP (com modestíssimos R$ 25 milhões). Em outra, a CM 411, Petrobras e Exxon apostaram R$ 1,2 bilhão, contra lances muito menores de Total-BP (R$ 48 milhões), Shell (R$ 66 milhões) e CNOOC (R$ 31 milhões). Para terminar, a dupla arrematou mais uma área, por R$ 61 milhões, desta vez sem concorrência.
>> Como estava a Petrobras quando foi assumida por Pedro Parente
Diante do disparate em relação às segundas ofertas, pairou a dúvida: erro de avaliação por parte da Petrobras ou profundo conhecimento do potencial de produção das áreas arrematadas? Pedro Parente, presidente da Petrobras, jura não ter havido falha. “A Petrobras detém o maior conjunto de informações sobre o offshore brasileiro. Portanto, não pagaríamos o valor que pagamos se não tivéssemos informações sobre o real valor”. Para uma fonte que acompanhou o leilão de perto, a estatal apostou alto porque assustou-se com a forte concorrência nas áreas.
De fato, em um leilão chocho em competição – em apenas 8 dos 37 blocos arrematados houve mais de uma oferta -- as duas áreas bilionárias foram as que mais tiveram concorrentes. A Petrobras só não conseguiu pressentir a pouca disposição desses concorrentes para o jogo. Preparou-se demais para quem parecia estar somente em treino – ou, considerando a declaração de Parente – quem não sabia exatamente o que jogava. Décio Oddone, diretor geral da ANP, explicou, em entrevista coletiva, que o fato de as áreas arrematadas estarem “na franja do pré-sal” dá indícios do potencial que têm.
>> Como a mudança na lei do pré-sal beneficia a Petrobras e o Brasil
A oferta pesada da Petrobras traz à lembrança a folclórica participação da empresa de Eike Batista no leilão de áreas realizado na 9ª Rodada, em 2007, quando a sua então OGX gastou R$ 1,5 bilhão, de um total de R$ 2,1 bilhões arrecadados pela ANP. Arrematou, na ocasião, 21 áreas, pagando ágio altíssimo. Em uma das áreas, ofereceu R$ 300 milhões em um bloco onde nem sequer houve disputa. Muitas áreas  ofertadas na ocasião haviam sido rejeitadas anteriormente pela Petrobras. Eike alegava que, para obter sucesso, usaria os conhecimentos de sua equipe técnica, a maioria egressa da Petrobras, e novas tecnologias para extrair óleo onde a estatal nada tinha encontrado. A história mostrou, sete anos depois, que Eike estava errado.
O caso da Petrobras parece longe do que aconteceu com Eike. Mas não deixa de causar estranheza que a estatal, que carrega uma dívida de R$ 295 bilhões (já foi de quase R$ 500 bi, em 2015), tenha topado desembolsar quase R$ 1,7 bilhão por duas áreas na Bacia de Campos que poderiam ter sido arrematadas, com folga, tendo gastado 70% menos, junto com seu sócio. Se a aposta alta foi certeira, só se saberá daqui a, pelo menos, oito anos – tempo médio para um reservatório entrar em franca produção.
>> A exploração do pré-sal tem futuro?
No resultado geral, porém, a empresa que mais apostou foi a Exxon. A gigante americana desembolsou mais de R$ 1,9 bilhão, ante R$ 1,8 bilhão da Petrobras, para garantir presença nos oito blocos oferecidos na Bacia de Campos e dois na Bacia de Sergipe/Alagoas, no mar.
Oddone, da ANP, diz que o resultado do leilão era esperado. A ANP comemorou o fato de o leilão ter batido recorde em arrecadação – R$ 3,8 bilhões. Segundo o executivo, a agência não esperava oferta em vários blocos. Muitas delas deverão entrar em uma espécie de cardápio permanente de áreas, que os investidores poderão arrematar para explorar sob concessão a qualquer momento, independentemente do leilão.
“Foi um bom leilão, com apostas surpreendentemente altas em alguns ativos. Houve baixa competição, mas houve empresas de peso, como a Repsol e a chinesa CNOOC, que vão trazer um nível bom de investimento para o país”, diz Giovani Loss, sócio da área de Óleo e Gás do escritório Mattos Filho. Em sua opinião, muitas empresas de grande porte podem estar guardando munição para as duas rodadas de áreas do pré-sal na Bacia de Santos, que vão acontecer em outubro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p