Barroso quer conclusão de investigações antes de ‘virar página’
Ministro do Supremo Tribunal Federal defendeu uma reforma do sistema político como uma das ferramentas para combater a corrupção no país
Em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal, na semana passada, o ministro do STF Gilmar Mendes havia dito que “o ‘ethos’ [valores, ideias e crenças] de um país não pode ser a luta contra a corrupção”. Na segunda, Gilmar elogiou Raquel Dodge, a nova procuradora-geral da República, por ter afirmado em seu discurso de posse que pautará outros temas além do combate à corrupção no Ministério Público Federal (MPF).
Na quarta-feira, o plenário do STF também decidirá se acata recurso da defesa do presidente Michel Temer (PMDB), que pede a suspensão da análise da segunda denúncia contra o peemedebista até que novos áudios de delatores do grupo JBS, juntados aos autos, sejam totalmente analisados. A denúncia contra Temer chegou ao STF na quinta, mas o relator, ministro Luiz Edson Fachin, já havia decidido que o plenário deve dar a última palavra sobre a solicitação dos advogados de Temer.
Segundo Barroso, a corrupção no Brasil “foi um pacto oligárquico de saque ao Estado e que envolveu a iniciativa privada”. O ministro, no entanto, disse não estar pessimista com relação ao futuro do país. “Derrotamos a ditadura, a inflação, a pobreza extrema. Não há por que achar que a corrupção seja um desafio que não possamos vencer”, afirmou.
Reforma política
Barroso disse que a reforma política é uma das medidas que precisam ser adotadas para combater a corrupção. “Se não mudarmos o sistema político, não nos livraremos da corrupção associada ao sistema eleitoral”, declarou. “Temos que parar de pensar o país apenas em função da próxima eleição.”Para o ministro, o Brasil precisa de novos atores políticos, que não tenham compromisso com a velha ordem. “O eleitor não sabe exatamente quem ele elegeu e muito menos o eleito sabe quem o elegeu, uma vez que 90% dos deputados eleitos não contam com votação direta.”
O ministro disse que o país passa por uma enorme judicialização, em que os mais diferentes tipos de conflito são levados ao Judiciário. “Uma matéria só chega ao Judiciário quando tem briga. Isso não é a forma normal de se viver a vida”, disse Barroso, antes de afirmar que há uma sobrecarga de trabalho no STF.
Barroso é contrário ao foro privilegiado, que transfere ao STF a responsabilidade de dar a última palavra sobre cada questão envolvendo integrantes do Executivo e Legislativo. “É problemático para o Supremo porque atrapalha a sua função principal, cria tensão”, afirmou.
(Com Estadão Conteúdo)
Comentários
Postar um comentário