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Lewandowski sinaliza ao Planalto que STF não deve afastar Cunha da Presidência da Câmara

Se Dilma, em seu próprio proveito, tivesse um pouco mais de cérebro e um pouco menos de fígado, torceria para seu antípoda permanecer onde está. Hoje, Cunha se tornou um elemento que atrapalha a tese do impeachment, não o contrário

Por: Reinaldo Azevedo


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como sabemos todos, foi de uma espetacular eficiência para “pegar” Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Nem se longe o que se deu com o político peemedebista representa o padrão médio da Procuradoria-Geral da República. Basta ver a situação bem mais confortável dos outros políticos, em especial a de Renan Calheiros (PMDB-AL). Janot, de fato, não economizou: no fim do ano passado, recorreu ao Supremo para afastar Cunha da Presidência da Câmara. Acusação: ele estaria usando o cargo de que dispõe para obstruir as investigações.
O Supremo tomará a sua decisão no mês que vem. Ricardo Lewandowski, presidente da Casa, teria informado ao Palácio, segundo reportagem da Folha, que, hoje, a balança pende mais a favor de Cunha do que contra no Supremo. Notem: não se trata de um juízo de mérito sobre as acusações que há contra o parlamentar, investigadas em três inquéritos. Nada disso!
Não haveria é a maioria de seis votos para afastá-lo da Presidência com base na acusação de que ele esteja obstando a investigação. Lewandowski teria dado a entender que os elementos arrolados por Janot não caracterizam a tal obstrução.
A reportagem informa que os auxiliares de Dilma se dividem quanto à conveniência de afastar ou não Cunha. A própria presidente seria favorável. Não duvido. Dilma não é exatamente uma pensadora profunda. Um mínimo da malícia necessária para entender a natureza do jogo poderia dizer à presidente que, enquanto Cunha estiver no cargo, melhor para ela: sempre é possível sustentar a farsa de que está sendo vítima de um complô liderado pelo Malvadão. Se ele sai de cena, Dilma resta sozinha, em seu labirinto, sem o inimigo de estimação. Aí restam ela, suas hesitações e sua incompetência política.
Já escrevi aqui mais de uma vez que não é fácil o Supremo tomar essa decisão. Reitere-se: isso nada tem a ver com um juízo de mérito sobre as acusações que pesam contra o deputado. Eu, por exemplo, acho há muito tempo que Cunha já deveria ter deixado a Presidência da Câmara. Dado tudo o que se sabe sobre ele, defendo que seja cassado.
Já a acusação de Janot é uma clara e óbvia forçada de mão, típica de quem resolveu entrar num guerra também pessoal. Sim, é certo que Cunha está fazendo o diabo para continuar no cargo. Mas, lamento informar, atuou segundo as normas do Regimento — inclusive, para lembrar um caso que diz respeito a Dilma, quando fez a votação secreta para a comissão do impeachment, anulada pelo STF. Nesse caso, quem jogou as regras no lixo foi o tribunal.
Depois daquela intervenção desastrada, mais uma, tenho, de fato, minhas dúvidas se o STF vai se arvorar em salvador da pátria e destituir o presidente da Câmara. Como representante do povo, Cunha fraudou a confiança que nele depositaram os eleitores e deve, por isso, perder o mandato. Como presidente da Casa, no entanto, atuou segundo o que lhe faculta o Regimento Interno.
Se Dilma, em seu próprio proveito, tivesse um pouco mais de cérebro e um pouco menos de fígado, torceria para seu antípoda permanecer onde está. Hoje, Cunha se tornou um elemento que atrapalha a tese do impeachment, não o contrário.

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