André Gerdau nega envolvimento em esquema ilegal no Carf
Em depoimento à PF, CEO da siderúrgica afirma que 'tinha papel de decisão' e que nem sabe onde fica o Carf, segundo advogado
Alvo de um mandado de condução coercitiva na sexta fase da Operação Zelotes, o empresário André Bier Gerdau Johampeter, CEO da Gerdau, negou nesta quinta-feira em depoimento à Polícia Federal ter envolvimento no esquema de compra de decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). A informação foi repassada ao site de VEJA pelo criminalista Arnaldo Malheiros Filho, defensor de Gerdau. Leia também: Gerdau é suspeita de usar consultorias para dissimular pagamentos a lobistas Segundo Malheiros, André Gerdau explicou à PF que delegava aos subordinados do Grupo Gerdau as decisões sobre como recorrer ao Carf contra autuações tributárias e se limitava a dar diretrizes de atuação e estabelecer metas. "Meu papel é de decisão, não de execução. Nem sei onde fica o Carf", disse o filho de Jorge Gerdau, segundo o advogado. "Minha orientação era que fossem usados todos os recursos legais contra uma tributação considerada injusta." "Ele [André Gerdau] disse que não conhece nada. Ele respondeu 'não sei' a 80% das perguntas. Ele desconhece a tramitação [no Carf]. Perguntaram, por exemplo, por que mudou o processo de distribuição de processos no Carf? Ele não sabe isso", contou o advogado. Suspeitas - O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, autorizou a condução coercitiva de André Gerdau e buscas na residência dele em Porto Alegre (RS), bem como em duas sedes da Gerdau no Rio Grande do Sul. O computador de André Gerdau foi vasculhado. A empresa é suspeita de ter usado dinheiro de subcontratadas - um caixa paralelo - para pagar trabalhos de lobistas presos na Zelotes por montarem um esquema de corrupção no Carf. A PF informou que a Gerdau tentou sonegar cerca de 1,5 bilhão de reais. "É um absurdo que se tenha falado em sonegação. Está no auto de infração o que o fiscal achou que a Gerdau devia, e o que a empresa acha que não deve", protestou Malheiros. Conforme o criminalista, a Gerdau teve sete processos levados ao Carf, dos quais apenas um já tem resultado em definitivo e desfavorável à companhia. Ele afirma que, por isso, a Gerdau "não realizou nenhum pagamento" aos escritórios contratados para defender os interesses da empresa no órgão, ligado ao Ministério da Fazenda. O advogado disse que a Gerdau fechou contratos por êxito: os serviços só seriam pagos em caso de sucesso na redução ou anulação da multa. Ele acrescentou que a Gerdau já teve decisões favoráveis no conselho, mas que ainda cabe recurso contras elas - e portanto os pagamentos não foram quitados. O advogado disse também que as empresas foram contratadas por sugestão de funcionários da Gerdau e que os contratos foram rescindidos quando a PF deflagrou a Zelotes e vieram à tona os indícios de crime. Malheiros refutou a tese de que a empresa tenha se envolvido em crimes depois da primeira fase da operação, em março de 2015. Ele negou que André Gerdau conheça os lobistas presos, como José Ricardo da Silva, ex-conselheiro do Carf apontado como o principal elo da quadrilha com a companhia. André Gerdau se apresentou aos investigadores em São Paulo por volta das 14 horas desta quinta e depôs por cerca de 40 minutos. Ele foi interrogado pelo delegado Alexandre Gonçalves, da Delefin [Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvio de Recursos Públicos]. As perguntas, porém, foram enviadas de Brasília, onde atuam os delegados Marlon Cajado e Fernanda Costa de Oliveira.
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