Obama: Rússia ameaça vizinhos por fraqueza, não por força
Presidente americano caracteriza Rússia como "força regional"
O presidente americano Barack Obama durante um encontro entre líderes mundiais na Holanda (/Reuters)
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou a Rússia nesta terça-feira como uma “força regional”, e suas ações na Ucrânia, como uma demonstração de fraqueza. “A Rússia é uma potência regional que está ameaçando alguns de seus vizinhos não por força mas por fraqueza”, disse, no encerramento de um encontro sobre segurança nuclear realizado na Holanda.
O presidente americano acrescentou que os Estados Unidos também têm influência sobre seus vizinhos, “mas geralmente não precisamos invadi-los para ter um forte relacionamento de cooperação com eles”. Para o democrata, o fato de a Rússia considerar que era necessário violar a lei internacional para incorporar território indica que o Kremlin tem “menos influência, não mais”.
A afirmação foi feita em resposta à pergunta de um jornalista que queria saber se seu rival nas eleições de 2012, o republicano Mitt Romney, estava certo em apontar a Rússia como o maior inimigo geopolítico dos EUA. “Eles não representam a ameaça número um à segurança nacional”, disse Obama. “Eu continuo muito mais preocupado com a perspectiva de um ataque nuclear contra Manhattan”, disse, segundo declarações reproduzidas pelo jornal The Washington Post. Leia também: Kiev ordena saída de seus soldados da Crimeia União Europeia e Ucrânia assinam acordo de associação Integrante de grupo de extrema direita é morto na Ucrânia
O presidente americano também ressaltou que não cogita uma resposta militar à anexação da península ucraniana da Crimeia formalizada na última semana por Moscou – a menos que Vladimir Putin ataque países membros da Otan. “Quando se trata de uma resposta militar em potencial, isso é definido pela aliança da Otan”, declarou. (Continue lendo o texto)
As declarações de Obama fazem parte da estratégia de isolar Putin em resposta à anexação da Ucrânia. Nesta segunda, as potências do G7 (EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Japão e Canadá) excluíram a Rússia do grupo e cancelaram uma reunião que seria realizada em Sochi, que foi sede das Olimpíadas de Inverno em fevereiro. Leia mais: Tanques russos atacam base aérea ucraniana na Crimeia Chanceler ucraniano diz que risco de guerra com a Rússia é alto Estratégia equivocada de Putin na Ucrânia deve expor fragilidade russa
Ao falar sobre a medida adotada pelo G7, Obama disse que as estratégias beligerantes da Rússia provocaram o seu isolamento da comunidade internacional. “O fato de a Rússia ter optado por atos militares indica menos influência, não mais”, destacou. Para o democrata, a presença de tropas russas na fronteira com a Ucrânia configura uma “intimidação”. Movimentação militar – Segundo a rede americana CNN, a Rússia mandou mais 10.000 soldados, artilharia antiaérea e veículos de guerra às posições ocupadas na fronteira com o leste ucraniano. O contingente agora chegaria a 30.000 oficiais, segundo os EUA. Em condição de anonimato, um oficial de defesa americano disse que a Rússia “tem tropas suficientes para nós acreditarmos que um movimento contra a Ucrânia pode acontecer a qualquer momento.”
Um porta-voz do Exército russo disse à agência de notícias Interfax que tropas realizaram exercícios militares nesta terça-feira na Transnístria, região da Moldávia que voltou a ser foco de preocupações depois da anexação da Crimeia. O coronel Oleg Kochetkov disse que foram realizados um “treinamento antiterror e operações contra ataques a sua base militar”. No domingo, um alto comandante da Otan disse haver riscos de que tropas russas invadam a região onde separatistas defendem uma anexação à Rússia nos moldes da realizada na península ucraniana.
As pendências que a Crimeia terá de resolver ao passar da Ucrânia para a Rússia
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Fronteira
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante o discurso ao Parlamento sobre o referendo realizado na região ucraniana da Crimeia
Sem fronteira com a Rússia, a península no sul da Ucrânia buscará uma forma de minimizar a distância geográfica com o país governado por Vladimir Putin. A ligação mais próxima é uma travessia marítima no extremo noroeste da Crimeia que liga a cidade de Kerch ao território russo. O prefeito da cidade disse na última semana que uma ponte de 4,5 quilômetros será construída a partir da região, batizada de Estreito de Kerch, até a Rússia. Essa foi uma promessa de Dmitri Medvedev, o primeiro-ministro do governo de Putin, mas provavelmente levaria anos para ser cumprida de forma definitiva.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante o discurso ao Parlamento sobre o referendo realizado na região ucraniana da Crimeia
Sem fronteira com a Rússia, a península no sul da Ucrânia buscará uma forma de minimizar a distância geográfica com o país governado por Vladimir Putin. A ligação mais próxima é uma travessia marítima no extremo noroeste da Crimeia que liga a cidade de Kerch ao território russo. O prefeito da cidade disse na última semana que uma ponte de 4,5 quilômetros será construída a partir da região, batizada de Estreito de Kerch, até a Rússia. Essa foi uma promessa de Dmitri Medvedev, o primeiro-ministro do governo de Putin, mas provavelmente levaria anos para ser cumprida de forma definitiva.
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Exército
Homens armados, supostamente militares russos, marcham fora de uma base militar ucraniana na aldeia de Perevalnoye, na região da Crimeia
Milhares de soldados ucranianos ocupam atualmente bases espalhadas pela Crimeia. As autoridades da república autônoma dizem que eles podem permanecer na região se jurarem lealdade às forças da Crimeia - caso contrário, serão expulsos. O "retorno" à Ucrânia seria garantido com segurança, mas sem as armas utilizadas nas bases militares. O governo interino em Kiev afirma que os soldados têm o direito de usar a força diante de qualquer tentativa de expulsá-los da região.
As bases estão cercadas por militares russos. A morte de um soldado ucraniano foi anunciada após homens mascarados invadirem um posto de controle. As autoridades da Crimeia afirmam que pretendem assumir o controle de embarcações ucranianas que estão em águas da região. Algumas estão, inclusive, bloqueados por navios russos. O próprio governo ucraniano admite que a sua frota está em péssimas condições e apenas quatro navios podem ser utilizados em uma batalha. E o comandante da Marinha já desertou após jurar lealdade a Vladimir Putin.
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Dinheiro
Manifestantes pró-Rússia participam de um comício na cidade de Simferopol, na região da Crimeia
Os caixas-eletrônicos da Crimeia ainda usam a hryvnia, moeda oficial da Ucrânia. O rublo também é pouco usado na região se comparado com dólares e euros. Os planos da Crimeia, contudo, são de fundar um banco central alinhado com a Rússia até abril deste ano, o que faria do rublo a moeda oficial. Em termos práticos, é provável que alguns bancos na Crimeia passem a aceitar somente rublos, enquanto outros continuarão usando a hryvnia até se adaptarem por completo. O Parlamento inclusive aprovou a permanência do dinheiro ucraniano como moeda oficial até 2016. Deixar de abastecer a Crimeia com a hryvnia também está fora de cogitação para a Ucrânia, pois isso iria afetar os cidadãos ucranianos que moram na região.
O vice-ministro de Finanças da Rússia, Sergei Shatalov, disse que existem planos para aprovar um regime de taxas especial para a Crimeia enquanto as autoridades se adaptam a novas leis e controles de impostos semelhantes aos usados na Rússia. Negócios e propriedades também terão de ser registrados conforme as regulamentações determinadas por Moscou. Além disso, a Rússia terá de investir de 1 a 3 bilhões de dólares por ano na região. O salário médio na Crimeia é de 240 dólares por mês, muito abaixo do que ganham os russos. Outra dificuldade será a manutenção das sanções que o Ocidente impôs a importantes figuras da república autônoma. Com o congelamento de passaportes e finanças, os negócios na região seriam fatalmente prejudicados.
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Água e energia
Militares russos montam guarda em Sebastopol, na Crimeia, a bordo um navio da Marinha
Entre 80 e 90% da água que abastece a Crimeia vem da Ucrânia. Não parece viável deixar de contar com os recursos em uma região de clima quente, verões secos e baixo índice pluvial. A Ucrânia, no entanto, comunicou que não tem interesse em cortar o abastecimento de água, uma vez que o fornecimento de gás natural do país depende da gigante estatal da Rússia, Gazprom. Qualquer atitude nesse sentido certamente provocaria uma retaliação por parte da empresa administrada pelo governo de Vladimir Putin.
A construção de um novo sistema de abastecimento de água financiado pela Rússia, que extrairia água do Rio Kuban, poderia ser uma alternativa, mas o projeto não seria barato e provavelmente levaria anos para ser concluído. Outro ponto de discussão reside no fornecimento de energia. Além de depender do abastecimento de gás da estatal ucraniana Chernomorneftegaz, as usinas de carvão da Crimeia só fornecem um terço de toda a energia elétrica consumida na região. Novamente a Rússia teria de arcar com a construção de toda uma nova infraestrutura na república autônoma.
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Recursos energéticos
Integrantes da marinha ucraniana observam um navio russo posicionado na baía de Sebastopol, na região da Crimeia
A obtenção de energia e água não seria o único problema para a Crimeia. A transição também pode significar problemas para o setor energético da Ucrânia. O Parlamento da região aprovou recentemente a privatização de usinas de gás mantidas na costa oeste pela estatal ucraniana Chernomornaftohaz, alegando que a anexação à Rússia implicaria a criação de uma "área continental e uma exclusiva zona econômica marítima". Isso poderia ser bastante problemático, já que a costa da Crimeia é cercada por ilhas e ilhotas.
Os mares Negro e Azov, que banham a costa da república autônoma, possuem ricas reservas de gás natural, o que possivelmente pode ser mais um foco de tensão. A CNN apontou que o governo em Kiev poderia até considerar a perda de algumas linhas comerciais de trem, mas não aceitaria em hipótese alguma ser privado da extração do gás e petróleo da região. Após o Parlamento da Crimeia aprovar a privatização da estatal ucraniana, o ministro da Justiça do país, Pavlo Petrenko, afirmou que a medida era "um roubo praticado por aquelas pessoas que dizem representar o pseudo-governo da Crimeia."
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Bandeira
Militares russos montam guarda no Aeroporto Internacional da cidade de Sebastopol, na região Crimeia
A bandeira ucraniana será abolida de vez na Crimeia. Carros de autoridades oficiais, como a polícia, terão de ser repintados para aderir à mudança de governo. A partir de agora, as cores nacionais serão o vermelho, branco e azul, as mesmas da bandeira russa, embora as flâmulas sejam ligeiramente diferentes uma da outra.
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Fuso horário
População comemora o resultado do referendo na Praça Lênin, localizada em Simferopol, capital da Crimeia
As autoridades da Crimeia já anunciaram que o fuso horário da região será alinhando no dia 30 de março com o de Moscou – duas horas a mais em relação ao horário de inverno da Ucrânia. Isso terá como resultado manhãs mais escuras em Simferopol. No primeiro dia do ano, o sol nasce às 7h22, pelo horário atual. Com o novo fuso, o sol passaria a surgir às 9h22.
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Alimentação
Funcionários de uma lanchonete assistem ao discurso do presidente russo Vladimir Putin sobre a anexação da Crimeia
A maior parte dos itens de alimentação e dos bens de consumo à disposição nos supermercados da Crimeia são fornecidos pela Ucrânia ou cruzam o seu território para chegar à região. O lucro obtido na república autônoma e a demanda dos consumidores provavelmente vão manter este fluxo, a menos que haja alguma ameaça à segurança dos fornecedores europeus na nova fronteira. Uma alternativa para se alcançar a Crimeia sem ser por terra se concentra no porto de Sebastopol. Mas isso encareceria os negócios para os comerciantes locais. Além disso, o porto precisa passar por uma modernização urgente. Um plano de 10 bilhões de dólares de uma empresa chinesa para reformar o local está ameaçado pelas sanções impostas à região.
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